Uma nova proposta para o Mercado de São Miguel

Ao visitar uma grande cidade, no Brasil ou no exterior, é possível conhecer os sabores, as cores e as expressões da região ao passar pelos chamados “mercadões”. Do Mercado Modelo, em Salvador, ao Mercado Central de São Paulo, os patrimônios materiais e imateriais estão presentes nesses cenários, que, não raro, se tornam cartões-postais de uma região.

No seu aniversário de 42 anos, o Mercado Municipal Dr. Américo Sugai, localizado na região central de São Miguel Paulista, pode comemorar não só a história escrita durante esses anos, mas também a sua revitalização. A proposta, antiga na região, foi retomada por moradores que participaram das atividades do Núcleo de Formação para Lideranças, Gestores e Educadores Sociais, durante o ano de 2008, na Fundação Tide Setubal.

Com o objetivo de transformar o espaço, inaugurado em 1967, em um local que reunisse elementos para o desenvolvimento econômico e sociocultural, o grupo vislumbrou a participação de diversos segmentos, como poder público, empresários, terceiro setor e a comunidade, na elaboração de uma mudança que valorizasse o comércio, o empreendedorismo e o patrimônio histórico de São Miguel.

Ainda em 2008, surgiu uma das iniciativas do poder público para obtenção de verba para o projeto. Após reunião realizada com o Núcleo de Formação para Lideranças, Gestores e Educadores Sociais da Fundação Tide Setubal, o deputado federal Paulo Teixeira encaminhou o pedido de R$ 1 milhão ao Ministério do Turismo. A liberação depende agora da assinatura de um convênio entre a Prefeitura e o governo federal.

O vereador Ricardo Teixeira, por meio de encaminhamento de uma emenda parlamentar, destinou R$ 250 mil para a obra, valor já disponível na Subprefeitura. A Secretaria Municipal do Abastecimento, responsável pelo mercado, disponibilizou R$ 190 mil.

O arquiteto Ruy Ohtake, responsável também pela reforma do estádio do Morumbi para a Copa de 2014, já desenvolve o projeto arquitetônico para o mercado. Na concepção inicial, que começa a ganhar movimento já no mês de agosto e deve ser concluída até dezembro de 2009, todos os pavilhões devem passar por uma reforma na infraestrutura. Uma praça de alimentação será construída, bem como um auditório que abrigará cursos de geração de renda e também será sede para programações culturais. Na segunda fase, em 2010, um mezanino, no qual novos restaurantes poderão ser instalados, ampliará o cardápio de opções gastronômicas.

Quando pensamos em desenvolvimento local para uma região, vários elementos devem estar alinhados, e o novo cenário que se configura para o Mercado Dr. Américo Sugai reúne diversos deles.

Nesse sentido, a revitalização busca a transformação do mercado em um ponto irradiador de valores tangíveis e intangíveis, que faça circular no bairro hábitos culturais. Deseja-se também incluí-lo no circuito cultural da região, no qual temos a Capela de São Miguel Arcanjo, o Sítio Mirim, a Fazenda Biacica. Patrimônios materiais e imateriais devem ampliar o diálogo com outras regiões da cidade, interligando-as e abrindo caminhos para o desenvolvimento econômico, cultural e social.

Quem se inserir nesse novo trajeto urbano que se configura poderá sentir os cheiros, os gostos e a história de uma região que tem consigo um pouco da história do Brasil. A revitalização do Mercado Dr. Américo Sugai, certamente, será um presente para a comunidade de São Miguel Paulista e também para a cidade de São Paulo.

Maria Alice Setubal é socióloga pela Universidade de São Paulo (USP), doutora em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), mestre na área de Ciências Políticas pela USP. É presidente da Fundação Tide Setubal e do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec).