Analista de comunicação e produtor de conteúdo do site da Fundação Tide Setubal
Dando cores e traços à imaginação
Texto e fotos: Amauri Eugênio Jr. Crianças, lápis e qualquer plataforma branca resultam em uma combinação cujo resultado é uma explosão de criatividade. OK, quando se trata de uma parede branca, a reação inicial é de espanto, mas quando folhas de sulfite entram na história, o resultado é fascinante. Afinal, o resultado obtido […]
Texto e fotos: Amauri Eugênio Jr.
Crianças, lápis e qualquer plataforma branca resultam em uma combinação cujo resultado é uma explosão de criatividade. OK, quando se trata de uma parede branca, a reação inicial é de espanto, mas quando folhas de sulfite entram na história, o resultado é fascinante. Afinal, o resultado obtido após a criançada colocar a mão na massa mostra que a imaginação delas não tem limites.
Por outro lado, quando se fala em histórias em quadrinhos, o senso comum nos induz a pensar que é necessário desenhar muito bem para poder contar histórias interessantes, mesmo que não exista nenhuma regra que fale sobre isso.
Pois bem, o incentivo ao exercício à criatividade e a quebra da lenda urbana sobre a obrigatoriedade para desenhar bem deram o tom da oficina de HQ, que a ilustradora e quadrinista Helô D’Angelo deu no Galpão ZL, núcleo de prática local da Fundação Tide Setubal, no Jardim Lapena, durante o Festival do Livro e da Literatura de São Miguel. Como era de se esperar, a empolgação da garotada era evidente.
Após a atividade com a garotada, D’Angelo conversou a respeito da oficina que havia ministrado. Para ela, as crianças participantes estavam abertas a aprender e a entrar na dinâmica do evento, mas se mostraram um pouco resistentes à quebra do paradigma sobre mandar bem ao desenhar – o que, de acordo com ela, é algo difícil de ser quebrado, em especial em um único encontro. “Senti que, no fim das contas, o importante era contar histórias e não necessariamente o desenho. Acho que isso se expande para além do desenho: o lance de tentar fazer tudo perfeitamente, ser perfeccionista, é algo que tento quebrar, especialmente para crianças. Para se fazer algo benfeito, a gente não precisa mirar no perfeito, mas sim em fazer algo bacana e que faça sentido.”
Helô D’Angelo fala sobre HQs com os alunos da atividade (Amauri Eugênio Jr.)
Desenhando o futuro
Um ponto que veio à tona durante a entrevista com Helô D’Angelo tinha relação geográfica: a região de São Miguel Paulista, onde o Galpão ZL está situado, tem carências significativas em comparação com áreas da região central de São Paulo, inclusive no que diz respeito a equipamentos públicos e projetos voltados à cultura – o Mapa da Desigualdade 2019, feito pela Rede Nossa São Paulo, destaca esse aspecto.
Logo, a deficiência na quantidade de locais voltados à prática cultural induz as crianças que vivem na região a acreditarem que atividades – e profissões, por que não (?) – com viés artístico estão longe das realidades em que elas vivem. E ter contato com atividades como a de produção de HQs pode dar uma nova perspectiva para elas. “Talvez elas pudessem achar que [desenhar e criar HQs] era muito distante para elas quando, na verdade, basta para elas pegar um papel, uma folha e dar vazão à imaginação. Ouvir o que elas criaram e que elas gostaram foi incrível”, pontua a artista.
Crianças entretidas com a atividade (Amauri Eugênio Jr.)
Por fim, quando outro ponto que veio à tona durante a conversa com Helô D’Angelo remete ao senso de inferioridade que pode ser desenvolvido em qualquer adolescente: o medo de julgamentos por diversos motivos, inclusive por não desenhar em conformidade com o senso estético de algumas pessoas, faz a pessoa limitar-se e a duvidar do próprio potencial. “Ou seja, se uma pessoa te falar ‘ah, você não desenha bem’, você começa a parar de desenhar, pois acha que não é [boa para fazer] aquilo – e eu estive muito nessa situação. Quando eles deram vazão à criatividade e se empenharam, eu me vi neles”, finaliza a artista.