Arun Gandhi indica caminhos para promover a paz pela educação
Em visita ao Brasil, ele participa de diálogo intergeracional com estudantes e docentes, no Galpão de Cultura e Cidadania, em São Miguel Paulista, e apresenta o legado histórico de seu avô, o pacifista Mahatma Gandhi
A filosofia da não violência deu a tônica do encontro de adolescentes, jovens e educadores com o ativista Arun Gandhi, de 78 anos, neto do pacifista indiano Mahatma Gandhi (1869-1948), no sábado, 30 de junho, em São Miguel Paulista. Radicado nos EUA, Arun veio a São Paulo a convite do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS). A roda de conversa, com cerca de 280 presentes, foi uma iniciativa conjunta do IDS, da Fundação Tide Setubal e do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec).
Realizado no Galpão de Cultura e Cidadania do Jardim Lapenna, o diálogo contou com tradução simultânea e transmissão ao vivo pela internet. Primeiramente, todos assistiram a um trecho do vídeo Diálogos intergeracionais, criado como parte das atividades de um grupo de jovens da região para a Rio+20 (leia notícia aqui). Após a projeção, o telão passou a exibir uma pergunta inspiradora para os debates coletivos: Educar para a não violência e sustentabilidade: é possível?.
O ativista mostrou que sim ao contar episódios da convivência com seu avô e destacar quatro perspectivas de sua proposta: a necessidade de a escola ensinar a partir das questões do dia a dia; a propagação do aprendizado como um contínuo, que vai além da obtenção de certificados; a não punição de maneira violenta; e o estabelecimento de relações respeitosas com o outro e com as coisas da criação.
Novas sementes
Após a exposição de Arun, os presentes se organizaram para discutir e expressar as ideias despertadas. Karen Cristine, de 11 anos, da EMEF José Honório Rodrigues, de São Miguel, resumiu o pensamento de seu grupo: “Estamos dispostos a compartilhar nossos conhecimentos na busca da paz e da sustentabilidade, sendo bons exemplos todos os dias”. Arun comentou as conclusões da plateia e respondeu a perguntas.
Para Marli Viana da Cruz, coordenadora pedagógica da José Honório, o evento foi inesquecível: “Nossos alunos ficaram encantados”. Maria Cristina Antoniak, coordenadora na mesma escola, acredita ser possível trabalhar qualquer assunto pelo currículo escolar: “Temos de disseminar as sementes trazidas por essa conversa. A educação é o caminho para reverter, por exemplo, a tendência da sociedade para o consumo e para a individualidade. Com a abertura para a diversidade, a coisa acontece. Porém, é preciso passar para os professores esse tipo de entendimento.”
Além de integrantes da José Honório, a plateia foi formada por alunos da EMEF Armando Cridey Righetti e da E.E. Reverendo Urbano de Oliveira Pinto. Participaram, ainda, integrantes do Programa Jovens Urbanos, do Cenpec; do Instituto BM&F; de dois Centros Maristas; do Projeto Oca, ligado aos institutos Alana e Crescer; da ONG Viva Leste; da ONG Acaleô – Vila Itaim; da Associação Jd. Mara Helena; do Instituto Nova União da Arte; e da Comissão de Juventude do Galpão de Cultura e Cidadania do Jd. Lapenna.
No encerramento do encontro o ator João Signorelli apresentou um trecho do espetáculo Gandhi, um líder servidor. Há nove anos ele encena esse monólogo, caracterizado como Mahatma, durante o qual narra reflexões e princípios e lê cartas deixadas pelo pacifista indiano.
Segundo Paula Galeano, coordenadora geral da Fundação Tide Setubal, além de trazer ensinamentos de um dos maiores símbolos mundiais da paz, o evento permitiu um debate importante. “Pudemos refletir sobre educação com a comunidade e constatar que a Fundação comunga dos mesmos princípios apresentados por Arun, como a valorização da diversidade, da tolerância e da não violência.” Para Wagner Santos, coordenador do Programa Jovens Urbanos, do Cenpec, “encontros assim são essenciais para a consolidação da formação da juventude e contribuem para uma sociedade mais justa e solidária”.
Alexandra Reschke, secretária executiva do IDS, destacou que a união de mundos — o de Gandhi e o da comunidade da zona leste — inspira todos a perceber que a mudança está em nossas mãos. “Na medida em que resgatamos a fé de que é possível, podemos trazer a paz para nossas relações, para o cotidiano da sala de aula, para a formação das crianças. Quando nos encontramos no sonho de mudar, o mundo muda, sim.”
Leia aqui histórias contadas pelo ativista Arun Gandhi durante sua visita a São Miguel Paulista.
Fotos (Julio Vilela)