Fundação Tide Setubal
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Secretário Executivo do Ministério da Cultura debate propostas com a comunidade

@Comunicacao

19 de maio de 2009
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Maria Alice Setubal, Tião Soares (centro) e Alfredo Manevy. (Fotos: Verônica Manevy)

A população de São Miguel Paulista participou no sábado, 16 de maio, no CDC Tide Setubal, do II Encontro Cultura e Sustentabilidade: Diálogos para Construção de um Projeto de Desenvolvimento Cultural. Alinhado ao foco da Fundação Tide Setubal sobre a centralidade da cultura para o desenvolvimento social e humano e a necessidade de seu entendimento como política por parte do poder público, o evento proporcionou um amplo debate com questões como a lógica do repasse de recursos, a necessidade de equipamentos culturais na Zona Leste a importância da capacitação de agentes.

 

Integrantes do Movimento Popular de Arte iniciaram a atividade com uma intervenção artística. Em seguida, sob a mediação de Maria Alice Setubal, socióloga e diretora-presidente da Fundação, e com a participação de Tião Soares, coordenador de projetos, o secretário executivo do Ministério da Cultura, Alfredo Manevy, focou sua exposição na importância de tratar a pasta da Cultura com estratégias de política pública. “A grande novidade desses últimos anos tem sido a presença da cultura na agenda política do país”, afirmou. 

Alfredo Manevy, secretário executivo do Ministério da Cultura, durante o II Encontro Cultura e Sustentabilidade.

Para exemplificar essa mudança de atitude no governo Lula, Manevy citou uma pesquisa encomendada ao IBGE e ao Ipea, com o objetivo de mapear a área de atuação do Ministério. Os dados levantados impressionam pela escassez: em média, apenas 10% dos brasileiros freqüentam cinemas, 8% vão ao teatro e 6% visitam museus e exposições de arte. “Essa exclusão de grande parte da população dos equipamentos culturais não significa que não tenhamos cultura”, explicou o secretário. “Na verdade, há um apartheid no acesso a bens e a serviços culturais. E garantir tanto o acesso como a produção cultural são missões complementares do Ministério.”

Ao longo de sua exposição, o secretário destacou, ainda, o entendimento da cultura em três dimensões. A primeira seria a simbólica, da sociedade, pela qual se reconhecem os patrimônios materiais e imateriais, todas as manifestações e o repertório cultural brasileiro. A cultura como direito e parte da cidadania resumiria a segunda dimensão: “a cultura não é um adereço, é um direito social universal”, explicou. Para completar, deve-se acrescentar a economia da cultura, ou seja, a área como negócio gerador de renda e que movimenta montantes consideráveis de recursos.

Mudanças à vista

Foi considerando essa concepção abrangente, que o Ministério da Cultura desenhou o Plano Nacional de Cultura (PNC) e o Sistema Nacional de Cultura (SNC), propostas do governo federal que incluem importantes mudanças no âmbito da criação e da administração de equipamentos culturais e na destinação de verbas para a produção cultural. “Com essas idéias, procuramos sistematizar o relacionamento e o repasse de recursos entre governos federal, estaduais e municipais de maneira lógica”, defendeu o Manevy. Ele garantiu que o objetivo principal do PNC é a legitimação e concretização de uma política pública, que transcenda governos e ministros, garantindo planejamentos de longo prazo.

Para o artista Sacha Arcanjo, que estava na platéia do evento, trata-se de uma mudança positiva. “O Plano está melhorando a situação; parece que veio para ficar, e assim as coisas andarão”, afirmou.

Na esteira do Plano, está uma proposta de alterações na Lei Rouanet, mecanismo de financiamento cultural que, nos últimos oito anos, permitiu injetar R$ 9 bilhões em projetos por renúncia fiscal de empresas. Enviada a consulta pública, a proposta recebeu mais de duas mil sugestões, que serão sistematizadas e incorporadas ao projeto final. De acordo com o secretário, é importante manter a renúncia fiscal, mas criando, paralelamente, outros mecanismos de incentivo, como o financiamento direto a pessoas físicas, além do que ele chamou de “mecenato privado” – por essa idéia, os recursos públicos da renúncia fiscal devem ser complementados por investimento privado.

