Analista de comunicação e produtor de conteúdo do site da Fundação Tide Setubal
Escolas criam programação e colocam em prática o “fazer juntos”
A participação ativa das escolas públicas na 6ª edição do Festival do Livro e da Literatura de São Miguel Paulista mostra que a trajetória percorrida pelo evento não propaga somente conhecimento. A mobilização, o intercâmbio e a prática do “fazer juntos” ganham, a cada edição, mais força. No total, 23 escolas participaram com atividades […]
A participação ativa das escolas públicas na 6ª edição do Festival do Livro e da Literatura de São Miguel Paulista mostra que a trajetória percorrida pelo evento não propaga somente conhecimento. A mobilização, o intercâmbio e a prática do “fazer juntos” ganham, a cada edição, mais força.
No total, 23 escolas participaram com atividades na programação. “Muitas, durante três dias, se transformaram em pontos de arte e cultura. Em graus e formas diferentes, as atividades propostas abordaram temas de relevância para o nosso processo democrático: a luta contra a ditadura, a mobilidade urbana como direito à cidade, o sistema carcerário, a redução da maioridade, entre outros”, explica Inácio Pereira Neto, organizador do evento e coordenador do Núcleo de Arteculturação da Fundação Tide Setubal.
As EMEFs Antônio Carlos de Andrada e Silva e Faveira do Mato são exemplos dessa atuação. Pelo segundo ano consecutivo, as escolas, que se localizam na mesma rua, desenvolveram atividades culturais em conjunto. “Este ano, levamos duas peças teatrais para a nossa Esquina Literária, além de realizarmos exibição de filmes, intervenções literárias e rodas de conversa com convidados”, explica Kelly Castro, coordenadora pedagógica da EMEF Faveira do Mato.
Em sua opinião, o festival dá visibilidade não somente ao trabalho pedagógico desenvolvido: “É muito gratificante ver a alegria das crianças em fazer parte da programação. Você não tem ideia do orgulho que eles sentem ao serem citados no livreto distribuído pela Fundação na região”.
Já para Antonio Tadeu Bezerra da Silva, professor de Geografia da EMEF Antônio Carlos de Andrada e Silva, que participou pela primeira vez do evento, o festival abre as portas das escolas para a comunidade: “As atividades literárias são muito positivas, pois disseminam a cultura e colocam os alunos em contato com a arte, além de contribuírem com o aumento da participação da comunidade nas atividades educacionais. Por isso, ser parceiro da Fundação é motivo de orgulho para todos”.
A articulação entre as duas escolas proporcionou um debate sobre o sistema prisional brasileiro, a redução da maioridade penal e o trabalho da Defensoria Pública, com a participação da comunidade. Na roda de conversa, estavam Bruno Shimizu, Verônica Sionti e Patrick Cacicedo, defensores públicos, e Douglas Belchior, professor de História. Na plateia, os alunos convidados do EJA Dom Paulo Rolim Loureiro.
“Nesta edição, resolvemos convidar outros alunos para participar da atividade. Em minha opinião, é extremamente positivo esse intercâmbio. O festival tem esse potencial mobilizador, mas somente é possível porque a Fundação Tide Setubal resolveu um dos nossos maiores problemas: o transporte dos alunos. Isso facilita muito, pois, além de visitarem os pontos centrais do evento, as escolas, que servem como pontos culturais, também podem receber alunos de outras unidades”, explicou Kelly, mediadora do debate.
Outras três escolas se uniram, durante o festival, para reescrever a história cultural do bairro Limoeiro, na zona leste, a EMEI Epitácio Pessoa e as EEs Professor Paulo Roberto Faggioni e Reverendo José Borges dos Santos Júnior. Além das atividades realizadas internamente, ocuparam a praça da Rua Daniel Arcioni e fizeram diversas intervenções culturais, uma delas foi o Leituraço. Professores, funcionários e mães fizeram leituras simultâneas na rua. Nesta praça, as árvores também amanheceram com frutos literários que foram colhidos pela população.
“É emocionante ver o encantamento das pessoas e, ao mesmo tempo, fazer parte desse processo. Aqui, na EMEI Epitácio, além do festival, comemoramos também os 40 anos de nossa escola. Um dos temas que escolhemos para trabalhar foi diversidade cultural e étnica. Temos muitos alunos que são de fora do país, principalmente bolivianos, por isso resolvemos fortalecer a importância de se respeitar a cultura de todos”, comentou Maria Cláudia Vieira Fernandes, diretora.
