Ações da sociedade civil e união de moradores beneficiam comunidade do Jardim Lapena
Por Amauri Eugênio Jr. / Foto: Tiago Queiroz O Jardim Lapena, bairro da zona leste de São Paulo onde está localizado o Galpão ZL, núcleo de Prática Local da Fundação Tide Setubal, é marcado por fatores diversos ligados à vulnerabilidade social, logo, praticar o isolamento social tem sido desafiador. Por esse motivo, a […]
Por Amauri Eugênio Jr. / Foto: Tiago Queiroz
O Jardim Lapena, bairro da zona leste de São Paulo onde está localizado o Galpão ZL, núcleo de Prática Local da Fundação Tide Setubal, é marcado por fatores diversos ligados à vulnerabilidade social, logo, praticar o isolamento social tem sido desafiador. Por esse motivo, a ação de moradores do território e de entidades de diversos setores da sociedade civil tem auxiliado a população local a ter condições mínimas para poder cumprir o isolamento social.
Para Marcelo Ribeiro, coordenador de Prática Local da Fundação Tide Setubal, é importante ressaltar o protagonismo de quem mora na área para minimizar esse aspecto. “Nada mais justo e coerente do que valorizar o tecido social existente na região, uma vez que faz a ajuda chegar mais rápido para as pessoas. Elas estão bem organizadas, têm cuidado uma das outras e têm o protagonismo para fazer entregas por meio da autogestão.”
Moradora do Jardim Lapena recebe kit com produtos para proteção (Divulgação)
Mais do que voluntárias, guardiãs
Foi o protagonismo da população do Lapena que motivou o surgimento das guardiãs do bairro. Cada uma das 22 guardiãs passou a cuidar das respectivas ruas onde moram e a cuidar dos vizinhos em aspectos variados, como na conscientização sobre cuidados necessários para proteger-se do novo coronavírus, identificação de quem necessita de donativos e orientações para procedimentos diversos, como cuidados médicos relacionados à pandemia e acesso a auxílios emergenciais do poder público. Além disso, elas auxiliam a equipe do Galpão ZL a detectar com mais facilidade famílias que necessitam de assistência imediata.
O início de tudo foi ainda durante as primeiras semanas de isolamento social, durante a distribuição porta a porta de itens básicos para a proteção contra a doença, como álcool em gel e máscaras, para pessoas que estão em grupos de risco. A identificação imediata das necessidades de cada vizinho feita por uma moradora da área e o conhecimento que ela tinha sobre quais estavam no grupo de risco mostrou que ações conjuntas com ela e outras pessoas poderiam ser mais efetivas. “Ela já conhecia todos e foi nos direcionando, e nós a consideramos como a nossa guardiã”, explicam Vânia Santiago e Malu Gomes, assistentes de Programas e Projetos da Fundação Tide Setubal. “Ali nasceu a ideia das guardiãs, pois entendemos que era necessário haver uma delas em cada rua do bairro para identificar onde estão as vulnerabilidades e as famílias que precisam da nossa atenção.”
Desde então, as guardiãs, que se tornaram 22, passaram a fazer a ponte para realizar doações, como nos casos dos kits formados por sabonetes doados pela Natura, máscaras concedidas pela Nitro Química e de álcool em gel cedido pela Ambev, e demais ações emergenciais no território. Mas a atuação delas representa também o fortalecimento do Plano de Bairro do Jardim Lapena quanto ao engajamento popular, pois os moradores passam a se ver como protagonistas e agentes de transformação no território. “A iniciativa tem influência no fortalecimento dessas mulheres e em como elas ficam empoderadas pelas ações no bairro. Elas se sentem extremamente realizadas estando nos papéis de guardiãs, pois se veem sendo úteis na vida de alguém”, destaca a dupla.
