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Maria Alice Setubal fala ao Valor Econômico sobre doações para o combate ao coronavírus

Imprensa

17 de abril de 2020
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Em 14 de abril, o Valor Econômico publicou matéria sobre o volume de doações feitas por empresas e instituições financeiras para o enfrentamento da pandemia da Covid-19 (coronavírus). Maria Alice Setubal, presidente dos conselhos da Fundação Tide Setubal e do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife), falou sobre o engajamento de empresários no combate à crise atual.

 

Confira a seguir a íntegra da matéria publicada pelo Valor.

 

 

 

Arrecadação para enfrentar pandemia soma R$ 2,2 bilhões

 

Grandes companhias e empresários respondem por 94% do total levantado em 3 semanas

 

Por Maria Luíza Filgueiras – De São Paulo (14/04/2020)

 

 

A pandemia do coronavírus tem gerado um engajamento sem precedentes na contemporânea sociedade civil brasileira, pelo montante e velocidade de doações e ações sociais. Conforme o Monitor de Doações Covid-19, consolidado pela Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR) com base em dados públicos, a soma atual é de R$ 2,21 bilhões, montante levantado em três semanas. Desse total, 94% vêm de grandes companhias e empresários – o restante são doações de pessoas físicas em campanhas e arrecadações de artistas com shows na internet.

 

“Em trinta anos de trabalho nesta área, nunca vi nada parecido”, diz Maria Alice Setubal, a socióloga mais conhecida como Neca e que preside os conselhos do Gife e da Fundação Tide Setubal. O Gife é uma associação que reúne 170 fundações do Brasil e mobilizou R$ 1 bilhão em ações sociais de enfrentamento à pandemia em março, o equivalente ao que a entidade costuma destinar em um ano normal de atividades. “A sociedade como um todo está se articulando.”

 

As maiores doações nesta crise são de famílias já historicamente engajadas – grupos que já têm suas fundações, que tem projetos ligados à educação, que participavam ativamente de doações políticas e atividades relacionadas a meio ambiente. Uma das razões para isso, para especialistas em filantropia e conforme as empresas, é que seus conselhos são mais ágeis na aprovação e avaliação de projetos, por isso já ser uma pauta recorrente e fazer parte do dia a dia da empresa.

 

O banco Itaú, por exemplo, anunciou a doação de R$ 1 bilhão, para ações de combate ao coronavírus, a maior doação privada do país para uma única causa. O banco e seus acionistas já tinham feito doações anteriores e mantêm filantropia como prática. “Sinto-me entusiasmado com o apoio que recebemos, demonstrando a importância desse histórico ato de solidariedade do Itaú Unibanco, que esperamos ajude o Brasil a combater o coronavírus”, Roberto Setubal, co-presidente do Conselho de Administração do banco. Ao invés de escolher projetos, o Itaú colocou os recursos num fundo endowment e o banco não terá ingerência sobre o uso. “A destinação dos recursos será decidida por um grupo de especialistas de saúde”, disse Candido Bracher, presidente do Itaú Unibanco.

 

Empresas do setor financeiro respondem por 72% das doações anunciadas até agora. Nesses casos, não se trata de redirecionamento, mas de recursos adicionais. No Bradesco, por exemplo, as doações do banco e da seguradora não interferem no investimento de R$ 650 milhões este ano na fundação do grupo, que é voltada para educação. No Safra, a família controladora também mantém doações ao longo de sua história, muitas ligadas à área de saúde. A instituição decidiu fazer novos aportes, que independem de projetos com que já contribuía – nesse caso, a análise é feita a cada demanda de projeto recebida, sem valor fixo para futuras doações.

 

Na família Ermírio de Moraes, dona do grupo Votorantim, a doação de mais R$ 50 milhões para iniciativas de combate ao coronavírus saiu do caixa da holding Votorantim S.A. e foi para uma conta do Instituto Votorantim. Os recursos se somaram aos mais de R$ 60 milhões que o Instituto tem em seu orçamento anual. Há ainda uma safra de novos doadores, de empresários que se tornam bilionários nos últimos e de empresas que ganharam porte na chamada nova economia – caso de André Street, fundador da Stone, e Guilherme Benchimol, fundador da XP.

 

Outras instituições financeiras, como BTG Pactual e Banco BMG, anunciaram doações que vieram da empresa e dos sócios. A família Moll, fundadora do grupo hospital Rede D’Or, também tem liderado doações no setor de saúde – na física e por meio grupo familiar, chamando empresas parceiras.

 

“Claramente há um aumento da doação de famílias nessa pandemia. Vemos as famílias que já eram engajadas, famílias que faziam doações tímidas e sentem pressão por aumentar o volume e também novos nomes, puxados por novas gerações”, diz Paula Fabiani, presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis).

 

Para quem já era doador, o efeito da pandemia deve perdurar quando a crise passar, ainda que não nessa magnitude. “As pessoas e empresas acordaram para essa necessidade e doação começa assim: você faz a primeira, vê o impacto que gerou na vida das pessoas, vê que não te fez falta porque doou algo acima da sua necessidade, e continua a doar”, diz Eugenio Mattar, presidente da Localiza. Ele considera que doações como a do Itaú, por exemplo, tendem a estimular outras doações de porte.

