Durante o mês de outubro, o rádio estará presente no dia-a-dia dos jovens do Projeto São Miguel no Ar de uma maneira diferente. O contato irá além dos celulares, do mp3 ou das caixinhas de som do computador, eles aprenderão a produzir para esse veículo. Deixarão de ser ouvintes para se tornarem produtores.
“Vamos trabalhar a linguagem, a parte técnica e a produção de diferentes programas de rádio. A idéia é que eles vivenciem e entendam o diferencial de comunicar para a comunidade, de uma maneira prática”, explica José Luiz Adeve, coordenador do projeto São Miguel no Ar.
Para começar esse processo, os jovens participaram de um Papo Cabeça e conheceram um pouco das experiências da professora Maria Inês Amarante, doutoranda em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e bolsista do CNPq. Inês atua com foco nas rádios comunitárias há mais de vinte anos. Participou também do projeto de cooperação internacional do Timor Leste no Programa de Formação de Docentes e Ensino da Língua Portuguesa da Capes – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.
Para Inês, a experiência de participar da produção é uma maneira de gerar um sentimento de inserção nos jovens. “A produção de rádio abre novos canais. È uma forma de criar modelos onde caibam a expressão e a criatividade de cada um deles”, explica.
Para apresentar novas referências, a convidada mostrou programas produzidos por diversas rádios comunitárias no Ceará com formatos de rádio novelas, spots de campanhas sociais e documentários divulgados pela AMARC (Associação Mundial de Rádios Comunitárias). “Produzir rádio não é apenas o movimento de anunciar ou ‘desanunciar’, repetindo modelos. È sim produzir um discurso cultural e social”, destaca. Na avaliação de Inês, esse encontro foi um momento de descobertas. “Eles ouviram pessoas que não conhecem abordando uma realidade muito próxima do dia-a-dia deles.”
A afirmação da professora Inês é validada pelo depoimento dos jovens que participaram do encontro. Camila Rafaela Santos de Morais, 17 anos, saiu do Papo Cabeça com muitas idéias. “A conversa aguçou o meu desejo de fazer rádio novela com temas trazidos pela comunidade, coisas do cotidiano. Algo sobre sexualidade, as histórias do Lapenna, que pesquisamos recentemente. Provocar conversas e reflexões”, reflete.
Raymara de Sousa Marques, 16 anos, também saiu animada do encontro. “Achei muito bacana a roda, pois a Inês Amarante conseguiu despertar ainda mais, o meu interesse pelo trabalho de rádio. E o mais importante desse Papo Cabeça é que eu entendi que é necessário persistir em coisas novas, e a rádio com suas novas formas é uma maneira de revolução”
O Papo Cabeça trouxe experiências, sanou dúvidas e despertou a curiosidade. “Agora, vamos partir para as produções. Sugerimos a principio uma campanha com o tema saúde, mas outras idéias, certamente, virão”, finaliza Chico Lobo, responsável pela oficina de rádio.