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Mulheres na política falam sobre direitos e combate às desigualdades e protagonismo em evento no Galpão ZL

GalpãoZL

27 de setembro de 2024
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Ainda que o número de mulheres na política, quando o assunto é sobre candidaturas, tenha aumentado nas eleições de 2024, a sub-representação ainda é notória. Tem dúvidas? Vamos a alguns dados. A participação feminina no processo eleitoral deste ano teve, segundo levantamento do jornal O Globo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 156.519 candidaturas femininas entre 459.488 registradas – a proporção é de 34,7% no processo eleitoral deste ano. Deste modo, tal realidade não é tão diferente em São Paulo. Segundo dados do TSE, há, entre as 1.016 candidaturas registradas à vereança, 352 femininas (35% do total) e 664 masculinas (65%).

 

Diante desse cenário, que escancara a urgência de haver maior visibilidade para a participação das mulheres na política, o evento 2º Encontro Mulheres na Política: conversa com candidatas a vereadoras aconteceu em 24 de setembro, no Galpão ZL, núcleo de Prática de Desenvolvimento da Fundação Tide Setubal no Jardim Lapena. A primeira edição do projeto, Mulheres Eleitas, aconteceu em 2022 e teve à época correalização com o Fórum Social da Zona Leste.

 

Desta vez, o evento contou com participação das seguintes postulantes, de orientações políticas diversas, ao próximo mandato:

 

 

  1. Adriana Vasconcellos (MDB);
  2. Célia Assumpção (PT);
  3. Elaine Mineiro, da mandata coletiva Quilombo Periférico (PSOL);
  4. Jady Veríssimo (PSB);
  5. Jaque Petrovik (União Brasil);
  6. Keith Lima (PSOL).

 

Sobre oportunidades e direitos

Um dos temas que teve destaque no 2º Encontro Mulheres na Política: conversa com candidatas a vereadoras disse respeito, então, aos cuidados com as crianças, em especial com foco em marcadores como raça e território. Nesse sentido, um aspecto central disse respeito ao desenvolvimento de políticas públicas multissetoriais para elas poderem desenvolver os seus respectivos potenciais.

 

Dentro dessa lógica, Adriana Vasconcellos citou como exemplo a ginasta e multimedalhista olímpica Rebeca Andrade, cujos primeiros saltos foram impulsionados por um projeto desenvolvido pelo poder público em Guarulhos, cidade da Região Metropolitana de São Paulo: “quantas meninas pobres poderiam ser as próximas Rebecas? Mas os direitos não chegam aos nossos territórios.” Ainda nessa chave, Adriana destacou, então, o fato de que oportunidades apresentam novos horizontes de futuro para crianças e adolescentes com trajetória periférica. “A falta de oportunidade tira até o nosso direito de sonhar com outras possibilidades. Todo mundo gosta muito de falar que as periferias”, destaca.

 

Desse modo, para mudar esse cenário, de acordo com ela, a população das periferias precisa estar em espaços de decisão no Estado para lutar por direitos nesse sentido. “Os direitos não chegam aos nossos territórios e isso não é por acaso: é por não estarmos lá e fazermos essa disputa. Somos nós que sentimos a desigualdade todo santo dia. E temos de estar na política institucional.”

 

Nesse sentido, quando se fala em disputa nesse cenário, em especial no que diz respeito à participação de mulheres na política, Keit Lima apresentou outra dimensão pela qual o dinheiro não chega aos territórios. Para ela, isso relaciona-se a decisões políticas, que influenciam a desilusão popular com a política institucional. “As periferias não querem discutir política. Por quê? Estamos cansados de ver gente pedir voto a cada dois anos e sequer votar, e a minha candidatura nasce com essa revolta”, comenta.

