Incubadora de criatividade
Por Amauri Eugênio Jr. / Fotos: Agência Ophelia / Aupa Desde quando foi reinaugurado, em maio de 2019, o Galpão ZL vem se destacando, para além da cultura e da cidadania, por fomentar o crescimento de microempreendedores do Jardim Lapenna, na Zona Leste de São Paulo, e demais bairros no entorno. O local tem, entre […]
Por Amauri Eugênio Jr. / Fotos: Agência Ophelia / Aupa
Desde quando foi reinaugurado, em maio de 2019, o Galpão ZL vem se destacando, para além da cultura e da cidadania, por fomentar o crescimento de microempreendedores do Jardim Lapenna, na Zona Leste de São Paulo, e demais bairros no entorno. O local tem, entre outros recursos, espaço de coworking para profissionais colocarem em prática projetos voltados à transformação da realidade local. Por meio do Inova ZL, braço do núcleo de prática local voltado à inovação tecnológica, tem desenvolvido projetos para colocá-los em contato com quem já passou pela mesma situação que eles e consegue proporcionar melhorias onde vivem.
Uma destas iniciativas foi o 1º Fórum de Negócios de Impacto da Periferia na Zona Leste, evento que aconteceu em 17 de agosto e foi idealizado pela Anip (Aceleradora de Negócios de Impacto da Periferia) e A Banca; realização da Fundação Tide Setubal, Emperifa e do Bancadão, e o Portal Aupa como mídia oficial.
Durante o evento, microempreendedores da região do Jardim Lapenna puderam divulgar os seus respectivos trabalhos e entrar em contato com profissionais com ampla experiência quando se fala em empreendedorismo e inovação. E, no decorrer do dia, o público pôde conferir palestras sobre diversos temas dentro do tema principal – ou seja, tecnologia, inovação e negócios com alto poder de impacto social.
Matheus Cardoso, do Moradigna, e Fabiana Ivo, do A Banca, falam com o público sobre negócios de impacto (Agência Ophelia / Aupa)
Afinal, como a inovação pode fomentar transformações?
O 1º Fórum de Negócios de Impacto da Periferia na Zona Leste começou com um lembrete importante ao público presente: inovação e empreendedorismo caminham de mãos dadas com o poder de transformar para melhor vidas de comunidades inteiras. O recado foi dado por meio de intervenção feita pelo escritor Andrio Candido e pela poeta Nathielly Janutte, cuja apresentação ressaltou como desigualdades socioeconômicas e culturais afetam, de modo significativo, as vidas de moradores de territórios periféricos, inclusive o Jardim Lapenna.
Na sequência, Matheus Cardoso, do Moradigna, Fabiana Ivo, diretora pedagógica do A Banca, e Débora Luz, coidealizadora do Clube da Preta, falaram sobre empreendedorismo e transformação social a partir das suas respectivas vivências. Cardoso ressaltou, inclusive, que qualquer projeto deve levar em conta o que a população local tem a dizer para poder, de fato, ser transformador. “Quem vai vir aqui para desenvolver algo e dizer que é a melhor solução para a gente? Se o processo não for minimamente cocriado, não haverá solução para nós.”
Débora Luz seguiu a mesma linha, ao ressaltar que um negócio de impacto tem poder de transformação em territórios periféricos quando ajuda os moradores dali a ressignificar conceitos que eles tinham sobre o local onde vivem e até mesmo sobre si próprios. “Negócio de impacto na periferia é transformar aquilo o que a pessoa não via como uma grande potência, mas o que a gente via como tal, e fazê-la ser remunerada e viver dignamente por meio do que ela faz.”
Para Fabiana Ivo, é necessário que empreendedores à frente de negócios de impacto em territórios periféricos passem a ter protagonismo para poderem converter os seus objetivos em produtos concretos. “A gente precisa se apropriar, pois é sempre o outro dizendo sobre a gente em muitas vezes”, ressalta. E é justamente o espaço de fala o aspecto representado pela diretora pedagógica do A Banca. “A quebrada não se faz, pois a gente não está nos espaços de discussão e tem sempre gente falando pela gente. E é isso o que a gente quer interromper por meio dos negócios de impacto da periferia.”
