Shows, grafite, filmes e roda de conversa marcam Ano da França em São Miguel
Confira o que aconteceu no intercâmbio entre jovens brasileiros e franceses no ultimo final de semana
No fim de semana de 18 e 19 de julho, a comunidade de São Miguel Paulista acompanhou e participou, no CDC Tide Setubal, do intercâmbio cultural entre artistas brasileiros e franceses, como parte das comemorações do Ano da França no Brasil. A programação especial contou com grupos de rap e hip-hop, exibição de documentários e videoclipe, grafite no CDC e em ruas do bairro e roda de conversa sobre as periferias francesa e brasileira. A programação foi possível por meio de parceria entre a Fundação Tide Setubal, a Secretaria Estadual de Relações Internacionais, a Subprefeitura de São Miguel Paulista, o Instituto Alana, o Consulado Francês e representantes da Region Île de France e da Region PACA.
No sábado, dia 18, pela manhã, teve início a grafitagem de dois dos quatro muros do CDC, com participação do francês Remy Uno e de 18 grafiteiros brasileiros – Fernando RV, Bozer, Grilo, Lipe, Dumeem, Chuck, Manulo, Os Emis (3 integrantes), Chorão, B.O., Toto, Cidres, Negrito, Xyrox e Ignoto. Segundo Grilo, de 27 anos, o pessoal já se conhecia pela internet, via pela qual tomam contato com a produção de todo o mundo. “O grafite nasceu com uma certa rivalidade, com uns atropelando o trabalho de outros, mas hoje não tem mais isso.” Grilo enfatizou que durante o encontro, a única coisa que separava os brasileiros dos franceses era mesmo a língua. “Com o grafite, nós nos entendemos. É a mesma manifestação.”
À noite, os grupos brasileiros Criminal Rap, Causa P Band e Madr Family receberam os MCs Mike Jack e Deehar Degaz, integrantes do Shaolyn Gen Zu, grupo francês de rap e hip-hop da cidade de Clichy-sous-Bois, subúrbio nos arredores de Paris. O ponto alto, e que levou a platéia jovem ao delírio, foi quando os grupos brasileiros e os integrantes do Shaolyn Gen Zu subiram ao palco do CDC e, de improviso, rimaram, ritmaram e dançaram, cada qual em sua língua, sobre o tema-base “c´est la vie!” (“é a vida!”), em alusão a suas vidas nas periferias. Para Alex, do Criminal Rap, “esse tipo de encontro é ótimo porque, quanto mais a gente expande o conhecimento, mais abre a mente e mais aprende”.
Pelas ruas do bairro
Na manhã de domingo, os artistas do grafite retomaram e finalizaram a intervenção nos muros do CDC. No início da tarde, ao lado dos artistas brasileiros, os franceses Bom.K e Remy Uno e o grupo L’Artmada participaram, a pé, do chamado Trajeto Urbano, uma caminhada pelas ruas da área mais central de São Miguel. Durante o percurso, fizeram intervenções de grafite nos muros e paredes cedidos de forma espontânea pela população. Jovens alunos da oficina de grafite ministrada por Chuck, no Jardim Pantanal, por meio do Instituto Alana, também estavam presentes.
No CDC, por volta das 16h, foram exibidas produções de Ladj Ly, documentarista francês, ator e diretor, participante do Coletivo Kourtrajmé, que filmou as rebeliões de jovens da periferia parisiense em 2005. A platéia assistiu a dois curtas-metragens (365 Jours a Clichy-Montfermeil e Go Fast Connexion) e a um videoclipe (Justice, da dupla francesa de hip hop Stress).
Debate no CDC
Uma roda de conversa sobre as periferias, realizada entre 17h e 18h30, no auditório do CDC, fechou a programação. Artistas, moradores, funcionários da Subprefeitura de São Miguel e integrantes do movimento de hip-hop local trocaram informações. Entre os expositores, estavam Ladj Ly; Mehdi Bigardene, ativista da Association Collectif Liberté, Egalité, Fraternité, Ensemble (Aclefeu), que trabalha com jovens do município de Clichy-sous-Bois, e é hoje subprefeito da área social; Fernando RV, grafiteiro brasileiro; Luzia Soares, consultora da Audoc.con; e Tião Soares, coordenador de projetos da Fundação Tide Setubal.
As imagens captadas por Ladj Ly motivaram o início da conversa, a qual girou em torno dos desdobramentos sociais e políticos dos levantes de 2005 nos arredores de Paris, quando, durante os protestos, vários carros foram queimados. Mehdi Bigardene explicou a origem e o trabalho da Aclefeu. A própria sigla da associação já remete ao conteúdo histórico, pois, em tradução livre, significa “Chega de Fogo”.
O ativista também detalhou o processo pelo qual os confrontos resultaram numa mobilização social nessas comunidades da periferia parisiense, cujos líderes acabaram se articulando nos chamados coletivos e conquistando, em seguida, uma participação política efetiva dentro dos quadros da administração pública. “Garantimos um lugar na discussão e na criação de políticas públicas para nossas comunidades, algo impensável em outros tempos”, afirmou Mehdi.
Confira aqui as impressões dos franceses que participaram do evento