Julinda Costa (à direita), uma das guardiãs do Jardim Lapena (Divulgação)
A pedagoga Julinda Costa voluntariou-se para ser uma das guardiãs do Jardim Lapena. Para ela, o trabalho desenvolvido é gratificante, pois a permite auxiliar na evolução do local onde vive. “O trabalho que as guardiãs estão fazendo tem um grande diferencial, pois quando nos aproximamos de cada família e vemos a necessidade de cada uma, nós nos colocamos à disposição da melhor forma possível para poder ajudá-las, buscando sempre melhorias para ajudar o nosso bairro.”
Fonte de cidadania
Ainda que a higienização das mãos com água e sabão seja considerada um dos métodos mais eficazes na proteção contra o novo coronavírus, e que o acesso à água seja um direito básico, não são raros casos em comunidades inteiras se vejam privadas disso – além do saneamento básico.
Garantir a universalização do acesso à água e ao saneamento básico foi o que motivou a empresa social Florescer Brasil a instalar lavatórios em espaços marcados pela vulnerabilidade social. O indicador teve como base o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS) e guiou a empresa na definição das 20 comunidades onde 100 lavatórios seriam instalados por meio do Programa Cidade Solidária. Ainda, a empresa participou também do Matchfunding Enfrente o Corona, iniciativa promovida em parceria com a Benfeitoria Brasil no combate aos efeitos causados pelo novo coronavírus
O Jardim Lapena foi um dos territórios onde cinco lavatórios foram instalados. Antes disso, a conscientização ocorria por meio da ação Saúde Começa pelas Mãos, por meio da qual uma garrafa PET com água potável e outra com água e sabão eram colocadas em locais estratégicos, mediante negociação com os moradores, para a população poder colocar a higienização em prática.
Lavatório instalado no Jardim Lapena (Divulgação)
De acordo com Felipe Gregório, idealizador da Florescer Brasil, os pontos escolhidos no Jardim Lapena para inserir os lavatórios estavam definidos poucos dias após conversas feitas com a equipe do Galpão ZL. O processo, que foi inclusive conduzido em conjunto com a Sabesp, foi feito de modo que a comunidade fosse beneficiada e que o risco de extravio de finalidade fosse neutralizado. “A vazão é contínua, pois cada lavatório está plugado na rede de abastecimento da companhia. O objetivo é, neste momento, promover a higiene das mãos. A gente teve cuidado para não haver conexões indevidas com os lavatórios.”
A estimativa de pessoas beneficiadas pela iniciativa, por meio da qual 111 instrumentos foram instalados – quantidade superior à inicialmente prevista – é significativa. “A gente projeta que cada lavatório atinja entre 1,5 mil a 2,5 mil pessoas. Desse modo, estima-se que entre 200 a 300 mil pessoas sejam impactadas com essas intervenções”, pontua Gregório.
Marcelo Ribeiro, coordenador de Prática Local da Fundação, destaca também como a negociação que a população estava conduzindo anteriormente com a Sabesp mostra que a participação popular teve papel importante para potencializar o êxito da iniciativa. “Se tivéssemos de implantá-los e negociar com a Sabesp para colocar esses pontos de água por lá, isso demoraria muito. Havia um grupo articulado fazendo isso antes, o que mostra a importância do território organizado. A união de o mapeamento dos lugares, a participação de instituições fortes e da comunidade engajada rendeu pontos positivos.”
Moradores do Jardim Lapena com máscaras distribuídas no bairro (Divulgação)
Conscientização e protagonismo
Um ponto que representou desafios durante a conscientização sobre os cuidados contra a Covid-19 foi convencer a população sobre o uso de máscaras. Para contornar a resistência, recorrer à paixão esportiva foi a tática encontrada. E o futebol teve papel estratégico nesse caso – afinal, 16 times mobilizam a paixão pela mobilidade no território.
“Como os times de futebol têm uma grande identidade, como fazer os membros usar máscaras? Como o emblema do time nelas. Por meio de uma ação do Galpão ZL Esporte, foram feitas 40 unidades de máscaras para cada time, que foram feitas via parceria com um fabricante de material esportivo. E começamos a distribuir via lideranças esportivas”, completa o coordenador de Prática Local da Fundação Tide Setubal.