Festa junina no Jd. Lapenna resgata tradições populares
Ritmos brasileiros, comidas típicas marcaram presença em três dias de festejos juninos
Mais de 3900 pessoas participaram da Festa Junina do Galpão de Cultura e Cidadania, do Jd. Lapenna, distrito de São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo (SP), no fim de semana de 25 a 27 de junho. O público, formado sobretudo de moradores do bairro, prestigiou grupos que resgatam expressões da cultura popular, como congada, maracatu e catira. O som do forró de pé de serra levou muitos à dança, e não faltaram a tradicional quadrilha, as bandeirinhas e os balões. Além da viagem pelos ritmos brasileiros, os participantes apreciaram os sabores da cozinha do interior: nas barracas havia bolo de mandioca, baião de dois, vaca atolada, galinhada e muitos outros pratos típicos.
Segundo Maria Alice Setubal, presidente do Conselho da Fundação Tide Setubal, que co-administra o Galpão com a Sociedade Amigos do Jd. Lapenna, a proposta da festa é justamente fazer esse resgate da tradição popular, especialmente das manifestações do Nordeste, uma vez que a comunidade local, em sua maioria, é natural daquela região do país. “O que queremos é que esta festa fique cada vez mais arraigada e enraizada na comunidade, para trazer esse sentido de identidade e de pertencimento”, destacou Maria Alice.
Neste ano a comunidade participou mais de perto da organização da festa. Pela primeira vez uma comissão — composta por moradores e integrantes da Sociedade Amigos do Jd. Lapenna e da Fundação Tide Setubal — se reuniu para preparar o evento. José Nário Pereira dos Santos, o seu Narinho, atual presidente da Sociedade, avalia que o resultado foi excelente. Ele lembrou que, antes, a festa era na rua e, em 2010, com a transferência de todas as atividades para o Galpão, o evento ganhou mais estrutura. “A comunidade está feliz”, disse.
Participação de todos
Antonio Brasileiro, 70 anos, e Maria da Glória Oliveira, 65 anos, moradores do Lapenna, elogiaram a mudança. “Aqui dentro é bem melhor. O pessoal tem mais segurança”, disse Antonio, que montou uma barraca de algodão doce no espaço. Glória vendeu bolos e ressaltou o clima familiar da festa: “Está tudo tranquilo; formamos uma grande família”.
A nova geração também contribuiu. A turma do Projeto Espaço Jovem, iniciativa da Fundação voltada a meninos e meninas entre 14 e 18 anos, organizou o tradicional Correio Elegante. Joyce Alves dos Santos, de 18 anos, contou que os jovens criaram cartões em formato de coração com mensagens para distribuição durante a festa. Nos três dias de arraial, o grupo se revezou para estimular o público a participar da brincadeira.
As mulheres do Programa Ação Família São Miguel, realizado pela Fundação, se mobilizaram para vender quitutes especiais numa barraca própria. Onze funcionários do Centro de Educação Infantil (CEI) da Tia Rosinha colocaram à venda pratos preparados pela cozinheira da creche. “Não tive dificuldades para envolver o grupo”, disse a diretora Sandra Lima.
Dança e cantoria
A soma de esforços de cada um garantiu um grande arraial. As crianças se divertiram com os Contadores de Mentira, de Suzano (SP), grupo teatral que relatou a história de Lampião. A animação ficou em alta com a presença de grupos de cultura popular como a Congada de Santa Ifigênia e a Congada e Marujada Nossa Senhora do Rosário, que mostraram os ritmos de origem africana, marcados pelos instrumentos de percussão. No repertório, canções em homenagem ao Divino e aos santos católicos, revelando o sincretismo da cultura brasileira.
O samba de Pirapora fez o público dançar ao som do bumbo. Quem também chamou a atenção foi o Maracatu de Baque Virado Porto de Luanda. “Vim para ver o maracatu porque gosto de batucada”, contou Edivaldo Oliveira Silva, morador do Lapenna. “Só conhecia de leitura e achei bem interessante”, opinou. No caso dos namorados Ana Maria Ferreira da Silva e Roberval Alves da Silva, o forró foi o fator decisivo para sair de casa. “Viemos porque gostamos de dançar muito”, disse Ana Maria, enquanto descansava no intervalo da apresentação do Trio Rastapé Flor de Muçambê.
Para a família Vieira Sampaio, de Itaquera, o que contou mesmo foi a presença da quadrilha na programação. Pai, mãe e filhos souberam da festa pela internet e resolveram ir ao Galpão. “Há mais de dez anos não via uma quadrilha em festa junina”, ressaltou Vagner, que também aproveitou para dançar forró na apresentação dos artistas locais Sacha e Raberuan.
“Tudo o que via nas quadrilhas de Alagoas encontrei aqui”, contou Helena Teresa da Silva, 41 anos, moradora do Jd. Camélia. Ela levou a filha Bianca, 6 anos, para ver uma quadrilha pela primeira vez. “Fiquei encantada. O que acho bonito é que São Paulo está trazendo essa cultura para cá.”
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