Elas Periféricas contempla seis iniciativas
Dialogando com sua missão de fomentar iniciativas que promovam a justiça social e o desenvolvimento sustentável de periferias urbanas e contribuam para o enfrentamento das desigualdades socioespaciais das grandes cidades, a Fundação Tide Setubal lançou em 2018 o projeto Elas Periféricas, que busca estimular a construção de novas pontes que promovam o fortalecimento de iniciativas […]
Dialogando com sua missão de fomentar iniciativas que promovam a justiça social e o desenvolvimento sustentável de periferias urbanas e contribuam para o enfrentamento das desigualdades socioespaciais das grandes cidades, a Fundação Tide Setubal lançou em 2018 o projeto Elas Periféricas, que busca estimular a construção de novas pontes que promovam o fortalecimento de iniciativas de mulheres negras por meio de formações e aporte de recursos e da conexão dessas iniciativas em uma rede mais extensa de atores sociais.
“Nesse momento, um papel importante da sociedade civil é o fortalecimento da democracia e de suas diferentes vozes. Precisamos visibilizar que as periferias fazem parte das cidades e suas vozes devem ser incluídas, então para nós este projeto é muito importante. Queremos criar uma rede potente de mulheres”, afirma Maria Alice Setubal, presidente do conselho da Fundação Tide Setubal.
No primeiro ano de realização do projeto, a seleção das iniciativas ocorreu por meio de uma chamada fechada. “Após um longo processo de co-criação com jovens lideranças e coletivos periféricos, em um trabalho cuidadoso de escuta em diferentes territórios da cidade, foram pré-selecionadas 37 iniciativas, que receberam uma carta-convite para participarem da seleção”, explica Wagner Luciano Silva (Guiné), coordenador do projeto. Depois de submeterem informações e receberem a visita da equipe da Fundação Tide Setubal, as iniciativas finalistas foram discutidas em uma comissão julgadora, com a presença de Adriana Barbosa, Fernanda Nobre, Handemba Mutana, Juliana Yade, Ronaldo Matos, Selma Moreira e Tiely Queen.
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A ideia inicial seria selecionar cinco iniciativas, mas graças a um empate técnico e à alta qualidade dos inscritos, seis projetos foram contemplados. “A gente espera que possa começar a estabelecer um relacionamento a partir de ações que realizaremos em conjunto. O que queremos é entender mesmo como podemos fortalecer cada vez mais as organizações e iniciativas de vocês”, afirmou Paula Galeano, superintendente da Fundação Tide Setubal, no primeiro encontro com representantes das iniciativas selecionadas.
Ao longo de 2019, além de receberem um aporte financeiro, as iniciativas integrarão um diagnóstico participativo para o desenho do processo de mentoria e potencialização de seus trabalhos. O apoio acontecerá mensalmente e de forma customizada para cada iniciativa, e em paralelo serão realizados encontros para o intercâmbio de ideias e a expansão das redes de contatos.
Conheça abaixo quais são as seis iniciativas contempladas na primeira edição do Elas Periféricas.
Coletivo Cultural Esperança Garcia – Quilombo da Parada
Fundado no ano de 2009, o Coletivo Cultural Esperança Garcia, que atua na Parada de Taipas, é um grupo formado por mulheres negras e periféricas que busca fomentar ações de educação, arte e cultura negra para mulheres, crianças, adolescentes e homens em situação de vulnerabilidade social. Sua missão é instrumentalizar mulheres, adolescentes e meninas negras para o enfrentamento ao racismo, preconceito, criminalização, ausência de perspectivas, violência, feminicídio e genocídiocidio. “Hoje meu maior desafio é não ter um espaço físico adequado, o projeto acontece dentro da minha casa, na minha sala, meu quarto, minha cozinha”, diz Juliana Ignácio Balduino, criadora da iniciativa.
