Curso sobre desenvolvimento solidário coloca as pessoas no centro da economia territorial
Aspectos sociais e humanitários na atividade econômica norteiam o curso Introdução ao Desenvolvimento Solidário: economia, política, educação e alimentação para territórios solidários. Formação é coordenada pelo Instituto Paul Singer, com apoio da Fundação Tide Setubal – em parceria com o Instituto Nua.
Quando se fala em ações para apoiar a atividade socioeconômica em territórios periféricos, o desenvolvimento solidário é um elemento estratégico nesse contexto. De acordo com o economista e doutor em sociologia Paul Singer (1932-2018), a economia solidária consiste no processo de fomento de novas forças produtivas e de instauração de novas relações de produção”, abrangendo a promoção de “um processo sustentável de crescimento econômico, que preserve a natureza e redistribua os frutos do crescimento a favor dos que se encontram marginalizados da produção social”.
Considerar aspectos sociais e humanitários na atividade econômica é o tema central do curso Introdução ao Desenvolvimento Solidário: economia, política, educação e alimentação para territórios solidários. A formação é coordenada pelo Instituto Paul Singer, com apoio da Fundação Tide Setubal – em parceria com o Instituto Nova União da Arte (Nua).
Os encontros têm como fio condutor o tripé que abrange economia solidária, agricultura agroecológica e educação transformadora. Participam lideranças comunitárias do Jardim Lapena e União de Vila Nova, bairros da zona leste de São Paulo.
“Foram colocadas questões a serem tratadas, como a relação Estado e sociedade; capitalismo; desenvolvimento territorial; o desenvolvimento solidário com a união de economia solidária, agroecologia e educação transformadora”, explica Marcelo Justo, diretor executivo do Instituto Paul Singer.
Kenia Cardoso, coordenadora do Programa Nova Economia e Desenvolvimento Territorial da Fundação Tide Setubal, destaca também que os encontros abordam aspectos estruturais, como raça, gênero, classe social e mercado de trabalho “Os diálogos partem sempre de experiências concretas desenvolvidas no território para ser possível pensar o mundo em conjunto. Os encontros buscam estimular a perspectiva de que experiências vividas em âmbito micro são consequência de cenário político, econômico e social maior, além de organizá-las para o movimento ganhar tração e reconhecimento que merecem.”
Desenvolvimento, participação e diálogo
Composto por 11 encontros, o curso Introdução ao Desenvolvimento Solidário: economia, política, educação e alimentação para territórios solidários lida com temas plurais e complementares. Tais tópicos dialogam com a vivência de lideranças do Jardim Lapena, ao apresentar novas possibilidades e perspectivas para o desenvolvimento econômico solidário no território. Os tópicos são:
- A relação entre sociedade civil e Estado, sobre as lutas por direitos nas periferias nas últimas décadas, formas de organização e de lutas sociais – no caso, em dois encontros;
- Desenvolvimento territorial: o que é, experiências locais e conceitos de território e redes;
- O mundo do trabalho e o mercado de trabalho: com o que as pessoas do território trabalham e os diferentes modos de produção;
- Modo de produção capitalista e o território: o que é e como funciona o capitalismo e quais são seus impactos locais;
- O que é o Estado: para que serve e como funciona a política institucional;
- Desenvolvimento e economia solidários: empreendimentos econômicos solidários em oposição ao modo de produção capitalista;
- Desenvolvimento Solidário e a agricultura urbana agroecológica: experiência local do grupo de mulheres da agroecologia e como se relaciona com o desenvolvimento local;
- Desenvolvimento solidário e educação transformadora: como práticas escolares podem se conectar com a transformação de território;
- Como o território se articula em redes;
- Avaliação coletiva do curso.
Segundo Beatriz Schwenck, pesquisadora e educadora do Instituto Paul Singer, os encontros partem das experiências inerentes ao território.
“A proposta é sempre nos sentarmos em roda e dialogarmos – para que todas e todos possam contribuir. Quando há a participação de uma pessoa convidada, ele trará um olhar especialista. Mas isso deve sempre com a proposta de ser uma metodologia democrática, com base na autogestão e para favorecer a participação de todas as pessoas e a construção de conhecimento coletivo crítico”, reforça.
Da teoria à prática
Os encontros do curso Introdução ao Desenvolvimento Solidário: economia, política, educação e alimentação para territórios solidários contam com relatos das lideranças e agentes do Jardim Lapena. Tais depoimentos são intercalados e relacionados, então, aos conceitos que norteiam a atividade em questão.
Ao mesmo tempo em que a parte teórica é central para a dinâmica dos encontros, a apresentação delas ocorre em diálogo com vivências e saberes de quem participa das aulas.
Nesse sentido, Damião Figueiredo, integrante do GT de Economia Solidária do Jardim Lapena, vê com bons olhos a formação sobre desenvolvimento solidário. Para ele, o curso pode contemplar e estimular os jovens para atuarem no desenvolvimento socioeconômico no território. “Isso, principalmente, no caso das escolas das periferias. No Jardim Lapena, por meio do Plano de Bairro, estamos envolvendo professores e diretores da EE Pedro Moreira, e chamando-os para participar. Inclusive, o diretor e o subdiretor participaram deste curso.”
Por fim, ao pensar-se no debate sobre economia solidária, tema do sétimo encontro do curso sobre desenvolvimento solidário, Kenia Cardoso destaca o processo coletivo da geração de renda nesse cenário. “A organização do trabalho é pensada em coletivo e a distribuição dos ganhos é equitativa”, comenta a coordenadora do Programa Nova Economia e Desenvolvimento Territorial. Ela destaca como ela se opõe à lógica do empreendedorismo em caráter individual. “A economia solidária acredita que nada se produz sozinho. Portanto, a divisão dos ganhos também não pode ser desigual. Gera-se renda sem reproduzir desigualdades.”
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