 

Além disso, Keit Lima ressaltou que, mesmo com a distância da política da vida da população das periferias, os partidos políticos são importantes – e determinam o projeto político das pessoas. No entanto, a disputa nesse âmbito tem caráter coletivo. “A política institucional decide se os direitos chegam e, inclusive, uma cidade boa para as periferias é uma cidade boa para todas as pessoas. É necessário discutir o orçamento da cidade para ser possível ter o melhor projeto. Se o dinheiro não chegar, é necessário disputar na política institucional.”

 

O território no centro

Outra dimensão que deu o tom do 2º Encontro Mulheres na Política: conversa com candidatas a vereadoras passou, enfim, pela centralidade do território para nortear a atuação política. Nesse sentido, Jady Veríssimo destaca a dicotomia que se revela para quem nasce nas periferias: navegar entre medos e sonhos – “mas esse medo não pode nos tomar”, destaca. Desse modo, o medo dialoga com a chave da violência urbana – cujo combate atribui-se, por meio da Segurança Pública, à esfera estadual.

 

Todavia, dentro da lógica que a candidata apresentou, o medo não pode chegar antes do desejo de construir novos horizontes para a cidade. E isso passa, desse modo, pelo protagonismo do território. “É da favela que é onde trabalho, onde eu estudo – no Cangaíba, que é o bairro onde moro e nasci. É com o pobre, a minha família, a minha comunidade e com as periferias que chegaremos.”

 

Assim sendo, ao dialogar com a lógica territorial, Jaque Petrovik ressaltou o seu histórico de atuação territorial, em bairros como Jardim Pantanal, para apoiar a produção cultural de artistas da região e possibilitar que a população local tivesse acesso, então, a projetos com esse teor. “A cultura muda o ser humano em si – e isso é muito bacana. Entendo que deveria haver mais verba para mudar e trazer uma virada cultural para dentro da comunidade – seria enriquecedor para a nossa comunidade.”

 

Outro ponto que a candidata apresentou, no que diz respeito à atuação territorial, disse respeito à busca pelo diálogo. “Precisamos escutar mais, entender mais e não virar as costas. Quando viramos as costas para a política, viramos as costas para nós mesmos.”

 

 

 

Assista ao episódio da série Galpão de Histórias com Maria da Glória Oliveira, liderança comunitária do Jardim Lapena

 

 

Educação, cidadania e inclusão

Um ponto que Célia Assumpção apresentou no 2º Encontro Mulheres na Política: conversa com candidatas a vereadoras disse respeito ao fato de que a cidade precisa ser inclusiva. Desse modo, o ambiente escolar tem papel estratégico nesse contexto e precisa de projeto político-pedagógico por meio do qual a inclusão de todas as nuances sociais e formativas, contemplando especificidades de suporte, seja contemplada.

 

“Considero que há uma grande necessidade de formação e capacitação, e que professores sejam fortalecidos dentro da sala de aula para atender crianças atípicas. Então, se não houver esse projeto político e inclusão, e se a escola não estiver preparada, todos sofrem. Sofrem a família, os professores e toda a comunidade”, ressaltou.

 

Em consonância com essa dimensão, Elaine Mineiro apresentou, enfim, abordagem pela qual outros equipamentos públicos – e, consequentemente, a estrutura da cidade – estejam aptos a atender às famílias e às crianças que demandem graus elevados de suporte. “As praças públicas do município precisam ter brinquedos adaptados para receber essas crianças, assim como os equipamentos de saúde e de cultura do município. A cidade precisa ser preparada para atender às demandas de todas as pessoas que utilizam os equipamentos públicos.”

 

Por fim, Elaine Mineiro destacou o fato de que são as mães quem se tornam responsáveis pelo cuidado de pessoas com nível maior de suporte em suas respectivas famílias. E, por isso, deve-se considerar essa lógica como uma rede maior de apoio. “Como a cidade está preparada e como propõe políticas públicas efetivas para essas crianças terem acesso dependendo do seu nível de suporte? Isso precisa ser visto.”

 

 

 

Texto e foto: Amauri Eugênio Jr.


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