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Projeto fomentado pela Fundação Tide Setubal estuda impactos sociais e territoriais da Covid-19 nas metrópoles de SP e Baixada Santista

Por Amauri Eugênio Jr. / Foto: Rafael Neddermeyer / Fotos Públicas

 

 

Em março de 2020, a Fundação Tide Setubal e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) lançaram o edital Pandemia Covid-19: panorama da desigualdade na RMSP. A iniciativa, fruto de uma parceria firmada no final de 2019, foi aberta para a comunidade acadêmica dos campi da universidade, foi desenvolvida com foco em condições recorrentes nas periferias metropolitanas de São Paulo, como a fragilidade de acesso à saúde, saneamento, educação, moradia e emprego.

 

A iniciativa que foi escolhida é liderada por Lumena Almeida Castro Furtado, professora doutora adjunta do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina (EPM), da Unifesp. A pesquisa visa “produzir conhecimentos científicos socialmente referenciados que possam contribuir para o entendimento e a avaliação sobre os processos e impactos sociais e territoriais” relativos à disseminação da Covid-19 em grupos sociais e nos territórios das metrópoles de São Paulo e da Baixada Santista, e como têm sido a proposição e a vivência de medidas de prevenção, contenção, enfrentamento e combate contra a disseminação e expansão do novo coronavírus em tais espaços.

 

Outro ponto do estudo em produção, que terá entregas parciais feitas a cada dois meses durante o processo, é a multiplicidade de áreas analisadas. Os profissionais envolvidos atuam em áreas diversas, como saúde coletiva, arquitetura e questão urbana, ciências sociais, economia e pedagogia. Essa característica deve-se ao fato esses profissionais atuarem em campi diversos da Unifesp – Zona Leste, São Paulo, Diadema, Guarulhos, Baixada Santista e Osasco -, que têm atuação em áreas específicas do conhecimento.

 

Ainda, o projeto será construído em conjunto com movimentos sociais atuantes nos locais onde será realizada. Esses atores participarão de todas as etapas do processo, no que diz respeito à formulação de conceitos, desenvolvimento de questões e definição das áreas que serão estudadas, chegando à condução das análises e realização das propostas resultantes do estudo.

 

“Os movimentos sociais farão parte do desenho metodológico e serão pesquisadores conosco. Isso é assumir que a produção do conhecimento deve ser feita com as pessoas que estão envolvidas naquela posição e não apenas com a gente olhando de forma distante, de fora, para uma vivência, e querendo falar sobre ela como se fosse uma verdade produzida por nós”, destaca Lumena.

 

 

Das questões-problemas à busca por soluções

 

Quatro questões-problemas irão capitanear o trabalho desenvolvido durante os próximos meses. São elas:

 

  1. Relações entre o acesso à informação e a adesão às estratégias e táticas de prevenção e combate à disseminação do COVID-19;
  2. Relações entre as restrições às condições de mobilidade das pessoas, o isolamento domiciliar, as condições urbanas-habitacionais dos moradores, a violência doméstica baseada no gênero e sexual, o sofrimento mental, o fechamento de escolas e a descontinuidade na oferta pública e privada de serviços essenciais;
  3. Relações entre a perda de renda, o aumento da pobreza e a insegurança alimentar e nutricional;
  4. Relações com a produção da saúde.

 

O desenvolvimento do estudo visa, por meio da coleta de informações a partir das questões-problemas propostas e do cruzamento entre elas, analisar de qual modo a pandemia causada pela Covid-19 afeta o cotidiano em cada território de atuação. No eixo sobre o acesso à informação, por exemplo, o foco é analisar como as recomendações de cuidados feitas por meio de canais de informação são assimiladas e colocadas em práticas pelos moradores de tais territórios – em meio a problemas como o acesso à água -, assim como o impacto que de fato têm no cotidiano das pessoas que moram lá.

 

Outro ponto do estudo é auxiliar, por meio da análise sobre a vivência durante a pandemia, a construção do debate sobre políticas públicas nos temas condizentes às áreas das questões-problemas. “Como a gente sabe que as questões não acabarão agora, temos um tempo pela frente. Isso poderá também ajudar a pensar questões tentando qualificar políticas públicas, como a pensar em outras políticas públicas correlatas, que lidam com as mesmas questões e poderão se alimentar com o que a pesquisa mostrará”, destaca a professora doutora adjunta do Departamento de Medicina Preventiva da EPM.

 

 

Da academia para o cotidiano

 

Algumas das consequências sociais da crise causada pelo novo coronavírus dizem respeito ao aumento da percepção sobre a desigualdade socioeconômica e a vulnerabilidade em regiões periféricas, o trabalho de cientistas e a importância da produção acadêmica no combate à pandemia e no desenvolvimento de medidas voltadas à preservação de vidas em detrimento a decisões governamentais de cunho negacionista ou autoritário.

 

De acordo com Lumena, a pandemia mostra a importância de investimentos em um sistema de saúde universal, como o Sistema Único de Saúde (SUS), para a população brasileira, e em uma política educacional de produção científica e produção de pesquisa. A mesma lógica vale para a necessidade de se aprofundar o diálogo entre a academia e a sociedade civil.

 

Por fim, ao mesmo tempo em que foi aumentada a valorização de pesquisas em ciências duras, ou seja, as que recorrem ao rigor científico em observações, experimentos e deduções, torna-se nítida a importância dos estudos de ciências sociais e humanas. Dentro do projeto, elas ajudarão a evidenciar os efeitos de maneiras como se lida com o novo coronavírus entre populações vulneráveis.

 

“As instituições de ensino e pesquisa estão mostrando, com as ações concretas que estão fazendo, a importância da produção científica, ciência e conhecimento, para qualificar a resposta do país a este momento grave que estamos vivendo”, completa Lumena Almeida Castro Furtado.

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