O público confere uma das mesas do 1º Fórum de Negócios de Impacto da Periferia na Zona Leste (Agência Ophelia / Aupa)
Após o bate-papo do trio com o público, quem compareceu ao Galpão ZL para acompanhar o evento pôde optar por três grupos, os quais acompanharam três mesas com os seguintes temas: “Investimento, formação e conexões para fortalecer o empreendedorismo social na ZL”, “Criatividade como fator estratégico nos negócios periféricos” e “Oficina de comunicação de impacto na quebrada”.
O público pôde também ter contato com informações de origens e perspectivas variadas, mas que terão utilidade para os próximos passos que forem dar. A começar pelo fato de que a vivência e as características das regiões central e periférica têm diferenças importantes entre si, como lembrou Edson Leite, chef e idealizador do projeto Gastronomia Periférica. “A vida na maior metrópole da América do Sul é tudo, menos uniforme, pois o núcleo da cidade e a periferia são dois mundos separados. Estamos vivendo outro processo dentro disso. A tecnologia social não está ligada a um computador ou a um aplicativo, mas está associada ao que você pensa, imagina e controla.”
Oportunidades para todos
Greta Salvi, coordenadora de inovação e empreendedorismo da Fundação Tide Setubal, considera que o fato de boa parte dos negócios de impacto estar concentrada na área central de São Paulo, como nos casos de Pinheiros e Vila Madalena, está relacionada às oportunidades e aos privilégios que tais pessoas tiveram, como estudar fora e ter acesso a recursos diversos, inclusive. “O que a gente está tentando fazer, obviamente em uma escala muito pequena ainda, é mostrar ao mundo que isso é possível, é propor igualdade de oportunidades ao, por exemplo, identificar quais são as necessidades dos empreendedores para poderem propor esses negócios, como o acesso a recursos, à rede, capacitações, e apoio técnico.”
O objetivo é, por fim, desenvolver um contexto voltado à criação de negócios e projetos de impacto na região do Jardim Lapenna. “O que a gente está tentando fazer segue um pouco dessa linha e, principalmente, tanto na perspectiva de gerar desenvolvimento em âmbitos pessoal, individual e coletivo, e o quanto isso pode impactar positivamente no território onde a gente atua no Lapenna e na ZL ampliada”, completa Salvi.
Empreendedores divulgam produtos durante o 1º Fórum de Negócios de Impacto da Periferia na Zona Leste (Agência Ophelia / Aupa)
Maratona do desenvolvimento
Em paralelo, o Galpão ZL irá sediar o hackathon do projeto “Soluções urbanas no Jardim Lapenna”. Desenvolvido pelo Inova ZL, a iniciativa consiste em maratona de 48 horas, a qual acontecerá em 30 de novembro e 1º de dezembro, quando acontecerão diversas atividades práticas para o desenvolvimento de projetos de impacto e poder importante de transformação para o território do Jardim Lapenna. Vale dizer que, durante o evento, as equipes participantes receberão mentorias e orientações para trazerem as suas ideias para o mundo real.
Para Greta Salvi, iniciativas como esta são voltadas à formação de profissionais cujas especialidades tenham a ver com inovação. “Procuramos estimular essas pessoas por meio de eventos, para apoiá-las a tirar as suas ideias do papel, assim como dar a elas estrutura para implementá-las. O que pensamos para o hackathon caminha nesse sentido, que é seguir junto a elas.”
Por fim, os projeto serão avaliados por uma banca julgadora e, como prêmio, os três projetos serão incubados e receberão apoio da Fundação Tide Setubal para poderem se estruturar e colocar o potencial de impacto e de transformação que têm em ação.
Para quem está interessado e quiser participar do hackathon, o projeto conta com três eventos de aquecimento. O primeiro, que aconteceu em 26 de setembro e foi realizado na FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da Universidade Presbiteriana Mackenzie, teve como tema “Urbanismo para Todos” e abordou soluções urbanísticas para a melhoria da qualidade de vida da população de territórios periféricos, com foco no cotidiano do Jardim Lapenna.
Os outros dois eventos de aquecimento para o hackathon acontecerão na Unicsul, com o tema “Comunicação comunitária para interligação do bairro”, e na EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades), da USP, que abordará inovação e tecnologia por meio de estudo sobre a Zona Leste.
As inscrições para o hackathon poderão ser feitas aqui.