Alicia Gomez Virika, mãe de Laura Gomez, 5 anos, estudante na EMEI Epitácio Pessoa, e de Dener Ariel Mamani Gomez, de 14, aluno da EE Paulo Roberto Faggioni, ficou emocionada ao ver uma maquete da praça confeccionada pelos alunos da EMEI com a participação da filha. A família, que é de origem boliviana, ficou surpresa com a grandiosidade do festival. “Gostei muito de saber que meus filhos, de alguma forma, estão contribuindo com a festa. Ver a criatividade e a alegria dessas crianças, e saber que eles fazem parte disso, é algo que não tem preço”, afirmou a mãe.
Josélia dos Santos Sousa, mãe de Kethellyn Nicollyn Sousa Santos, 5 anos, também não se conteve diante do trabalho da filha. “Ela sempre falava que estava fazendo um livro e ajudando a escrever uma história, mas não imaginei que isso fosse real”, conta. “Fizemos um trabalho para estimular a aprendizagem e utilizamos o nosso território e o festival para despertar a sensação de pertencimento de nossa comunidade”, completou a professora Lucimara Bertolaccini Vergan, da EMEI.
Maria Luiza Guedes da Silva, 11 anos, aluna da EE Professor Reverendo José Borges dos Santos Júnior, também estava orgulhosa de participar do festival. “Gostei muito das atividades. Eu imaginava que o festival fosse de outro jeito. Fiquei emocionada em saber que outros alunos, de outras escolas, veriam o meu trabalho e eu poderia ver o trabalho de todos.”
Matheus Vieira da Silva, 13 anos, estudante no Exército Brasileiro, uma escola local, também assistiu, no sábado de manhã, a uma apresentação de flauta na EE Roberto Faggioni. “É a primeira vez que participo. Fiquei sabendo por amigos e decidi vir. Acho muito importante participar, pois, assim, consigo ver e ouvir coisas diferentes e adquirir um pouco de cultura”, disse o menino timidamente.
A praça Jardim Pedro José Nunes foi ocupada pelos alunos da EMEF Dr. Pedro Aleixo para contação de histórias de um jeito diferente. “Produzimos as caixas literárias; na prática, pegamos caixas que guardavam fitas VHS e criamos microcenários que serviram de palco para os nossos personagens”, explicou Angela Oliveira, professora e uma das responsáveis pela ideia.
E os alunos da Pedro Aleixo não pararam por aí. A escola, parceira da UBS Cidade Pedro Nunes, descobriu que a UBS tinha um armário com livros para os pacientes. “Ficamos sabendo do ‘Armário Poético’, resolvemos verificar os tipos de livros disponibilizados e, para nossa surpresa, só havia enciclopédias. A partir daí, os alunos que cursam o 8o e o 9o ano decidiram fazer uma campanha de arrecadação de livros para a UBS. Resultado: arrecadamos mais de 2 mil livros e suprimos não somente a necessidade da unidade de saúde, mas também doamos diversos títulos para outra entidade”, ressaltou a professora, orgulhosa da ação e de seus alunos.
Muita imaginação e cantoria animaram a festa da EMEI Maria Quitéria, localizada no Jardim Maia. Adelina Maria Martins, moradora do bairro e participante do grupo Coró, arrancou muitas risadas de crianças e adultos. “A nossa ideia é sempre fazer o resgate de cantigas e, por meio da repetição de sons, interagir com as crianças e fazê-las entrar na roda”, conta.
A emoção e um pouco de nervosismo também correram soltos entre os alunos da EMEF Comendador Vicente Amato. Coordenados por Michele Limirio dos Anjos, professora de Sala de Leitura, e pelo professor de Bandas e Fanfarra, Cleiton Luiz, algumas alunas realizaram a Oficina de Bonecas de Papel, Brincadeiras e Ludicidade, na Praça Morumbizinho. “Nunca participei do festival. A ideia de trabalhar com a questão étnica, por meio das bonecas de papel, foi da professora”, contou Sabrina Guimarães de Carvalho, 14 anos, aluna do 9o ano. Para a colega Alanis Fortunado Silva, também com 14 anos, o evento foi uma oportunidade única: “Por meio do festival, ouvimos histórias diferentes, músicas diferentes, conhecemos pessoas diferentes. Assim, percebemos que o mundo é muito maior do que a escola em que estudamos ou do bairro em que vivemos. Aqui, percebi que o sonho é a porta de entrada para a vida real”.