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Pelo avanço da diversidade nos conselhos de fundações e institutos

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7 de novembro de 2024
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Atuar como conselheira e olhar para a governança das organizações tem sido um papel que exerço faz algum tempo. Na Fundação Tide Setubal, uma organização familiar, estou desde sua criação. Nesse percurso, dentro desse espaço específico e até em ambiente empresarial, tenho acompanhado a pauta da diversidade, muito provocada pelas questões de gênero e raça.

 

 

No campo do Investimento Social Privado, os números do último censo Gife mostram que, no recorte de gênero, o percentual de mulheres ocupando espaços em conselhos alcançou 34%, enquanto em 2014 elas eram 27%. Contudo, levando em consideração os números absolutos, houve redução, já que antes mulheres eram 311 e atualmente são 307. Em relação à raça, 66% dos conselheiros das organizações são homens brancos, e apenas 1% desses postos é ocupado por pessoas não binárias.

 

 

Ao observarmos os números, parece que não avançamos ou avançamos muito pouco em uma pauta que é tão relevante para um projeto de País com mais justiça social. E por que esse movimento não acontece de forma crescente? Por que parece que damos um passo à frente e depois recuamos?

 

Acredito que haja alguns pontos interessantes a serem observados: valores institucionais, intencionalidade e responsabilidade. Quando olho para o contexto da Fundação Tide Setubal, a diversidade está entre nossos valores desde o princípio, e esse é um ponto fundamental, já que valores são um dos pilares da cultura organizacional.

 

Entretanto, eles precisam estar acompanhados da intencionalidade para, assim, ganhar concretude e acontecerem na prática. No percurso histórico da Fundação, sempre tivemos pessoas negras na equipe, principalmente porque nossa chegada ao território de São Miguel Paulista priorizou ter profissionais da região atuando conosco. Mas esse processo de diversidade ganhou ainda mais força a partir de 2017, quando, após uma década de trabalho, a missão se voltou ao enfrentamento das desigualdades socioespaciais.

 

Passamos a olhar para os lugares de poder e decisão dentro da instituição de forma intencional. E essa intencionalidade se tornou presença, com três pessoas negras ocupando lugar em nosso Conselho Curador: Sueli Carneiro, Jailson de Souza e Silva e, mais recentemente, Flávia Oliveira. Falo em presença porque o número de pessoas que tornam o conselho diverso faz diferença. Pesquisas indicam que, em empresas privadas, os benefícios da diversidade de gênero são mais sentidos com a presença de pelo menos 30% de mulheres nos conselhos. Sabemos que uma única pessoa, tentando contrapor visões alinhadas muitas vezes pela perspectiva institucional e até familiar já estabelecidas, dificilmente tem força para mudar ou até provocar novas perspectivas. Como diz o ditado: “uma andorinha só não faz verão”.

 

A mudança na composição do Conselho Curador da Fundação Tide Setubal certamente tornou a instituição um lugar mais forte, não só pelo efeito no processo decisório de maneira direta e no funcionamento do Conselho, mas porque afetou cada um de seus membros. Crescemos como indivíduos no convívio diverso, podendo refletir e atuar melhor a partir da experiência prática e concreta da diversidade.

 

Assim, a experiência no Conselho da Fundação fala de uma coerência dos valores com a intencionalidade, mas fala também de um lugar de trocas e de aprendizados que trazem saltos objetivos e subjetivos, com perspectivas que provavelmente nós, da família, presentes nesse espaço, não acrescentaríamos. Nesse caso, vejo também a possibilidade de unir a proposta de conselheiros independentes e diversidade.

 

Parece simples quando se pensa em um percurso histórico que já apresentava sinais desses temas em seu caminho, mas, se ainda não é o que se encontra nas fundações e institutos, como valor e, por consequência, como intencionalidade, é fundamental olharmos para a responsabilidade na busca pela equidade. O enfrentamento do racismo precisa ser um caminho compartilhado pelas lideranças brancas e um compromisso efetivo, inclusive quando estamos falando no investimento de seus recursos.

 

Ao pensar em compartilhar esses pontos, pesquisei um pouco sobre o tema na área empresarial, em que há vários avanços de regulação e legislação. Desde 2023, as empresas brasileiras listadas na B3 são orientadas, por meio de um compromisso, a eleger uma mulher e uma pessoa negra para seus conselhos. Apesar de não ser obrigatório, caso a empresa não atenda à orientação, precisa justificar a ausência da diversidade nesses espaços.

 

Nessa mesma linha, um caminho para que o campo do Investimento Social Privado diversifique seus conselhos e mude a realidade do último censo Gife poderia também ser o da adoção de orientações explícitas que pudessem demonstrar o compromisso com a evolução desse caminho. Não basta que o Investimento Social Privado englobe o tema diversidade e combate ao racismo em suas linhas de atuação e programas. Para que haja verdade e coerência, é necessário incluir mulheres e negros em seus conselhos e espaços de poder, não como concessão ou cumprimento de uma imposição social, mas, sim, como afirmação de um valor e de um compromisso. Precisamos entender melhor e aprender com aqueles que já deram alguns passos, além de compreender e apoiar aqueles que ainda não conseguiram se movimentar nesse sentido, porque avançar é fundamental.

 

A construção de instituições mais fortes e antirracistas é uma demanda social que não pode mais esperar. Esse é um valor que precisa ser compartilhado por todo o ecossistema organizacional. Se a intencionalidade e a responsabilidade não surgirem de cada um individualmente, nos cabe, como coletivo atuante nesse campo, pensar em maneiras de agir para acelerar e efetivar essa implementação de uma vez. Sem passos para trás.

 

 

Rosemarie Teresa Nugent Setubal é graduada em Administração de Empresas com pós-graduação em Marketing e Finanças pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Possui MBA – Advanced Boardroom Program for Woman pela Saint Paul Escola de Negócios. Integra o Conselho da Fundação Tide Setubal desde 2007, e o Conselho Deliberativo do Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria) desde 2021.

 

 

Foto: Diva Plavalaguna / Pexels


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