4° Encontro de Cultura Hip Hop animou 2 mil pessoas em São Miguel
O evento foi marcado pela apresentação de filmes, seguidos de debates
No sábado, 20 de março, o CDC Tide Setubal sediou o 4° Encontro de Cultura Hip Hop, promovido pela Fundação Tide Setubal. Durante mais doze horas, cerca de 2 mil pessoas, de diferentes bairros da cidade, passaram pelo clube, localizado em São Miguel Paulista, na zona leste da capital. Elas se divertiram com uma programação bem diversificada, que, além de muita música, foi marcada por break, grafitagem, street ball e skate.
Gabriela Reis Oliveira, de 21 anos, moradora da Brasilândia, região norte da cidade, saiu do trabalho e foi direto para festa. “Sempre freqüentei eventos de hip hop, mas essa é a primeira vez que venho aqui. Também me interessei pelo encontro, porque estou estudando esta manifestação cultural no meu trabalho de conclusão do curso de graduação em História”.
A universitária levou para o evento dois amigos: Renata Rocha Santos, de 23 anos, moradora de Itaquaquecetuba, município da região metropolitana de São Paulo, e Daniel Diego, de 20 anos, morador do bairro do Imirim, na zona norte. Os três se conheceram num evento hip hop e aproveitam todas as oportunidades de experimentar as festas afins.
Cibele Eneide de Abreu Sá foi conferir os grafites com o marido Leandro e a filha Maria Eduarda, de 4 anos de idade. A família mora na mesma rua do CDC. “Gosto de ver como utilizam a arte para passar mensagens relacionadas à realidade atual”, afirmou Cibele.
Para o rapper Sombra, que se apresentou à noite, agregar diferentes pessoas é uma das características do hip hop. “A festa reúne gente que já conhece nossa cultura, mas há quem tenha aqui a oportunidade de conhecer esse universo”. O MC Criolo Doido também ressaltou o intercâmbio entre os participantes do evento como o ponto alto. “O grande lance é você ver o rosto das pessoas e receber a energia delas”, disse um pouco antes de subir ao palco do CDC.
Mensagem nas telas
Uma das novidades deste ano foi a exibição dos filmes: “Profissão MC”, de Alessandro Buzo e Toni Nogueira, protagonizado pelo rapper Criolo Doido, e “Dias Melhores Virão”, de Claudia Cristina. Ambos tratam do universo hip hop nas periferias de São Paulo. O longa-metragem de Buzo, gravado no bairro do Itaim Paulista, mostra a história de um rapper desempregado, cuja namorada está grávida, e que precisa decidir entre duas propostas: entrar para o tráfico de drogas ou continuar apostando no rap.
“Quem fez o filme foi a periferia, eu fui um mera peça”, disse Buzo durante debate após exibição do longa. Ele enfatizou a mobilização da comunidade no momento das gravações. A maioria dos personagens foi interpretada por moradores do Itaim Paulista.
O filme tem sido exibido em eventos e escolas. “Muitos meninos estão vivendo o dilema de entrar no mundo do crime. Mostro que o caminho do crime não vale a pena. Na vida real, não é como na ficção: quando você estiver na cadeia, o filme não volta”, destacou Buzo. O diretor, estreante e autor de cinco livros, destacou, ainda, que o público precisa valorizar a produção local.
Aliás, é esse um dos objetivos principais desse Encontro promovido, anualmente, pela Fundação Tide Setubal. “Queremos dar visibilidade aos atores ativos da região e promover o diálogo entre os diversos sujeitos da comunidade”, explica Tião Soares, coordenador do Projeto ArteCulturAção, da Fundação Tide Setubal.
Fernando RV é um dos artistas da região. Desde 2007, participa da festa, atuando no grafite e como rapper do Causa Polêmica. Segundo ele, a iniciativa da Fundação ampliou o acesso à cultura hip hop em São Miguel, que não contava com um acontecimento assim, focado e específico. “Este ano foi muito bacana também. É importante ter espaços, como o CDC, abertos para o movimento”, comentou.
Homenagem à Dina Dee
Os artistas aproveitaram a ocasião para prestar homenagem à rapper Dina Dee. Considerada uma das principais vozes femininas do hip hop, Dina faleceu na madrugada de sábado (20/03), vítima de uma infecção generalizada. “Ela era uma grande personalidade do movimento. Por isso, dediquei meu grafite a ela”, disse RV. Buzo lembrou da artista antes da apresentação de seu filme e pediu ao público uma salva de palmas para homenageá-la.
Apesar da tristeza pela morte da colega, os artistas não deixaram de divertir o público. A programação contou com as apresentações musicais de: Causa Polêmica, Projeto Play, Pródigos e Real Periferia. Também participam os b-boys Nelson Triunfo, Contra Ataque e Brack, e os djs Elvis e Negrito.
Impressões de quem foi ao 4°Encontro de Cultura Hip Hop
O 4° Encontro de Cultura Hip Hop animou o público do CDC Tide Setubal. Durante doze horas,quem participou da festa pode contar uma programação diversificada, que incluiu dança, música, grafite e cinema. O evento reuniu jovens de vários bairros da capital paulista e da região metropolitana. Também levou famílias a conhecerem mais sobre esse universo. Leia a seguir os depoimentos de algumas pessoas que passaram pelo evento em 2010.
“Sempre freqüentei eventos de hip hop, mas é a primeira vez que venho aqui. E gostei. Vim ver como a comunidade se organiza para fazer a festa, pois estou estudando esta cultura no meu trabalho de conclusão do curso de graduação em História.
Gabriela Reis Oliveira, 21 anos, moradora da Brasilândia, na zona norte da capital paulista
“Vim para assistir ao filme ‘Profissão MC’, do Alessandro Buzo, e para acompanhar meus amigos (Gabriela e Daniel). Costumamos ir juntos aos shows. Estou curtindo”.
Renata Rocha Santos, 23 anos, moradora de Itaquaquecetuba, município da região metropolitana de São Paulo
“Gosto de hip hop, principalmente, porque o movimento busca a inclusão social. Também estou aqui para me divertir com as minhas amigas, que conheci em um evento parecido com este”.
Daniel Diego, 20 anos, morador do Imirim, na zona norte da capital paulista
“Sou vizinha do CDC. Sempre venho aqui com minha filha, de 4 anos, para brincar. Hoje, a família apreciou os grafites. Gosto de ver como o pessoal utiliza a arte para passar mensagens relacionadas à realidade atual”.
Cibele Eneide de Abreu Sá, moradora do Jd. São Vicente, em São Miguel Paulista
“Faço grafite e gosto do som. Também acho que quando há eventos grátis, temos de prestigiar. É importante ter esse tipo de opção cultural nas periferias”.
Cristina Galvão, 23 anos, moradora de Guarulhos, município da região metropolitana de São Paulo
“Deveria ter mais eventos como este. O rap está um pouco esquecido e é um som que passa informação. Hoje, é importante transmitir mensagens positivas, ajudar na educação das crianças, dos adolescentes e dos jovens”.
Marcos Nunes, 24 anos, morador de Itaquera, bairro da zona leste da capital Paulista
“É um dos melhores eventos da região pela estrutura de som e pela qualidade do material oferecido aos artistas. Seria legal se houvesse mais encontros como este durante o ano”.
Du Meen, morador do Itaim Paulista, pelo terceiro ano grafita no encontro de hip hop realizado no CDC