Minas Programam
Atuando em diferentes regiões periféricas de São Paulo, o projeto ajuda a desconstruir a noção de que os homens são mais aptos a programar. Para isso, são compartilhados conhecimentos técnicos e políticos com mulheres e meninas, por meio de formações básicas em programação. O foco principal da iniciativa é envolver nas áreas tecnológicas mulheres jovens, negras e das periferias. “Temos um curso anual que dura cerca de vinte dias, mas ainda possuímos o desafio de contar com um espaço físico adequado e também de oferecer recursos como transporte ou apoio logístico para que as meninas consigam acompanhar o curso”, afirma Marylly Silva, integrante da iniciativa.
Ecoflora – Mapó-Awa: mulheres negras e os sabores da terra
O projeto atua na Cidade Tiradentes e promove a formação política e cidadã sobre o universo das mulheres negras, seus saberes e ancestralidades, relacionando estes temas ao contexto socioambiental. O coletivo vem atuando desde 2015 e fomenta a educação ambiental e a sustentabilidade como ferramentas para a solução de problemas ambientais e sociais encontrados na periferia, sensibilizando e capacitando a comunidade local a mitigar os processos de degradação ambiental e humana, com oficinas, vivências e projetos. Por meio de rodas de conversas e oficinas, pretendem possibilitar o fortalecimento político dos moradores em coletivos e movimentos engajados, e também realizar atividades com fins terapêuticos, de conhecimento e de fomento às práticas de economia social.
Manifesto Crespo – Tecendo e trançando arte
“Todo o problema político que vivemos nada mais é que a falta de conexão com a nossa história. Quando voltamos o nosso olhar ao nosso corpo, conseguimos trabalhar uma série de questões, chega até a ser poético”, afirma Lucia Udemezue, membra da iniciativa. O Manifesto Crespo discute, desde 2011, o corpo negro em seus diálogos estéticos e políticos. Gerido por mulheres negras, fomenta o trabalho de produtoras periféricas, valorizando a diversidade da equipe, que agrega mães, senhoras, lésbicas, transsexuais, imigrantes e homens. A iniciativa desenvolve projetos educacionais em formato de oficina, roda de conversa, contação de histórias, desfile de moda e exibição de filmes, em locais como instituições de ensino, centros culturais e organizações comunitárias. O objetivo principal das ações é o fortalecimento da autoestima e a ampliação de referencial positivo das pessoas negras, propondo momentos de convivência pautados pela escuta, acolhimento e troca.
Nós, Mulheres da Periferia
O Nós, mulheres da periferia é um coletivo jornalístico formado por jornalistas moradoras de diferentes regiões periféricas da cidade de São Paulo. A principal diretriz é disseminar conteúdos autorais produzidos por mulheres e a partir da perspectiva de mulheres, tendo como fio condutor editorial a intersecção de gênero, raça, classe e território. Ativa há 4 anos, a iniciativa busca uma maior sustentabilidade e institucionalização. “Diversas publicações criadas por negras e negros já surgiram e morreram por não conseguir se sustentar. A gente não pode morrer, precisamos continuar funcionando, trabalhando e vivendo com qualidade”, afirma Semayat Oliveira, uma das integrantes da iniciativa.
Biblioteca Comunitária Djeanne Firmino
A biblioteca, localizada no Jd. Olinda, Campo Limpo, atua há 6 anos promovemos ações de incentivo à leitura e acesso à arte e cultura, realizando empréstimos de livros, oficinas e eventos artísticos. Coordenada por cinco mulheres, a iniciativa tem contribuído positivamente nos índices de letramento dos moradores do Jd. Olinda e adjacências, e trabalha em parceria com a associação de moradores do bairro, fortalecendo o espaço com atividades formativas e culturais, integrando as diversas faixas etárias do território. “Já passamos por muitos altos e baixos, e buscamos formas de vencer os abismos financeiros fazendo algo em que acreditamos, que tem consistência”, diz Alessandra Leite Nunes, membra da iniciativa.