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As periferias como territórios de inovação

Por Daniel Cerqueira / Foto: Paulo Pereira

 

 

O terceiro setor tem investido em pautas como empreendedorismo e todas as ramificações que o acompanham, antes restritas ao mundo corporativo. Ao chegar às periferias, no entanto, o tema ganha diferentes contornos. No Dia Nacional da Inovação, convocamos a reflexão sobre os outros sentidos do que é inovar nos territórios onde a desigualdade social é presente e visível, a partir dos exemplos do que já acontecem.

 

O dia 19 de outubro tornou-se a data oficial a partir do Decreto-Lei nº 12.193, de 14 de janeiro de 2010, criada pelo então Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). O intuito foi o de incentivar soluções em todos os campos de atuação profissional. Para Andrea Nery, colunista do jornal O Estado de S. Paulo, inovação é “o processo criativo, transformador, que provoca uma ruptura impactando a qualidade de vida e o desenvolvimento humano”.

 

Como, então, pensá-la nos territórios periféricos? Sauanne Bispo, coordenadora de Nova Economia e Desenvolvimento Territorial da Fundação Tide Setubal, orienta o tema da seguinte forma: “A inovação nos territórios periféricos tem diferentes linhas. Vai desde a adaptação de produtos e serviços que circulam para o acesso das pessoas a até a possibilidade da formulação de empreendimentos para solucionar as suas questões”.

 

No Jardim Lapena, bairro localizado na zona leste de São Paulo, a Fundação tem trabalhado nos últimos anos para potencializar o comércio local, seja oferecendo aos empreendedores formações que os estruture para melhorar os seus negócios, ou disponibilizando espaço para a abertura de novos projetos que fortaleçam a comunidade.

 

Uma dessas formações foi realizada, em parceria com o Sebrae, entre 19 e 23 de outubro. Chamado Descomplique Online, o curso possibilitou às pessoas inscritas trabalharem, durante cinco dias, com os temas de empreendedorismo, marketing, finanças, ideia de negócios e formalização para quem deseja abrir um ou já o está estruturando.

 

Sauanne conta que a ideia é que “as pessoas entendam que podem potencializar seus territórios e, ao mesmo tempo, gerar renda e movimentar a economia local. O Sebrae é fundamental por falar de negócios com propriedade, trazendo ferramentas para a estruturação de empreendimentos mais sólidos”.

 

Outro bom exemplo vem da Emperifa, empresa que trabalha com a indústria criativa em negócios periféricos por meio de formações e mentorias. Seus sócios partem da premissa de que a periferia desde sempre foi criativa, inclusive em seus negócios, seja nos recortes de moda, gastronomia, audiovisual, artes e nas tecnologias, presentes em vários dos seus empreendimentos.

 

João Guedes, sócio-fundador da Emperifa, acredita que o diferencial desses empreendimentos e das formações está no como abordá-los. “A gente sempre começa com aquilo que eles têm em mão com o comércio local. O que eles desenvolvem, que é próprio do território, importa. A questão é: como agregar valor ao que eles produzem? Há possibilidade para investir em inovação a partir da criatividade das pessoas empreendedoras, com repertórios diversos, tecnologia, recursos financeiros e tempo. Quando estes negócios se estruturam, eles se tornam referência, geram renda e desenvolvem o local com a maior circulação de dinheiro no comércio”.

 

Há também a Articuladora de Negócios de Impacto da Periferia (ANIP). A partir da criação do Fundo Volta Por Cima, a ANIP, composta por A Banca, Artemisia, FGVcenn e Banco Pérola, pretende aportar investimento nos empreendedores periféricos afetados pela pandemia da Covid-19 com empréstimos a juro zero.

 

“Dentro do mercado, o acesso ao microcrédito ou ao investimento para o empreendedor de periferia é sempre complicado, seja porque estão negativados ou pelos juros altos”, relata Fabiana Ivo, gestora operacional da ANIP.

 

Fabiana Ivo considera também que é necessário analisar o contexto relativo aos empreendedores com esse perfil para eles poderem inovar. “É preciso entender o ecossistema de negócios de impacto nestas áreas e contribuir para que eles próprios os vejam assim”.

 

Afinal, seja qual for a proposta de inovação periférica, percebe-se que a maneira mais produtiva é aquela que considera as especificidades do local, das pessoas envolvidas e entende, sem juízo de valor, a importância da produção do território para a economia.

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