Jardim Lapenna recebe campanha de incentivo à leitura que une contação de histórias e a Turma da Mônica
Iniciativa do Instituto Mauricio de Sousa e Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal distribui kits da Turma da Mônica no território, com articulação local do GT de Infância do Galpão ZL, que promove formações e ações contínuas para crianças e cuidadoras
Uma campanha nacional que ressalta a importância de contar histórias para crianças desde os primeiros meses de vida chegou ao Jardim Lapenna, bairro da zona leste de São Paulo onde funciona o Galpão ZL, núcleo de Prática de Desenvolvimento Local da Fundação Tide Setubal. A ação Contar Histórias na Primeira Infância é Para a Vida Toda, fruto da parceria entre o Instituto Mauricio de Sousa e a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, distribuiu kits de gibis da Turma da Mônica no território.
A ponte entre a iniciativa nacional e a comunidade foi o Grupo de Trabalho de Infância (GT de Infância) do Jardim Lapenna, que recebeu os materiais e os distribuiu para entidades locais, fortalecendo uma rede de cuidado que já atua no território.
Essa ação integrou-se, então, ao trabalho contínuo do grupo, que é formado por moradores que, há meses, planejam e executam atividades para as crianças do Lapenna. A campanha foi o reflexo de um processo formativo sobre parentalidade e primeira infância que tem mobilizado cuidadoras e transformado realidades.

Crianças do Jardim Lapena durante distribuição de kits da campanha ‘Contar Histórias na Primeira Infância é Para a Vida Toda’ (Foto: Divulgação / Galpão ZL)
O legado de Mauricio de Sousa e o poder das histórias
A campanha Contar Histórias na Primeira Infância é Para a Vida Toda tem raízes na história de Mauricio de Sousa. Nesse sentido, Larissa Purvini, gerente do Instituto Mauricio de Sousa, explica que a nova missão da instituição, focada no apoio à alfabetização e estímulo à leitura, resgata a essência do legado do criador da Turma da Mônica.
“Mauricio sempre ouviu, ao longo de sua trajetória, a frase: ‘Eu aprendi a ler com a Turma da Mônica’”, relata Larissa. “Ele é o único desenhista que faz parte de uma academia literária – a Academia Paulista de Letras. Sua obra serve de apoio, porque os alfabetizadores, obviamente, são as professoras, e ela estimula a leitura.”
Desse modo, a escolha de focar na primeira infância (0 a 6 anos) veio da constatação de que a leitura compartilhada entre cuidadoras e crianças começa cedo – e, por muitas vezes, com os gibis. Para a campanha, fizeram então uma parceria com a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, especialista no tema.
O personagem escolhido para protagonizar a campanha foi Nelson, O Nenê. “Nelson entra como um veículo, assim como a Turma da Mônica Baby, por ser um personagem carismático, que atrai atenção e é lúdico e colorido”, explica Larissa. “A ideia é levar dicas de como introduzir a leitura no dia a dia, sem grande dificuldade, para que todas as famílias possam participar.”
Assim sendo, ela ressalta também a importância da representatividade. “Nelson e Milena [outra personagem da Turma da Mônica Baby] acabam combinando muito, pois representam a maior parte da população brasileira. É legal que a população se enxergue nesses personagens.”
Larissa destaca, então, o poder do gibi como ferramenta de letramento. “O quadrinho é o casamento da imagem com o texto. A criança, mesmo que ainda não conheça as letras, faz uma leitura das imagens. Ele acaba sendo a primeira porta para a criança falar: ‘Nossa, ler é muito bacana’.”
A articulação do GT de Infância
Malu Gomes, analista de Programas e Projetos da Fundação Tide Setubal, conta então como foi a chegada dos kits ao Jardim Lapenna. “A gente recebeu os kits e dividiu entre as entidades do território. Foram a Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Jardim Lapenna, a Associação de Moradores do Mutirão e o Centro de Educação Infantil (CEI) Horebe”, explica. “Cada uma fez seu trabalho de leitura com as crianças e, no final, realizou a entrega dos gibis.”
Por trás dessa distribuição estratégica, está o GT de Infância, um grupo que nasceu a partir do Plano de Bairro, uma construção coletiva de moradores. Dinamizado por moradoras como Laís Dias, pedagoga e recreadora, o grupo é a espinha dorsal das ações voltadas para a primeira infância na região.
Laís descreve a atuação do grupo como um sonho em construção. “A minha vontade, antes mesmo de iniciar no GT de Infância, já era trabalhar com criança. Comecei no GT com a necessidade de apresentar coisas diferentes para o território. Aqui as crianças estudam somente em meio período. Se tivesse uma atividade contínua, com certeza faria a diferença.”

Ilustração da campanha ‘Contar Histórias na Primeira Infância é Para a Vida Toda’, da Turma da Mônica, em que aparecem uma versão bebê de Mônica – segurando o coelho Sansão – e os personagens Nelson, o Nenê e Milena – também versão bebê (Divulgação / Instituto Mauricio de Sousa)
Formação que gera transformação com a Turma da Mônica
Antes mesmo da entrega dos gibis, o GT de Infância passou por uma formação fundamental. Em julho, a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal promoveu dois dias de imersão sobre os cinco pilares da “primeira infância e parentalidade” com o grupo.
“Eles nos deram um guia de apoio para todos nós e alguns gibis da Turma da Mônica que tem um mascote – Nelson, O Nenê -, que traz instruções para as crianças.”
Inspiradas pela formação, as integrantes do GT replicaram o conhecimento no território. Realizaram duas rodas de conversa com mães e cuidadoras. A primeira, em outubro, foi uma parceria com o grupo Guardiãs do Território. O evento contou com recreação para as crianças e, desse modo, permitiu que as mães participassem ativamente. O segundo encontro, focado em nutrição e saúde, teve a presença de uma psicóloga e uma nutricionista da UBS local, que ensinaram, por exemplo, receitas saudáveis.
Tecendo redes para o futuro
A ação no Jardim Lapenna exemplifica como as parcerias podem, quando articuladas com grupos locais fortalecidos, gerar impacto real e duradouro. Além da distribuição das revistas, a campanha fortaleceu o GT de Infância, forneceu formação qualificada e ampliou, então, o repertório de atividades para as crianças e famílias.
Por fim, o trabalho do GT, impulsionado por moradores como Laís, traz esperança. Enquanto isso, cada gibi da Turma da Mônica distribuído é uma semente. Uma semente que, regada pelo afeto na hora da história, pelo trabalho incansável de grupos comunitários e por parcerias estratégicas, tem o poder de florescer em um futuro com mais leitura, mais vínculo e mais oportunidades para todas as crianças do território.
