Analista de comunicação e produtor de conteúdo do site da Fundação Tide Setubal
Roda de conversa debate a quem pertence o espaço público
No dia 19 de maio, aconteceu a roda de conversa Políticas sociais e território: Qual cidade queremos construir?, que encerrou o ciclo de debates preparatórios para o Seminário Internacional Cidades e Territórios: encontros e fronteiras na busca da equidade, parceria com a Folha de S.Paulo, que celebra os 10 anos da Fundação Tide Setubal e […]
No dia 19 de maio, aconteceu a roda de conversa Políticas sociais e território: Qual cidade queremos construir?, que encerrou o ciclo de debates preparatórios para o Seminário Internacional Cidades e Territórios: encontros e fronteiras na busca da equidade, parceria com a Folha de S.Paulo, que celebra os 10 anos da Fundação Tide Setubal e acontece no próximo dia 14 de junho, na Fecomercio, Bela Vista, São Paulo (SP).
Debateram o tema: Mauricio Fiore, diretor do Centro brasileiro de análise e planejamento – Cebrap e coordenador científico da Plataforma Brasileira de Política de Drogas, Guilherme Wisnik, arquiteto, urbanista, crítico de arte, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – USP e colunista da Folha de S.Paulo e Marta Arretche, diretora do Centro de Estudos da Metrópole e professora do Departamento de Ciência Política da USP.
Mauricio Fiore abordou o Programa Braços Abertos, da prefeitura de São Paulo, destinado a dependentes de crack que moram na região, conhecida popularmente como Cracolândia, no centro de São Paulo e destacou a necessidade de desmitificar a imagem dessas pessoas, “eles não são apenas usuários de crack, são também pais, mães, carpinteiros, estudantes etc. Eu não falo: ‘Oi prazer sou Mauricio usuário de álcool’”. Ainda segundo Fiore programas de redução de danos e tratamentos para dependentes são essenciais, “mas não podem ser relacionados ao combate à degradação do centro, sob o risco de virarem uma cortina de fumaça” e afirma que dessa forma não estaríamos falando de direito à cidade, mas sim de desocupação das ruas centrais.
Para Guilherme Wisnik, no Brasil, ainda não é bem compreendido o que é o espaço público, ainda confundido com o espaço privado. Para ele, falta maturidade social, para que os espaços sejam bem definidos. De acordo com Wisnik apesar do momento ser de acirramento da intolerância, isto está provocando também uma quebra de valores que estão presentes em nossa sociedade há anos, “muitos estão lutando para que os direitos individuais parem de sobrepor os direitos coletivos. Hoje os movimentos sociais pedem por acesso à cidade”. Para o arquiteto, há uma maior ocupação da cidade. Ele relembrou as manifestações de junho de 2013, quando a ponte estaiada, um dos símbolos da cidade de São Paulo, foi tomada por manifestantes. “Quem um dia imaginou essa cena? Ninguém, porque esse é um não espaço da cidade, é como chamamos espaços apenas para uns e não para os outros, como esse que até então era só para os carros”, fala.
Mesmo estando nesse movimento de quebra de paradigmas, ainda há muitas barreiras a serem superadas em relação ao espaço público e o direito à cidade, entre eles está a questão da do centro da cidade em relação a periferia, como explica Marta Arretche. “O centro é relativamente homogêneo em relação ao atendimento de serviços como água, luz, esgoto e, mas na questão da habitação a desigualdade é maior”. Segundo a professora, enquanto no centro ainda há muitos cortiços, ocupações e moradores de rua, existem também grandes condomínios residenciais e para Arretche isso é o ‘fenômeno da evitação social’, a construção de barreiras físicas para separar grupos sociais.
A roda de conversa debateu a complexidade da região central da cidade que, ao mesmo tempo que tem um grande atendimento dos serviços públicos, causa uma grande segregação na questão da moradia e trouxe questionamentos como, quem tem direto de ocupar o centro?
O morador da região Fabio Fortes, que integra a associação de morados dos bairros de Santa Cecília e Campos Elíseos, participou da roda de conversa e criticou duramente programa Braços Abertos e seus objetivos, “os moradores do centro da cidade não se sentem seguros. A prefeitura deveria cuidar mais dos moradores do bairro e vez de gastar milhões para subsidiar o consumo de drogas”, afirma.
Daniel Chechio, integrante da Rede Social do Centro, fez o contraponto alertando, “a sociedade civil também precisa tomar a responsabilidade para si. Precisamos ter mais compaixão pelo outro, de qualquer classe social”.
Mauricio Fiore lembra, que apesar do senso comum de que apenas quem paga impostos são moradores, quem mora na rua também pertencem aquele bairro e termina, “pensar o espaço público doe, mas é preciso empatia para levantar essa questão”.
Amauri Eugênio Jr.