Analista de comunicação e produtor de conteúdo do site da Fundação Tide Setubal
A periferia está no circuito da literatura
Texto e fotos: Amauri Eugênio Jr. A segunda temporada do Clipe (Circuito Literário nas Periferias), iniciativa da Fundação Tide Setubal voltada ao fomento de atividades literárias em territórios periféricos, começou em julho de 2019, quando o escritor e músico angolano Kalaf Epalanga falou sobre o seu livro Também os Brancos Sabem Dançar, […]
Texto e fotos: Amauri Eugênio Jr.
A segunda temporada do Clipe (Circuito Literário nas Periferias), iniciativa da Fundação Tide Setubal voltada ao fomento de atividades literárias em territórios periféricos, começou em julho de 2019, quando o escritor e músico angolano Kalaf Epalanga falou sobre o seu livro Também os Brancos Sabem Dançar, a sua trajetória na banda de kuduro Buraka Som Sistema e aspectos variados sobre produções culturais periféricas, com destaque para a necessidade de atores culturais das periferias valorizarem os trabalhos que eles mesmos produzem.
Esse pontapé inicial foi sucedido de diversas atividades, que consistiram em encontros literários em centros culturais nas periferias – zonas Leste, Norte, Noroeste e Sul – e no Centro, nos quais houve discussões sobre obras, conversas com autores periféricos, saraus e apresentações musicais. Ainda, houve também a formação Pedagogia dos Saraus, ministrado pelo educador e escritor Rodrigo Ciríaco, do qual participaram professores da rede pública de ensino atuantes na Zona Leste de São Paulo, cujo encerramento foi em 4 de outubro.
Para Márcio Black, coordenador de mobilização social e de redes da Fundação Tide Setubal, o Clipe tem papel estratégico por trabalhar em aspectos diversos em favor da formação de leitores e também pela garantia de recursos para iniciativas que acontecem nas periferias. “A gente tem atividades dentro das escolas com papel na formação de letramento complemento à alfabetização com crianças e adolescentes. Quando a gente fala de saraus e de clubes de leitura, os papéis dessas atividades dizem respeito à formação de público leitor de literatura – poesia, prosa e por aí vai.”
Kalaf Epalanga durante evento na Ocupação Cultural Mateus Santos (Amauri Eugênio Jr.)
Circuito internacional
Além das atividades de formação que compõem o Clipe, o projeto contou também com participações especiais. Em 4 de outubro, o escritor angolano Kalaf Epalanga, que esteve presente na abertura do Clipe, voltou ao Brasil – e ao circuito – para participar de bate-papo com agentes culturais e com a comunidade de Ermelino Matarazzo, na Ocupação Cultural Mateus Santos.
Durante o evento, que contou com mediação do designer e ilustrador Oga Mendonça, Kalaf falou sobre diversos aspectos relacionados à produção cultural e à sua trajetória, seja por meio do estilo textual presente em artigos escritos para veículos portugueses, como GQ e Público, no livro Também os Brancos Sabem Dançar, assim como em suas influências musicais e o seu trabalho no Buraka Som Sistema. Epalanga mostrou também ao público trechos do documentário Off the Beaten Track, road movie do qual os integrantes do Buraka Som Sistema foram protagonistas.
Felipe Soares faz leitura dramática de carta de Nelson Mandela durante bate-papo com Zamaswazi Dlamini (Amauri Eugênio Jr.)
Por fim, em 6 de outubro, Zamaswazi Dlamini, neta de Nelson Mandela, participou do encerramento da primeira edição do Festival Mário de Andrade – A Virada do Livro. O encontro, que contou com copatrocínio da Fundação Tide Setubal e foi realizado na Praça das Artes, teve também presenças de Sahm Venter, responsável pela organização da correspondência do eterno líder sul-africano, lançadas no livro Cartas da Prisão de Nelson Mandela; do ator Felipe Soares, que fez leituras de trechos de cartas escritas por Madiba enquanto esteve na prisão; e mediação feita pela historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz.
Durante o evento, Zamaswazi Dlamini falou sobre as diversas maneiras como a prisão de Mandela repercutiu e influenciou as vidas dos membros de sua família. Ela abordou também, de acordo com a sua própria perspectiva, a luta política de seu avô foi – e continua a ser – inspiradora como um símbolo de resistência contra regimes políticos que colocam a democracia em risco.
Não por acaso, Dlamini destacou, durante o evento, que valores relacionados à defesa dos direitos humanos, da liberdade e da equidade devem estar sempre à frente no contexto político. “Cada um de nós deve ensinar às nossas crianças sobre a importância destes valores, pois eles ajudam a combater o mal que existe à nossa volta. Esse é o motivo pelo qual as palavras de Nelson Mandela são tão importantes, pois não é porque elas são relativas a algo que ocorreu em certa época que não são mais válidas: elas são universais, eternas e devemos continuar a luta para defendê-las.”
Próximos passos
Acompanhe as próximas etapas do Clipe, inclusive o Festival do Livro e da Literatura de São Miguel, no site da Fundação Tide Setubal e nos perfis da fundação no Facebook e no Instagram.
Fique ligado também na edição 2019 do Festival do Livro e da Literatura de São Miguel, cujo tema é “Identidade, territórios e expressão dos povos”, que acontecerá entre 4 e 8 de novembro. Saiba detalhes aqui e confira neste link a programação completa.
Amauri Eugênio Jr.