Literatura toma conta dos espaços públicos da região em uma grande festa
A literatura foi traduzida por diferentes expressões artísticas durante o Festival do Livro e da Literatura de São Miguel. Em meio a tantas atrações, acontecimentos do dia a dia deixaram lembranças, mostrando a vitalidade do evento
Mais do que o encanto das páginas impressas, a literatura se transmutou em diferentes expressões artísticas durante o Festival do Livro e da Literatura de São Miguel. Dança, representações teatrais, contação de histórias (nas praças e na oficina de culinária) instigaram até os mais desavisados, em vários pontos do bairro.
Capas para que vos quero — A chuva fina não parava de cair na sexta-feira à tarde. Rafaela, Edineide, Luan, Ravan, Michael, Cauã, todos na faixa entre 6 e 9 anos, estavam precoupados. Como o grupo deles, de 40 crianças, iria do Centro Social Marista de União de Vila Nova até o Galpão de Cultura e Cidadania do Jd. Lapenna assistir à contação de histórias. Dispondo de apenas três guarda-chuvas, a educadora de artes Juliana Menecucci, do Centro Marista, começou a revirar o acervo de teatro e encontrou várias capas de plástico. Embaladas nelas, as crianças seguiram a pé e não perderam um segundo dos contos africanos apresentados por Lilian Marchetti. “As histórias entram pelos ouvidos, passam pela cabeça, vão para o coração e ficam morando nesses lugares. Quanto mais as dou, mais minhas elas são”, explicou a contadora para uma plateia muito atenta.
Quase que não dá certo— Maria Imaculada Pereira, formadora do Projeto Entre na Roda, do Cenpec, foi ao CDC Tide Setubal, na quinta-feira, 8, fazer uma roda de leitura com contos da tradição oral. Sua receita consiste em sensibilizar a plateia, ler o texto pré-selecionado com o público e instigar todos a fazer comentários sobre o que foi lido, misturando com suas experiências pessoais. Só que um problema interno no Colégio Adventista impedia que as 50 crianças saíssem de lá para ir ao CDC participar da atividade. A solução foi Imaculada seguir para escola com Aline Santiago do Ponto de Leitura do CDC, Lá, ela “agitou” as crianças com o texto A Curiosidade Premiada.
Brincadeira de Rua— Esse é o nome de uma oficina que reúne meninos e meninas no Galpão de Cultura e Cidadania. Com instrumentos de percussão, seus participantes saíram na tarde de quinta-feira, 8, pelas ruas do Jd. Lapenna, chamando a atenção dos moradores. Entregaram poemas nas casas, nos bares e para quem quisesse receber um pedacinho caprichado de papel poético. Alan Werigues, de 12 anos, estava na sala do Núcleo de Comunicação Comunitária (NCC) quando lhe ofereceram uma máquina fotográfica para registrar aquele momento. “É o meu primeiro festival e achei muito divertido. Algumas pessoas entregaram poemas para a própria família e para gente na rua. Todos ficaram felizes. Fiz 60 fotos em menos de duas horas”, contava, animado, na frente de um computador do NCC, colocando suas imagens na internet.
Dança no Galpão— A Cia. de Dança Expressarte, formada por 18 alunas da EMEF Dom Paulo Rolim, apresentou o espetáculo Eu Danço…Você Literatura. Valéria Veras, professora de língua portuguesa, da sala de leitura e do projeto Dança na Escola, preparou duas coreografias especiais para os festejos literários. Em Bonecas de Pano, a referência era Monteiro Lobato e sua Emília. Em As Amadas de Jorge, as jovens bailarinas também leram trechos de obras de Jorge Amado. Letícia da Silva Santos, de 14 anos, aluna do 8º ano, confessou o nervosismo antes da apresentação: “Adoro balé e livros. Estamos ensaiando há mais de um mês, mas fico tensa de pensar em trazer Tieta e Gabriela para o palco”.
Couro de piolho— Desse material era feita a cadeira de um rei, que só daria a mão de sua filha em casamento a quem descobrisse tal segredo. A história, registrada por Luís da Câmara Cascudo em Contos Tradicionais do Brasil, serviu de pano de fundo para que 13 animadas cozinheiras preparassem guloseimas durante o festival. Para isso, usaram biscoitos, confeitos de chocolate, granulados, pasta americana, recheio de doce de leite, glitter e outras artimanhas de cozinha. A mistura de literatura e comida aconteceu na Oficina Escola de Culinária, localizada no Galpão de Cultura e Cidadania. Luzinete Ferreira e Daniela Romão, duas das fundadoras da Costume Popular Gastronomia e Cultura, foram convidadas a tematizar a aula para as interessadas que se inscreveram. Tronos reais, princesas, flores e piolhos comestíveis saíram da imaginação das participantes direto para a mesa.
Teatro para todos os gostos— Grupos de teatro envolveram o público em narrativas, entoaram canções e evocaram memórias afetivas dos moradores do bairro. O Semeando e Espalhando Histórias fez a alegria da meninada colocando canções e brincadeiras no meio de histórias infantis na Biblioteca Rubens Borba de Morais. O Malas Portam levou uma mala cheia de trecos para o palco do CDC Tide Setubal. Cada um deles foi virando história com a participação de alunos da EMEF Caucásica. Os atores do Sensus vestiram seus polvos-capacetes e intervieram no calçadão da rua Serra Dourada, surpreendendo os pedestres. Inspirados na brincadeira do telefone sem fio, eles declamavam poesias e tocavam corações. O Coletivo Pi voltou a São Miguel com sua casa sem paredes, bem na praça Morumbizinho. Os passantes puderam ver referências do bairro em cada cantinho da habitação e ler histórias contadas pelos moradores em edições anteriores do festival.