Analista de comunicação e produtor de conteúdo do site da Fundação Tide Setubal
Feira Preta leva empreendedores, artistas e autores negros ao Festival do Livro e da Literatura de São Miguel
Nesta edição do Festival do Livro e da Literatura de São Miguel Paulista, que acontece entre os dias 8 e 10 de novembro, quem entrar no pátio da Universidade Cruzeiro do Sul verá uma novidade: a Ocupação Feira Preta Afro-Literária, com a exposição e venda de produtos de moda e artesanato de 21 afro-empreendedores. A […]
Nesta edição do Festival do Livro e da Literatura de São Miguel Paulista, que acontece entre os dias 8 e 10 de novembro, quem entrar no pátio da Universidade Cruzeiro do Sul verá uma novidade: a Ocupação Feira Preta Afro-Literária, com a exposição e venda de produtos de moda e artesanato de 21 afro-empreendedores. A ocupação é realizada pela primeira vez na zona leste de São Paulo pela Feira Preta, uma plataforma que tem como proposta promover o desenvolvimento sociocultural da comunidade negra no país, por meio do fomento ao empreendedorismo e fortalecimento de artistas e microempreendedores afro-brasileiros ou que atuam com o mercado étnico.
A iniciativa foi criada por Adriana Barbosa, que acaba de receber um prêmio por estar na lista dos 51 negros com menos de 40 anos mais influentes do mundo em 2017, título dado pelo Most Influential People of African Descent, o MIPAD, um órgão que reconhece pessoas que mudam o mundo. Conversamos com ela sobre a nova parceria e o que esperar este ano da participação da Feira Preta no Festival
De onde surgiu a ideia de criar a Feira Preta?
Adriana Barbosa – A ideia da Feira Preta começou em 2002, com uma proposta de dar visibilidade para iniciativas empreendedoras e culturais da população negra, sobretudo jovens e mulheres. A inspiração surgiu na região de Pinheiros, onde havia uma concentração de baladas e casas de show de black music. Havia um grande público negro consumindo aquela cultura, produzindo, sendo o insumo artístico e o conteúdo cultural, mas no final da noite quem circulava o dinheiro eram homens brancos.
Isso me intrigava pelo fato de a gente mobilizar e deslocar muita gente para ir até aquela região, mas não desfrutar do ponto de vista econômico. Então a Feira Preta foi lançada em 2002, no mês de novembro, na praça Benedito Calixto, reunindo o melhor da cultura e do empreendedorismo negro, justamente para estimular e dar visibilidade para essa produção negra.
Como a Feira Preta incentiva o empreendedorismo afro-brasileiro?
Adriana Barbosa – Ela é um evento que transformou-se em uma plataforma, um negócio social focado em dois temas: economia, pelo viés do empreendedorismo, e cultura, pretendendo estimular a valorização e disseminação da cultura negra por meio da economia criativa. Assim, a Feira é um modelo de estímulo ao empreendedorismo afro-brasileiro.
Como será a parceria com o Festival do Livro e da Literatura de São Miguel?
Adriana Barbosa – É a primeira vez que a Feira participa do Festival do Livro, que este ano tem como tema a literatura negra. A Feira tem uma área de literatura negra e a ideia é unir esses dois eventos e os universos tanto da literatura como da cultura negra de uma forma mais ampla, trazendo reflexões sobre o contexto da área de literatura negra hoje, do ponto de vista do empreendedorismo.
Assim, uma das mesas que estamos trazendo é sobre os 40 anos dos Cadernos Negros, que foi uma das primeiras iniciativas que busca não só valorizar os autores negros, mas também lançar livros, pensar em criação, produção, distribuição e consumo. E temos outras duas mesas, uma ligada a comunicação e outra ligada à lei que obriga que as redes de ensino trabalhem a história negra e indígena. Para nós, é de extrema importância fazer parte da programação do Festival do Livro e da Literatura de São Miguel.
Qual a importância da literatura negra pra você?
Adriana Barbosa – A literatura negra no brasil é importante para a emancipação da população negra. A informação nos liberta e os livros trazem a riqueza da nossa cultura – não só o que se conta na escola, mas o que é contado por pesquisadores, autores, cientistas. É algo fundamental para a população em geral, não apenas para a população negra.
Quais são seus livros favoritos?
Adriana Barbosa – Gosto muito de biografias e estou curtindo agora o “Na minha pele”, de Lázaro Ramos. Gosto também dos livros da Chimamanda [Ngozi Adichie], da Conceição Evaristo e de muitas outras obras da literatura negra.