Analista de comunicação e produtor de conteúdo do site da Fundação Tide Setubal
Coletivos artísticos transformam ruas de São Miguel em espaços de livre expressão
Durante o Festival do Livro e da Literatura de São Miguel, que aconteceu de 25 a 27 de outubro, as ruas do bairro ganharam vida com intervenções de artistas e coletivos culturais atuantes na zona leste e em outras regiões da capital. “Nossa intenção é contribuir para que os espaços públicos voltem a ser lugares […]
Durante o Festival do Livro e da Literatura de São Miguel, que aconteceu de 25 a 27 de outubro, as ruas do bairro ganharam vida com intervenções de artistas e coletivos culturais atuantes na zona leste e em outras regiões da capital. “Nossa intenção é contribuir para que os espaços públicos voltem a ser lugares da livre expressão da vida social e da sociabilidade”, disse Tião Soares, coordenador de Cultura da Fundação Tide Setubal, organizadora do evento. “As intervenções formaram itinerários literários. Em nosso corredor, a rua não é o lugar da cultura da pressa, mas sim do intercâmbio e da troca de saberes”, complementou.
A abertura do Festival não poderia acontecer em outro espaço. Um cortejo literário tomou as ruas, perfazendo o contorno da Praça Fortunato da Silveira (Morumbizinho). À frente, uma charrete abria os caminhos. Na sequência, vinha o público, algumas pessoas seguravam tochas para iluminar o trajeto. O som da marcha ficou sob o comando da fanfarra da Escola Dom Paulo. Os moradores saíram de suas casas para conferir o que estava acontecendo e se juntar ao cortejo. Ana Flávia de Faria estava chegando do trabalho, quando notou a movimentação. “Quis participar da festa. Chamei minha amiga, e trouxemos nossos filhos”, disse.
Poesia ao pé do ouvido
Também no primeiro dia do Festival, na terça-feira (25/10), no Calçadão Serra Dourada, os transeuntes foram surpreendidos com a invasão de polvos poéticos. Com seus tentáculos, o artista-polvo envolvia quem passava na rua e oferecia, ao pé do ouvido, poemas de Fernando Pessoa, de seu heterônimo Álvaro de Campos e de Florbela Espanca. “Estava passando triste por aqui. Ouvi a poesia e comecei a sorrir”, relatou Sonia Maria, cabeleireira.
Na parada de ônibus próxima à estação de trem da CPTM, moradores que aguardavam a condução recebiam uma proposta: quer ouvir uma história? Convite aceito, bastava escolher, então, uma palavra escrita guardada dentro de um saco e viajar pelo conto narrado por Vivian Catenacci e Leila Terra, contadoras de histórias.
No segundo dia, em frente à estação, o público pode assistir a esquete circense e a outras apresentações. Na quinta-feira (27/10), a intervenção da Trupe Arruacirco atravessou o Calçadão. Intitulada Protesto, ela mesclava poesia, encenação e música. “A ideia foi inserir uma voz no meio do barulho da rua e chamar atenção para o quanto as vozes estão sufocadas”, explicou Daniel Marques.
Já a calçada do tradicional Mercadão recebeu a leitura dramática do Coletivo Marginaliária e a música com declamação de poemas dos artistas locais, Guiberto Genestra, Santiago Dias e Zulu de Arrebatá. Também ocupou este espaço a dupla de repentistas Adão e João. “Com essa cantoria, viajo de volta para minha terra”, falou Claudionor Pereira da Silva, que nasceu no Rio Grande do Norte e deu uma paradinha para apreciar o repente.
Autores de suas histórias
Teve ainda uma intervenção que mostrou como os moradores são também narradores. O Coletivo Pi, da zona norte de São Paulo, instalou uma sala de estar no meio do Calçadão Serra Dourada. Os transeuntes eram convidados a sentar na poltrona e a conhecer as histórias recolhidas pelo grupo a partir do relato dos moradores durante o Festival de 2010. “Foi muito interessante retornar a São Miguel e devolver ao bairro e aos moradores seus relatos. Quem parou no local reconheceu naquele espaço e como autores de suas histórias de vida”, disse Pâmella Cruz, integrante do grupo.