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O ISP e a promoção da luta socioambiental

Por Daniel Cerqueira / Foto: CIDSE – Together for Global Justice

 

 

Realizada entre 6 e 18 de novembro, em Sharm El-Sheikh (Egito), a COP27 contou com inúmeras reuniões de organizações da sociedade civil atuantes em diversas esferas da agenda socioambiental, assim como de lideranças políticas em âmbito global.

 

A Fundação Tide Setubal esteve presente na COP27 por meio do evento evento #PhilanthropyForClimate: Um movimento global da filantropia para enfrentar a crise climática, promovido pelo GIFE, Wings e Fundo Casa Socioambiental no Brazil Climate Action Hub, espaço da sociedade civil na COP27.

 

A Fundação Tide Setubal esteve representada no evento realizado em Sharm El-Sheikh e na reunião de organizações, a qual culminou na assinatura do Compromisso Internacional da Filantropia sobre Mudanças Climáticas, por Guiné Silva, coordenador de Fomento a Agentes e Causas. As demais organizações signatárias do documento são Alana Foundation, Fundação Avina, Fundação Amazônia Sustentável, Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Fundo Baobá para Equidade Racial, Instituto Clima e Sociedade e Instituto Votorantim – todas essas instituições estão associadas ao GIFE.

 

A questão climática deixou de ser vista como uma questão macropolítica há algum tempo. As populações mais pobres e os territórios periféricos das cidades são as que mais têm sentido os efeitos do aquecimento global. Não à toa, o grande resultado celebrado ao final do evento foi a criação de um fundo internacional dentro do qual os países ricos precisarão aportar investimento nos locais mais vulneráveis às alterações climáticas. Para se ter uma ideia, uma das resoluções definidas na COP27 estabelece a criação de um fundo de “perdas e danos” para os países que mais sofrem com os efeitos de mudanças climáticas – os detalhes para formatação e acesso aos recursos serão estabelecidos na COP28, em 2023, que acontecerá nos Emirados Árabes Unidos.

 

O campo do investimento social privado (ISP) sabe que, muito além das suas causas diretas de atuação, existe uma série de crises políticas, sociais e econômicas por meio das quais são exigidas reflexões e ações – e na Fundação Tide Setubal não haveria de ser diferente. Para Guiné, a correlação mais imediata que pode ser feita no trabalho que a Fundação já realiza e, além disso, a agenda climática diz respeito ao enfrentamento do racismo estrutural:

 

“As vozes que estiveram na COP27 são as que temos escutado nas nossas ações de fomento, raça e gênero. São relatos de mulheres, quilombolas, indígenas, lideranças que passaram por aqui e têm contribuído com o olhar que vem ecoando a importância da justiça climática ambiental no que chamamos de racismo ambiental, e que não tem ainda a sua devida escuta por todos os atores que fazem as políticas públicas”, pondera.

 

 

Há onze pessoas reunidas na foto - elas são representantes de organizações que assinaram Compromisso Internacional da Filantropia sobre Mudanças Climáticas após a COP27.

Representantes das organizações que aderiram ao Compromisso Internacional da Filantropia sobre Mudanças Climáticas (Foto: Ricardo Batista / GIFE)

 

 

Racismo ambiental e desigualdades sociais

 

O termo racismo ambiental, utilizado por Guiné, não é novo. Segundo Rita Maria da Silva Passos, especialista em sociologia urbana e doutoranda de Planejamento Urbano e Regional na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o conceito caminha de mãos dadas com a necropolítica, pois o crescimento, por muitas vezes, se vale das desigualdades. Para tanto, “negligencia, desapropria, mata e silencia os povos originários, quilombolas e periféricos. Por isso, o racismo ambiental também é estrutural, pois está em todos os espaços em que a estrutura econômica dominante se faz presente.”

 

De acordo com Amanda Costa, do Instituto Perifa Sustentável, “é necessário descolonizar a linguagem e simplificar o debate climático, pois ele é muito branco, elitista, cheio de jargões técnicos – e isso afasta as juventudes, principalmente preta e de quebrada. Quem mais sofre com a injustiça ambiental são as comunidades de periferia, indígenas e quilombolas. A desigualdade afeta majoritariamente a população preta, periférica, indígena e LGBTQIAP+.”

 

Neste sentido, reafirma Guiné, “resgatar a nossa trilha interna com relação a equidade racial, que nos últimos cinco anos tem promovido o engajamento e o enfrentamento das desigualdades raciais interna e externamente, e o fomento de lideranças negras para que elas possam ocupar espaços de poder na sociedade, faz com que a gente se inspire na pauta de emergência climática, partindo da experiência de um tema tão urgente, como a luta contra o racismo nessa perspectiva ambiental.”

 

 

Confira a entrevista de Amanda Costa sobre racismo climático e preservação ambiental

 

 

Alianza Socioambiental Fondos del Sur

 

Outro ponto importante sobre o encontro a ser destacado diz respeito à apresentação das experiências da Alianza Socioambiental Fondos del Sur e do movimento #PhilanthropyForClimate, o qual anunciou a adesão de oito organizações brasileiras de filantropia associadas ao Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife). Somadas, elas investiram cerca de R$ 300.170.000 em 2020, segundo o Censo Gife.

 

O grupo abrange os fundos socioambientais do Sul Global e que atuam na premissa de apoiar e facilitar o acesso aos recursos da filantropia por comunidades e organizações locais. A Aliança reúne fundos socioambientais de longa data, como o Fundo Casa Socioambiental no Brasil, lançado em 2005; o Fundo Ação Solidária (Fondo Acción Solidaria), que entrou em operações no México, em 2007; o Fundo Tierra Viva (Fondo Tierra Viva), na América Central, em 2009; e o Samdhana Institute no Sudeste Asiático, em 2002.

 

Podem ser citados também os fundos lançados entre 2019 e 2020, como o Fundo Semilla (Fundación Semilla), na Bolívia; o Fundo Socioambiental Peru (Fondo Socioambiental Peru); o Fundo Socioambiental Emerger (Emerger Fondo Socioambiental), na Colômbia; Ñeque Fund (Fondo Ñeque), no Equador; e Tindzila Fund (Fundo Tindzila) em, Moçambique.

 

O advento destas organizações mostra a urgência da descentralização do debate sobre mudanças climáticas, ao colocar regiões e países historicamente invisibilizados como protagonistas e atores centrais dessa pauta.

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