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Qual é a relação entre credibilidade da imprensa e defesa da democracia?

Quando se fala em ataques contra instituições democráticas, as tentativas de minar a credibilidade da imprensa logo vêm à tona. Não por acaso, episódios marcados por ataques e tentativas de cooptação de veículos de imprensa, assim como academia e sistema judiciário, estão na ordem do dia de atores antidemocráticos e com aspirações totalitárias.

 

Segundo a 13ª edição do estudo Digital News Report, do Reuters Institute, que mapeou 47 mercados de seis continentes – ou seja, 46 países e o Reino Unido -, o patamar médio de crença no trabalho jornalístico é de 40%. Nesse sentido, o país com o maior percentual é a Finlândia, com 69% – o país conta com bem-sucedido programa de educação midiática. Na contramão, Hungria e Grécia têm, respectivamente, 23% – o país húngaro é, inclusive, case de “cupinização” das instituições democráticas, inclusive a imprensa.

 

Além disso, somente 22% das pessoas respondentes do levantamento afirmaram considerar sites ou aplicativos jornalísticos como as principais fontes de notícias online. Entretanto, dois terços das pessoas entrevistadas (66%) afirmaram consumir vídeos curtos com caráter pretensamente noticioso a cada semana, ao passo que formatos mais longos atraem 51% do público. Ainda, o consumo nesse contexto abrange 72% em plataformas de vídeo.

 

Outro ponto emblemático quando se fala nos níveis de credibilidade da imprensa abrange a percepção sobre o que é fato ou falso. Segundo o mesmo estudo, a proporção de pessoas preocupadas com o que é real ou inverídico no ambiente online chegou a 59%. A saber, os segmentos a seguir correspondem aos temas sobre os quais as pessoas respondentes do levantamento viram conteúdos enganosos ou descontextualizados:

 

 

  1. Política: 36%
  2. Covid-19: 30%
  3. Economia e custo de vida: 28%
  4. Conflito Israel-Palestina: 27%
  5. Guerra na Ucrânia: 24%
  6. Mudanças climáticas ou meio ambiente: 23%
  7. Imigração: 21%
  8. Outras questões de saúde: 18%

 

Território nacional

A polarização política e os sucessivos ataques contra instituições de freios e contrapesos, assim como contra jornalistas e canais, refletiram no nível de credibilidade da imprensa. De acordo com o estudo do Reuters Institute, 47% das pessoas ouvidas no Brasil afirmaram que evitam consumir conteúdos jornalísticos. No entanto, 19% afirmaram pagar e fazer assinaturas para consumir tais conteúdos.

 

Além disso, 43% acreditam no trabalho jornalístico. Ainda que este percentual esteja inferior da metade, trata-se dos maiores níveis de crença na imprensa entre os países latino-americanos que participaram do estudo. Como efeito de comparação, o nível de crença no trabalho jornalístico é de 30% na Argentina. Ainda, esses patamares são de 32% no Chile; 34% na Colômbia e 35% no Peru.

 

Logo, questionamentos sobre quais são os caminhos possíveis para se aumentar o nível de credibilidade da imprensa e no trabalho jornalístico propriamente dita vêm à tona. Nesse contexto, o primeiro passo consiste em reverter tendência segundo a qual o público jovem se distancia continuamente do trabalho de veículos de comunicação. Nesse sentido, diversos estudos, inclusive o do Reuters Institute, apontam para o consumo cada vez maior de materiais com linguagem específica para as redes sociais, como TikTok, Instagram e YouTube.

 

“Precisamos atrair e trazer de volta a pessoa jovem que se informa via plataformas e redes sociais e deixou de consumir informações vindas do jornalismo, produzidas por profissionais ou por veículos de comunicação estabelecidos. O distanciamento do público jovem em relação ao consumo de matérias produzidas por jornalistas profissionais, que seguem critérios, métodos estabelecidos, com ética e responsabilidade, está cada vez maior”, pondera Patrícia Blanco, presidente executiva do Instituto Palavra Aberta, organização atuante na promoção e defesa da liberdade de expressão, acesso à informação e educação midiática.

 

Demais caminhos possíveis

Ainda quando se fala em maneiras para resgatar a credibilidade da imprensa, um aspecto inescapável compreende a representatividade. Nesse contexto, um ponto de destaque é a adoção de alternativas para reverter a sub-representação da população negra e de demais segmentos socioculturais em redações jornalísticas.

 

“Ver-se representado em quem escreve, em quem é entrevistado e nos temas das reportagens faz as juventudes negras terem mais referências e entenderem que há outras possibilidades além do que a mídia hegemônica oferece. E, portanto, se sintam mais fortalecidas e motivadas a se engajar politicamente, bem como mais seguras ao escolher entrar no jornalismo”, ressalta Beatriz de Oliveira, jornalista do site Nós, Mulheres da Periferia.

 

A fala de Beatriz de Oliveira sobre o papel de veículos independentes dialoga com outro ponto apresentado por Patrícia Blanco. No caso, trata-se da profusão de sites com esse teor. Isso é relevante pelo fato de, inclusive, eles tornarem visíveis áreas que são pouco cobertas por veículos hegemônicos – que optam, inclusive, por noticiar aspectos em âmbito macro.

 

“A diversidade, pluralidade e quantidade de novos veículos que surgiram por conta da possibilidade de baixo investimento proporcionado pela tecnologia permitem haver cobertura muito mais ampla de questões antes invisibilizadas pela grande imprensa. Esse é, pois, o lado muito positivo desse novo sistema informacional com o qual estamos”, destaca.

 

Por fim, Beatriz de Oliveira traz outra dimensão para a busca por novos caminhos para resgatar a credibilidade da imprensa com parcela significativa da população. Isso diz respeito à abordagem por meio da empatia. “Procuro me colocar no lugar da pessoa leitora e entender se o que escrevi não está chato ou cansativo. Acredito que usar esse tipo de estratégia aproxima leitoras e leitores jovens do debate sociopolítico, pois os inclui nesse debate.”

 

 

Texto: Amauri Eugênio Jr. / Foto: Burst / Pexels

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