A luta de Leci Brandão em prosa, verso, samba e ativismo político
Em entrevista ao podcast ‘Escuta as Mais Velhas’, Leci Brandão, cantora e deputada estadual por São Paulo fala sobre sua trajetória na música e na política
“Quando eu olho as senhoras lá na Assembleia varrendo os corredores, eu me lembro muito da minha mãe.”
Esta declaração de Leci Brandão, referência e sumidade do samba e deputada estadual por São Paulo, deu o tom do seu diálogo com Maria Alice Setubal, presidente do Conselho Curador da Fundação Tide Setubal, e Sueli Carneiro, filósofa e ativista, coordenadora executiva do Geledés – Instituto da Mulher Negra, durante o episódio do podcast Escute as Mais Velhas do qual foi protagonista.
O contexto desta fala foi a descrição de quando ela chegou à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) para cumprir o seu primeiro mandato. “Pude perceber como é essa coisa de tratar o pessoal dos serviços gerais, pois existem parlamentares que, em hipótese alguma, andam no elevador. Para os funcionários, principalmente de serviços gerais, o elevador é separado – e há os exclusivos para os deputados. E eu lembro muito da minha mãe”, explica.
A comparação não foi meramente retórica, pois dialoga com a própria trajetória de Leci Brandão. Sua mãe trabalhara por anos como servente escolar e presenciar tal abismo na Alesp levou a artista a relembrar sua própria história.“Já desde cedo começamos a perceber as diferenças. Tem gente que não dá atenção ou bom dia, tampouco não pede por favor. Isso porque a pessoa é servente de escola.”
Sobre honrar o passado para construir o futuro
A caminhada musical de Leci Brandão, que foi marcada por uma série de afirmações – relativas a raça, gênero, orientação sexual e origem -, foi o seu motor para a atuação política.
Nesse sentido, antes mesmo de entrar para a vida parlamentar, a sua existência e a sua trajetória artística já eram políticas. Para além de ser quem é – mulher negra LGBTQIAP+ e de trajetória periférica -, a artista, ativista e parlamentar cresceu em meio à ditadura militar. Isso significou, entre outras coisas, ter músicas de sua autoria censuradas.
E foi esse arcabouço pessoal e profissional que ela levou para a construção do seu mandato na Alesp. “No dia em que fui eleita, em 2010, peguei todos os meus LPs, botei em cima da mesa e fui vendo tudo que eu cantei que deu confusão e foi censurado. Eu falei: ‘serei deputada para honrar tudo isso aqui o que escrevi. E foi assim que formei a minha plataforma’”, detalhou.
Para dar play e maratonar
Ouça a íntegra do episódio com Leci Brandão no feed do podcast Escute as Mais Velhas. Por fim, maratone também os outros episódios que compõem a primeira temporada do programa.
Texto: Amauri Eugênio Jr