Porém, para levar a cabo as mudanças no financiamento, o secretário reconheceu a necessidade de capacitar agentes culturais, problema levantado por Warny Santana, da subprefeitura de São Miguel, durante o debate que sucedeu a fala do secretário. Com Warny concordou Maria Alice Nassif, gerente adjunta de programas socioeducativos do Sesc-SP e uma das debatedoras do I Encontro Cultura e Sustentabilidade. “A formação de pessoas e a colocação delas para tocar programas é nossa maior dificuldade”, disse. “Temos de ter gente capacitada, envolvida, gente absolutamente seduzida pela causa da cultura.”

 

Warny Santana (esquerda)e Maria Alice Nassif durante o encontro.

No que se refere ao orçamento público, o secretário lembrou que está em trâmite uma Proposta de Emenda Constitucional, a PEC 150, que visa garantir um piso orçamentário vinculado para a cultura, de 2% do orçamento total do governo. “Não há política pública sem seu principal instrumento, que é o orçamento”, afirmou Manevy. “Temos uma possibilidade real de chegar a 2%, que seria um patamar de dignidade para pensarmos em políticas públicas.”

Memorial da Zona Leste

Durante a sessão de debates, e em conversas individuais com o secretário, antes e depois do evento, a comunidade cobrou a construção de equipamentos culturais para a região, como o Memorial de Cultura da Zona Leste. “Estamos há 30 anos na luta por um espaço que conte a história dos povos daqui”, reivindicou Luís França, integrante do movimento Nossa Zona Leste. O secretário disse estar à disposição para essa discussão e mencionou a possibilidade o projeto ser posto em prática por meio do programa Mais Cultura, do governo federal.

Uma apresentação da Folia de Reis de São Miguel encerrou o encontro. Antes, porém, houve o lançamento oficial da revista Cultura e Sustentabilidade. A publicação da Fundação Tide Setubal traz as exposições de Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc; Altair Moreira, assessor técnico-cultural do programa Fábricas de Cultura; e Maria Lucia Montes, professora de antropologia, participantes da primeira edição do Encontro, realizado em setembro de 2008, além do resumo do debate com a comunidade e uma lista de propostas concretas, surgidas nos grupos de discussão, para aprimorar as políticas públicas para a cultura. Com tiragem inicial de 1.000 exemplares, a revista será distribuída gratuitamente.

 

Resultado do primeiro encontro, a revista Cultura: Diálogos para o Desenvolvimento Humano foi distribuida aos participantes do evento.

A opinião de quem participou

Mais de 120 pessoas prestigiaram o II Encontro Cultura e Sustentabilidade, realizado no CDC Tide Setubal. Eram artistas, lideranças da área de cultura, educadores, estudantes, curiosos. Eles mostraram na prática do diálogo a importância da participação da comunidade em discussões que fazem história. A seguir, a observação de alguns dos presentes:

“Fico muito animada em ver o entusiasmo das pessoas. Mas temos de parar de falar no futuro. Nós queremos ações concretas.” Beatriz Segall, atriz, participa do GT de Cultura do Movimento Nossa São Paulo. 

 

“Nesse encontro com um secretário de Brasília aqui, sentimos a importância de morarmos em um lugar no qual não estamos isolados do país – temos felizmente um espaço aberto para discutir grandes questões da cultura. As informações foram úteis, ainda mais tendo em vista que dificilmente a imprensa detalha o assunto.”

Eduardo de Almeida Dantas, professor de história na Emef Dom Paulo Rolim Loureiro, integrante do Conselho Consultivo do CDC Tide Setubal e do CDC Baquirivu José Ermirio de Moraes Filho.

 

“Esse tipo de encontro é importante, pois os moradores do bairro que lidam com cultura podem ser os multiplicadores dessas informações para a comunidade local. Além disso, a presença de uma autoridade vem reforçar a vocação histórica de São Miguel Paulista de ser um pólo irradiador na promoção do desenvolvimento.” Sueli Kimura, educadora e presidente do Instituto de Pesquisa em Desenvolvimento Social e Humano (IPEDESH).

“Para as coisas acontecerem, é preciso que haja uma luta, um movimento reivindicando espaços culturais, parques e outras necessidades. Esses acontecimentos fazem com que as idéias tomem corpo.” Sacha Arcanjo, artista, membro do Movimento Popular de Arte. 


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