Fundação Tide Setubal organiza e participa de Seminário Educação como Desenvolvimento Local na Zona Leste
Em 12 grupos, cerca de 300 pessoas debatem problemas da região leste e elaboram propostas concretas de melhorias que serão levadas ao poder público
A Fundação Tide Setubal foi uma das organizadoras e participantes do 2º. Seminário Educação como Desenvolvimento Local, realizado na sede da USP Leste, em São Paulo (SP), em 30 de agosto. O evento faz parte das ações do Fórum de Órgãos Públicos e Organizações da Sociedade Civil Jardim Helena, criado em 2011. Estiveram presentes cerca de 300 pessoas, que propuseram soluções em 12 temas de infraestrutura local. Elas serão enviadas ao prefeito, governador e presidente da República e outras instâncias de governo, e alguns grupos já têm agenda para dar continuidade aos trabalhos. Além da Fundação e USP Leste, participaram da elaboração do seminário o Instituto Alana, Centro de Integração e Cidadania (CIC) Leste, conselhos gestores de UBSs, assim como as organizações Ação Educativa, Cenpec, Associação de Mulheres do Jardim Camargo Novo, Rede Creche e Rádio Integração.
A escolha dos temas se deu por meio de 13 reuniões nos últimos cinco meses, nas quais se revezaram 108 pessoas, de 49 organizações. “Nosso objetivo foi atrair especialistas, mas, sobretudo, interessados no assunto. Cada indivíduo tem um saber sobre situações de conflito e pode dar sua contribuição. As proposições serão enviadas ao poder público e vamos buscar portas abertas para viabilizá-las”, explica Viviane Hercowitz, coordenadora do Núcleo Mundo Jovem, da Fundação Tide Setubal.
Representantes de escolas públicas, das Diretorias Regionais de Educação de São Miguel e de Itaquera (municipais), Diretoria Regional de Ensino Leste 2 (estadual), líderes comunitários, moradores e estudantes da Zona Leste da capital paulista debateram, por três horas: transporte, escolaridade, comunicação, elaboração de políticas, economia local, segurança pública, saúde, pesquisa sobre realidade local, inclusão de pessoas com deficiência, gestão educacional, equilíbrio ambiental e convivência escolar. Especialistas convidados auxiliaram nas discussões dos grupos de trabalho. No fim, os participantes se encontraram num mesmo auditório e conheceram e debateram as três propostas mais relevantes de cada grupo, totalizando 36.
Para Elie Ghanem, professor da Faculdade de Educação da USP e um dos coordenadores do seminário, o formato permitiu trocar experiências e estreitar relações. “As pessoas precisam esclarecer o que é necessário fazer para melhorar o local onde moram. Nesse sentido, o seminário correspondeu às expectativas, pois as propostas estão muito claras e possíveis de serem colocadas em prática. O grupo saiu daqui mais unido e fortalecido. Levaremos os trabalhos adiante para resolver grande parte dos problemas dos distritos da Zona Leste”, disse.
Três propostas por grupo
Entre outras soluções, o grupo de transportes pretende cobrar melhor qualidade das vias públicas, instalação de ciclo faixas e de corredores exclusivos de ônibus. O de escolaridade ressaltou a importância de estruturar uma unidade de educação profissional do governo federal para regiões mais vulneráveis. Na área de comunicação, os participantes sugeriram compor uma rede de notícias da Zona Leste.
Sobre elaboração de políticas, as propostas incluíram o investimento da administração pública baseado em índices como o de desenvolvimento humano (IDH) dos bairros, ao lado de mais autonomia orçamentária para as subprefeituras. O pessoal que se debruçou sobre segurança sugeriu que as escolas contem com equipes multidisciplinares, atentas à saúde física e psicológica de todos. Cuidados com a saúde mental e dependência química foram alvo do grupo de saúde, que quer garantir a ampliação de serviços para os indivíduos que precisam de atenção, bem como para suas famílias.
O grupo que trabalhou com a pesquisa sobre realidade local buscará mais articulação entre universidades e escolas. A equipe que abordou as questões específicas das pessoas com deficiência destacou a necessidade de montar centros profissionalizantes que capacitem jovens, de forma que eles possam se preparar para o mercado.
Os participantes que refletiram sobre gestão educacional fundaram um Fórum de Gestão Colaborativa da Zona Leste e levantaram questões sobre formação de gestores, coordenadores e pessoal administrativo, aliadas a políticas específicas para regiões mais vulneráveis. No quesito ambiental, as propostas focaram na conscientização nos âmbitos escolar e comunitário, ao lado de efetivação do projeto Escolas Sustentáveis, do Ministério da Educação.
Finalmente, o grupo da convivência escolar propôs, por exemplo, estimular o protagonismo juvenil, fortalecer a relação escola-família e formar um grupo em cada unidade de ensino para discutir encaminhamentos para conflitos internos. Três núcleos — economia local, pesquisa sobre realidade local e gestão educacional — já agendaram novas reuniões em setembro e outubro.
Participantes avaliam seminário
“Participei da comissão organizadora desde o início. É um processo de construção e aprendizado para todos. Alunos e professores da Emef estão aqui porque é fundamental a participação direta deles, pois, em situações assim, as pessoas assumem suas histórias, pensam em propostas e organizam ações. E eu procuro sempre levar o que vivi para as discussões coletivas do conselho escolar, outras escolas e profissionais.”-Maria Claudia Fernandes, diretora da EMEF Armando Crydei Righetti.
“No grupo do meio ambiente, a formação continuada foi o tema mais evidente e desafiador. Propusemos envolver USP Leste, Sesc Itaquera, Secretaria Municipal de Educação e Secretaria do Verde e do Meio Ambiente para que promovam educação continuada para professores da zona leste. Assim, haverá discussão e aprendizado diários e contínuos, não só de forma pontual.” –Renato Nascimento, assessor da ONG Ação Educativa
“A proposta desse seminário fortalece a ideia de gestão colaborativa e vai além da discussão, porque indica como realizar, o que pode ser feito e quais os caminhos a serem trilhados. O fato de várias pessoas estarem empenhadas em torno de diferentes temáticas para tornar a vida delas melhor traz uma real perspectiva de desenvolvimento para a região. Durante as discussões, fóruns para tratar de gestão colaborativa no território já foram formalizados.” –Vanda Ribeiro, coordenadora-adjunta de pesquisa do Cenpec e doutora em educação
“O seminário é importante porque nele você discute, reflete e faz metas comuns e porque ele está articulado com ações do cotidiano, dentro das escolas, que acontecem antes e depois dele, num processo mais amplo. São anos de mobilização de professores, estudantes e militantes que sabem que a educação contribui para melhorar a realidade. Já fizemos vários e realizaremos muitos outros.” –Valter de Almeida Costa, professor universitário e diretor regional de educação de Itaquera
“Nós aqui somos apenas mediadores. Os principais interessados para o desenvolvimento da região são os moradores, e a participação deles foi fundamental. Temos olhar técnico, mas eles trouxeram o cotidiano, e isso abre os olhos da administração pública para os problemas reais da região.” – Viviane D’Almeida, assistente social do Instituto Alana
“Meu grupo foi o de pesquisa sobre realidade local, que já vem trabalhando o estudo dessa realidade como possibilidade de construção de currículos nas escolas. Nossas propostas são organizar um grupo de estudos de território que articule escolas municipais e estaduais e universidades e fixar um calendário de encontros.” – Zilda Borges da Silva, professora da Unicastelo e funcionária do setor Programas Especiais da DRE Itaquera