Pró Universidade responde à demanda da Zona Leste por mais formação
Cerca de 900 estudantes iniciaram o curso Pró-Universidade oferecido pela USP Leste e pela Fundação Tide Setubal
Cerca de 900 estudantes iniciaram, no fim de agosto, o curso preparatório Pró-Universidade, oferecido pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), da Universidade de São Paulo — conhecida como USP Leste —, em parceria com a Fundação Tide Setubal. O curso colabora para o ingresso de alunos da rede pública de ensino da Zona Leste no ensino superior.
As aulas acontecem em três escolas públicas, situadas nos distritos de Ermelino Matarazzo, Itaim Paulista e São Miguel: Valace Marques, Armando Righetti e Hugo Takahashi. Os espaços foram concedidos pela Secretaria Municipal de Educação e pela Secretaria Estadual de Educação.
Por acreditar na educação e na cultura como eixos fundamentais para o desenvolvimento local, a Fundação Tide Setubal apoiou financeiramente a iniciativa e contribuiu para articulação dos diversos atores. “A parceria com a universidade colabora para o fortalecimento dos jovens, que por sua vez podem se tornar agentes de empoderamento da comunidade”, afirma a presidente da Fundação, Maria Alice Setubal.
No primeiro mês de atividades, o entusiasmo e o interesse dos alunos surpreendeu Patrícia Junqueira Grandino, professora da EACH-USP e integrante da coordenação do Pró-Universidade. “O projeto identificou a demanda da região por uma formação que possa impulsionar o ingresso no ensino superior. Agora, com o início das aulas, observamos que os estudantes respondem com assiduidade e muita dedicação”, conta a professora.
Aulas elogiadas
Hélio Inagak Thoti Gonçalves freqüenta o Pró-Universidade na escola Hugo Takahashi. Ele mora em São Miguel e está do último ano do ensino médio em escola pública. Hélio já havia desistido de fazer cursinho por não tem condições de arcar com os custos de uma instituição particular. “Quando soube dessa oportunidade, pensei: é minha chance”, conta o candidato a uma vaga no curso Lazer e Turismo, da USP Leste, no vestibular 2011.
Paulo Ferreira de Mendonça, técnico em raio-X, está cursando o Pró-Universidade para retomar os estudos e tentar uma vaga em ciências biomédicas. “Quero ampliar minhas possibilidades no mercado de trabalho”, observa. Tanto Paulo como Hélio destacam como principal ponto positivo a dinâmica das aulas, que inclui, por exemplo, experiências químicas para apropriação do conteúdo e entendimento de conceitos abstratos.
O desempenho dos professores também é motivo de elogios pelos alunos. “Eles respondem nossas questões por email ou na comunidade do Orkut e enviam listas de exercícios pela internet”, ressalta Beatriz Pereira Santos, moradora da Vila Matilde.
Retribuição social
As aulas do Pró-Universidade são ministradas por 39 alunos da graduação da Universidade de São Paulo, principalmente, da EACH. Eles são supervisionados por alunos da pós-graduação e professores, e participam de reuniões semanais para elaboração de estratégias de aula. Quinzenalmente, todo o grupo se encontra para novos planejamentos.
“A supervisão ajuda muito a preparar as aulas; a experiência como um todo agrega bastante em nossa formação”, relata Bruno Rodrigues Marques, do 3° ano da licenciatura em Ciência da Natureza, da USP Leste, que dá aulas de química, na escola Hugo Takahashi. O interesse de Bruno pelo projeto se relaciona com sua trajetória pessoal. “Sempre estudei em escola pública, moro na Zona Leste, fiz o cursinho da USP Leste em 2006 e vi que era a hora de eu dar minha retribuição”, lembra. A mesma motivação fez com que Fabiane Mendes de Almeida, estudante de Letras na USP Butantã, se inscrevesse para lecionar português. “Estou aqui para dar o meu máximo. Os alunos querem muito aprender e isso nos motiva ainda mais”.
Patrícia Junqueira analisa que os monitores — como são chamados os professores no Pró-Universidade — tem contribuído para diminuir preconceitos. “Ao compartilhar suas trajetórias, eles mostram aos alunos os caminhos possíveis para entrada na universidade. Também dão informação qualificada sobre carreira, vestibular e outros meios para que os candidatos possam acessar o ensino superior”.
Segundo a professora da EACH, a dificuldade não se resume apenas à defasagem nos conteúdos curriculares cobrados pelos exames. Há uma demanda por dados práticos, como isenção da taxa para prestar o vestibular. “Estamos ocupando uma lacuna nas comunidades. É importante garantirmos a iniciativa para que os jovens tenham mais chances de atravessar essa ponte.”
Paula Galeano, coordenadora geral da Fundação Tide Setubal, afirma que a intenção é manter a parceria no próximo ano e continuar a articular os diferentes atores dessa iniciativa: EACH-USP, Secretaria Municipal de Educação, Secretaria Estadual de Educação e comunidade. “O Pró-Universidade ajuda na complementação da educação escolar, auxilia nas escolhas profissionais dos jovens e, consequentemente, na entrada deles de modo mais qualificado no mercado de trabalho”, conclui,