 

O modelo no Brasil é diferente do americano, onde as grandes doações são tradicionalmente feitas por empresários e executivos. De acordo com o levantamento da consultoria americana Centro de Eficiência em Filantropia, 68% dos US$ 428 bilhões em doações arrecadadas no país em 2018 vieram de doadores individuais. São os chamados “doadores cruciais”, pelo alcance de suas ações.

 

No Brasil, a participação de pessoas físicas, especialmente nesta pandemia, tem surpreendido os organizadores de projetos sociais – mas ainda assim há dependência das grandes companhias. O fundo de doações Coronavírus Brasil levantou R$ 5 milhões em duas semanas, sendo R$ 1 milhão com 3 mil pessoas físicas, o que é bastante pulverizado para a média de arrecadações no país. A corretora XP Investimentos doou R$ 25 milhões e iniciou uma campanha para engajar clientes e funcionários – chegou a consideráveis R$ 6 milhões nesse processo. Mas, do total, 80% continuam sendo do aporte da companhia. Conforme o monitor de doações da ABCR, as 103 campanhas de doação voltadas principalmente para pessoas físicas levantaram R$ 132,18 milhões – um marco pela velocidade e número de doadores, mas pequeno diante do montante das grandes empresas familiares.

 

Isso acontece por uma questão tributária – não há incentivo fiscal para a doação como pessoa física, pagando imposto sobre o montante, enquanto há desconto na doação corporativa. Também é uma forma de os empresários organizarem montantes maiores. As famílias Trajano e Garcia, controladoras da varejista Magazine Luiza, fizeram doações de R$ 10 milhões a partir da holding familiar, para o suporte a diversas iniciativas nessa crise. A varejista apoia outras ações, mas neste caso a doação é de patrimônio da família, que já mantém ações filantrópicas. “Organizamos as ações das famílias Trajano e Garcia de forma coletiva e sempre foi um principio dos acionistas devolver para sociedade parte do que construíram”, diz Carlos Donzelli, executivo da holding família.

 

A família Diniz, fundadora dos supermercados Pão de Açúcar e hoje controladora da Península Participações, integra o movimento UniãoSP, que já arrecadou duas mil toneladas de alimentos para famílias mais vulneráveis na capital e em três municípios de São Paulo. “A solidariedade e o cuidado com o outro é a única forma de enfrentarmos o medo e a desesperança e superarmos tudo construindo um futuro melhor”, diz Ana Maria Diniz em comunicado. “A intenção é minimizar o sofrimento nesse momento de dificuldade, na expectativa de que essa solidariedade se espalhe e quando a crise passar, que o mundo se torne um lugar mais solidário”, disse Abilio Diniz, em rede social.

 

A família Bueno tem feito ações sociais por meio da rede de hospitais Ímpar e GSC Integradora de Saúde, assim como o grupo SEB, do empresário Chaim Zaher, e a família Auriemo, controladora da JHSF. família Feffer, controladora da produtora de celulose e papel Suzano, tem concentrado suas ações na companhia. A Suzano investiu cerca de R$ 60 milhões até agora – em uma das frentes, produziu 60 toneladas de papel higiênico para doação e aproximadamente 4 toneladas de fraldas.

 

Outra grande produtora de papel e celulose brasileira, controlada por famílias que estão entre as mais ricas do país, a Klabin também tem atuado junto à sociedade no combate e tratamento da covid-19. A companhia doou itens hospitalares, embalagens para transporte de alimentos e produtos de higiene para hospitais, entidades e clientes com iniciativas nas áreas de saúde e assistência social, especialmente nas regiões onde tem operação.

 

A Fundação Lemann, do empresário Jorge Paulo Lemann, tem dado suporte com estrutura de ensino a distância para que os 40 milhões de alunos da rede pública de educação possam ter aulas e acesso ao conteúdo didático.

 

“Nunca imaginei que fosse ter uma mobilização tão grande como agora”, diz o empresário Rubens Menin, que já vinha se engajamento em organizações filantrópicas, sendo um dos fundadores do Movimento Bem Maior. “Quem ganha a guerra é a sociedade civil, e não o governo. A velocidade com que conseguimos chegar com as cestas básicas nas comunidades, comprar respiradores e EPIs foi maior do que a do governo e fundamental para as famílias”, diz Menin. Ações sociais das empresas da família e com patrimônio pessoal para o combate à covid-19 somam R$ 16 milhões. “Já tínhamos uma verba reservada de aproximadamente R$ 10 milhões para filantropia. Com o coronavírus, fizemos um aporte adicional”, disse Maria Fernanda Menin, que está à frente das ações de filantropia da família.

 

Apesar de grandes empresas reforçarem os orçamentos, a estimativa do Idis é que metade do total de doações no país seja de dinheiro novo e a outra metade de redirecionamento, já com impacto em outros projetos sociais não ligados a saúde. Uma pesquisa feita pela organização CAF America com 500 organizações em 90 países mostra que 68% já tiveram queda de arrecadação para projetos ligados a direitos humanos, infância e meio ambiente. No Brasil, isso acontece porque o orçamento ainda é apertado. Nos Estados Unidos, a filantropia representa cerca de 2% do PIB, no Reino Unido, 1,5%, e no Brasil em torno de 0,2%. “Nascemos aqui, crescemos aqui, devemos muito a este país. A nossa iniciativa é um dever. Só juntos superaremos essa crise humanitária”, diz Pedro Moreira Salles, co-presidente do Conselho de Administração do Itaú Unibanco.


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