Analista de comunicação e produtor de conteúdo do site da Fundação Tide Setubal
Em sua sétima edição, Festival do Livro e da Literatura de São Miguel debate feminino, feminismo e questões de gênero na produção literária
Entre os dias 9 e 11 de novembro, aconteceu o 7º Festival do Livro e da Literatura de São Miguel, que ocupou 47 espaços da região. Com o tema Narrativas de Gênero: feminino, feminismo e outras histórias, o encontro debateu, das mais variadas formas, a presença feminina e suas produções na literatura brasileira, sobretudo a […]
Entre os dias 9 e 11 de novembro, aconteceu o 7º Festival do Livro e da Literatura de São Miguel, que ocupou 47 espaços da região. Com o tema Narrativas de Gênero: feminino, feminismo e outras histórias, o encontro debateu, das mais variadas formas, a presença feminina e suas produções na literatura brasileira, sobretudo a da mulher negra e ou periférica, além de colocar em pauta temas importantes como o fim da violência contra a mulher. Rodas de conversa, apresentações de dança, contações de histórias, saraus, intervenções com lambe-lambe, exposições e muitas outras atividades discutiram e apresentaram diferentes abordagens para a reflexão do público, que chegou a cerca de 19 mil pessoas.
Além disso, mais de 8 mil livros foram arrecadados e oferecidos como Frutos Literários, intervenção na qual os exemplares são distribuídos em árvores, praças, bibliotecas, escolas e ruas do território para serem colhidos por quem se interessar. E outros 6.093 títulos foram trocados na Feira de Troca de Livros e Gibis, realizada em parceria com o Sistema Municipal de Bibliotecas (SMC) durante os três dias de Festival na Praça Morumbizinho.
“Acredito que o Festival se confirmou como um importante evento de articulação no território, como um espaço de diálogo entre os vários movimentos sociais e também um instrumento de discussão das mais diversas temáticas. Ocupamos o espaço público, percebemos que é possível utilizá-lo para ações de reflexões e transformações sociais”, relatou Inácio Pereira dos Santos Neto, coordenador de Cultura da Fundação Tide Setubal.
Elânia Francisca, psicóloga e integrante do Coletivo Mulheres na Luta, do Grajaú, que participou do Bate-papo: Vamos Falar de Feminismo?, destacou a importância do espaço para a literatura feminina. “Achei supernecessário falar de narrativas de gênero, pensando na questão da literatura das mulheres, sobretudo das mulheres periféricas e negras, que têm pouca visibilidade. Não é que não escrevem, escrevem e muito, mas temos pouca visibilidade. E, em momentos como esses, nós podemos mostrar para que viemos”, contou.
A estudante Julia Beatriz Gomes Xavier, de 15 anos, viu cartazes convidando para o evento fixados nas paredes da escola onde estuda e decidiu participar de alguma atividade do Festival. “Estava muito empolgada para vir para este evento, porque sou feminista e gosto muito do assunto e de discutir sobre ele. Encontros como esses acrescentam muito”, afirmou.
A sétima edição do Festival encontrou-se com a celebração de 10 anos da Fundação Tide Setubal, que tem o feminino marcado desde sua origem, pois a instituição nasceu inspirada nas ideias e nas iniciativas de Tide Setubal. Além disso, a Fundação marca sua trajetória em São Miguel Paulista baseada em ações que contam com sólidas parcerias, como com a Universidade Cruzeiro do Sul.
Segundo a professora doutora Helba Carvalho, docente do curso de Letras e do mestrado em Linguística da Universidade Cruzeiro do Sul, que organiza anualmente atividades com seus alunos para receber o público, a participação do curso de Letras no Festival do Livro e da Literatura de São Miguel é fundamental. “Os graduandos vivem uma experiência prática e lúdica com crianças e jovens de diferentes escolas e níveis, contribuindo para a formação dos futuros docentes, que percebem, durante o Festival, que há outras formas de incentivo à leitura e de falar sobre a literatura. Como professora do curso, observo que muitos alunos se descobrem no evento e ficam mais convictos da escolha que fizeram: ser professor. Para a Universidade, é uma forma de se relacionar com a comunidade, ocupando outros espaços e assumindo sua responsabilidade social.”
Outra importante parceria na realização do evento é com o Sesc Itaquera, que apoia o Festival desde a primeira edição, principalmente por acreditar que as ações de incentivo à leitura resultam na valorização do indivíduo e no desenvolvimento cultural da comunidade. “O incentivo à diversidade literária é um dos principais objetivos da área de literatura do Sesc. E o forte vínculo do Festival com a comunidade da região é de fundamental importância para que os moradores se sintam parte do evento e não apenas espectadores, favorecendo assim a apropriação dos espaços, o que possibilita o desenvolvimento de um trabalho processual de fomento à leitura. O evento evoluiu muito desde seu início, mesclando o fomento às múltiplas leituras à mediação literária de temas contemporâneos da sociedade, tal como o último tema do Festival, relacionado às questões de gênero”, relatou Thaís Heinisch, animadora cultural da programação.
Além disso, o Festival conta com o patrocínio do Itaú e o Itaú Cultural, que apoiam a ação por meio da Lei Rouanet de incentivo à cultura, do Ministério da Cultura . “É fundamental que a sociedade e seus espaços de atuação se mobilizem, cada vez mais, para que mais brasileiros leiam e mais brasileiros leiam mais. Sem dúvida, a Fundação Tide Setubal tem cumprido este papel de forma perene e afetuosa, por meio do Festival do Livro e da Literatura de São Miguel”, afirma Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural.
Quem também reforça a relevância de uma literatura feita para todos é Mariana Felix, escritora, militante feminista e apresentadora do Canal Prosa Poética, que participou da Roda de Conversa Tendências do Feminismo Atual. “Trabalhar a literatura periférica em uma linguagem mais simples é proposital. Eu sou graduada em Letras, então acredito que, se uma pessoa lê um texto com o qual não se identifica, ela já se afasta; se lê um com que se identifica, procura mais. Tem um poema meu em que digo: ‘Escrever realidades com rima em nada se perde a poesia. Cria-se sim outra alternativa de escrita que é para as crianças não enxergarem a arte distante de suas vidas’”, encerrou.
Leticia Bahia, psicóloga, diretora da revista AzMina e uma das autoras do livro Você Já É Feminista, também esteve na Roda de Conversa Tendências do Feminismo Atual e destacou a simbologia de o Festival ocupar os espaços públicos: “É fantástico tudo isso acontecer na rua, que é outro tema tão importante o poder ocupar o espaço, entender que a rua é nossa, que a rua é de todos e nos apropriarmos dela.”