Jovens de São Miguel e Parelheiros se unem em acampamento literário
Representantes do MOBJovem — que integram projetos da Fundação Tide Setubal —, acamparam no Galpão do Jd. Lapenna junto com Escritureiros, entusiastas da literatura da zona sul da cidade, para integrar aprendizados
Durante 22 horas, representantes do MOBJovem — grupo formado por participantes de projetos da Fundação Tide Setubal, em São Miguel Paulista —, reuniram-se com integrantes dos Escritureiros, entusiastas da literatura, moradores do bairro de Parelheiros, extremo sul da cidade de São Paulo. Ao todo, esses 41 jovens, com idades entre 16 e 21 anos, participaram de uma programação especial, literalmente acampados no Galpão de Cultura e Cidadania do Jd. Lapenna. Chamada de Camp Literário, a atração foi uma das grandes novidades do Festival do Livro e da Literatura de 2012.
O encontro começou às 19h da quinta-feira, 8, e durou até as 17h da sexta, 9. Juntos, os 28 da zona leste e os 13 da sul refletiram sobre problemas de habitação das áreas onde moram, trocaram experiências sobre incentivo à leitura na comunidade, falaram de seus autores favoritos, cantaram, brincaram e integraram aprendizados.
“O intercâmbio possibilitou a troca de saberes e vivências, a partir de realidades que são diferentes e ao mesmo tempo semelhantes entre si”, avalia Viviane Soranso, do Programa Mundo Jovem, da Fundação Tide Setubal. Segundo ela, os meninos da zona sul são mais engajados nas questões relacionadas à literatura e à juventude, o que contribuiu para sensibilizar os jovens da zona leste a pensarem em ações no território. Ao mesmo tempo, os participantes de São Miguel Paulista compartilharam dinâmicas e ações dos projetos que frequentam e apresentaram um pouco da localidade onde vivem e atuam.
Cruzando a cidade de van
Victor Hugo, de 18 anos, já havia participado a edição 2011, fazendo cobertura de eventos pelo Projeto Intermídia, também promovido pela Fundação Tide Setubal. Nesse ano, sua missão era recepcionar os Escritureiros, já que havia visitado essa turma da zona sul no semestre passado. “Fui muito bem recebido lá; aprendi com eles e eles, com a gente. Por isso, preparamos uma apresentação de funk e pagode para descontrair o pessoal aqui no Camp.”
Duas vans, enviadas pela Fundação, cruzaram a cidade debaixo de chuva e sob trânsito intenso trazendo os Escritureiros. Após 4 horas e meia de viagem, aconteceram as boas-vindas e as devidas apresentações, com direito a lanche e jantar. Em seguida, a exibição de documentários do Entretodos (Festival de Curtas de Direitos Humanos) e uma encenação teatral de O Cortiço, de Aluísio Azevedo, inspiraram o grupo para um vibrante debate sobre habitação, com a presença de Walter Foster Júnior, coordenador da Comissão Municipal de Direitos Humanos de São Paulo. “Daí, veio à tona um problema de disputa de moradia com índios porque nosso bairro está numa Área de Proteção Ambiental”, conta Ketlin Aparecida da Silva Santos, de 16 anos, moradora da Barragem, na região de Paralheiros. “Todo o grupo resolveu comentar para saber como podemos ajudar nossos pais a resolver essa questão. Eu nem esperava falar disso. Foi muito produtivo.”
Na madrugada, as apresentações de funk e pagode embalaram as conversas, suscitaram canjas inesperadas e troca de ideias. O dia nasceu, e pouca gente tinha pregado os olhos. Logo pela manhã, o grupo se reuniu com a autora Suzana Montoro, no Ponto de Leitura do Jardim Lapenna, no Galpão. Os Escritureiros aproveitaram para compreender o processo de produção de um livro, do ponto de vista técnico e da autora, porque querem registrar sua história, que envolve um projeto de incentivo à leitura na localidade onde moram e a criação de uma biblioteca improvisada na área de um cemitério local.
Depois do almoço, os jovens menestréis seguiram em cortejo literário, tocando instrumentos musicais, declamando poemas e lendo textos no trajeto do Lapenna à Universidade Cruzeiro do Sul. Lá, nova rodada de debates na mesa Literatura em Movimento. Com a presença de representantes do governo municipal e estudiosos da literatura (leia mais aqui), estavam em foco estratégias e formas de apoio do poder público e da sociedade civil para o acesso, a promoção do hábito de leitura e a produção literária. “Adorei a oportunidade de conversar com pessoas que trabalham com projetos da cidade e saber que estamos na mesma estrada, lutando pelo mesmo ideal. No meio em que a gente vive, às vezes, parece que estamos sozinhos, de olhos vendados”, resumiu o escritureiro Rodrigo Silva Sousa, de 18 anos.