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Qual é a relação entre insegurança alimentar, raça e gênero no Brasil?

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31 de janeiro de 2024
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Quase um terço da população brasileira sofre com a insegurança alimentar. Isso significa que, segundo o relatório Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo, organizado por cinco agências ligadas à Organização das Nações Unidas (ONU), 70,3 milhões de pessoas lidam com algum nível de dificuldade para ter acesso plenamente satisfatório à alimentação.

 

Ou seja: em números gerais, o levantamento mostra que, entre 2020 e 2022, houve prevalência de insegurança alimentar moderada ou grave entre 32,8 milhões de pessoas em território nacional.

 

Para efeito de análise, consideremos as seguintes descrições sobre os níveis de insegurança alimentar de acordo com a ONU:

 

 

  1. Insegurança alimentar moderada: nesse estágio, pessoas lidam com incertezas sobre como obter alimentos e precisam reduzir a qualidade e/ou quantidade que consomem. Esse contexto tem relação direta com falta de dinheiro ou de demais recursos;
  2. Insegurança alimentar grave: nesse estágio, pessoas passam por escassez de alimentos e chegam a passar um ou mais dias sem comer;
  3. Insegurança alimentar aguda: em linhas gerais, esse nível de privação alimentar representa ameaça à sobrevivência da pessoa que estiver submetida a tais condições.

 

Ainda de acordo com o mesmo estudo, a subalimentação crônica, nível mais severo resultante da insegurança alimentar, atinge 4,7% da população brasileira. Assim sendo, estima-se que 10,1 milhões de pessoas estejam passando pela condição na qual o consumo regular de alimentos é insuficiente para fornecer parâmetros elementares para a manutenção de estilo de vida normal e saudável. Ou seja: estamos falando de fome propriamente dita nesse caso.

 

Mergulhando nos dados

Quando se analisa a relação entre insegurança alimentar e variáveis de raça e gênero, tais disparidades tornam-se ainda mais evidentes. Esse ponto é destacado pelo Nexo Jornal, com base em relatório da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan).

 

Ao passo que a média nacional de pessoas com insegurança alimentar moderada ou grave é de 30,7% segundo o levantamento, a de pessoas negras é de 35,9%. Quando se considera a intersecção racial e de gênero, os indicadores relativos a mulheres negras são, respectivamente, de 19,7% de insegurança alimentar moderada e de 22% em casos graves.

 

Nesse sentido, pode-se considerar fatores essencialmente econômicos quando se fala sob a perspectiva racial. Nos casos de pessoas com emprego/trabalho, 17% da população negra passava por insegurança alimentar moderada e 16,25%, grave. Quando se falava em pessoas em situação de desemprego, essas mesmas proporções para a população negra era de 25,2% para insegurança alimentar moderada e 36,9% em casos graves.

 

Quando se considera a clivagem por raça e gênero, o cenário é ainda mais dramático. Nos casos de mulheres negras, o cenário é de:

 

 

  1. 18,9% de insegurança alimentar moderada e 19,8% grave em casos de pessoas com emprego/trabalho;
  2. 25,8% no nível moderado e 39,5% grave em situação de desemprego.

 

Esse cenário torna-se ainda mais dramático ao levar-se em consideração que 62% das famílias chefiadas por mães solo dizem respeito a mulheres negras – ou seja, trata-se de quase 7 milhões de residências nesse contexto.

 

Foco na segurança alimentar

Com base nesse cenário dramático, ações de diversos atores, passando pelo poder público e pela sociedade civil, tornam-se urgentes. Nesse sentido, o projeto +Lapena Alimentar visa promover no Jardim Lapena, bairro da zona leste de São Paulo, integração entre alimentação saudável, justiça climática, ressignificação espacial e inovação em âmbito econômico.

 

Desse modo, o projeto baseia-se em diversos pilares para fortalecer as iniciativas locais. Um deles consiste em mapear, mobilizar e articular as comunidades envolvidas. Além disso, busca-se construir infraestruturas ecológicas para apoiar a produção e a distribuição de alimentos.

 

O projeto promove distribuições de cestas para dez famílias do Baixo Lapena, cuja composição abrange alimentos frescos, como frutas, legumes e verduras. Por fim, as pessoas moradoras do bairro podem apoiar o plantio, distribuição das cestas e em ações de culinária compostagem.

 

“Todo o alimento tem origem entre quatro produtores, – apenas o de grão não é da região. Para se ter uma ideia, os grandes supermercados costumam trazer os produtos de outros estados. Quando as famílias recebem os produtos, elas também recebem orientações de como consumi-los, e essa troca desperta a parte afetiva com o alimento”, completa Kenia Cardoso, coordenadora do Programa Nova Economia e Desenvolvimento Territorial  da Fundação Tide Setubal.

 

Confira mais informações sobre o projeto +Lapena Alimentar nesta reportagem.

 

Saiba mais

+ O que as empresas precisam colocar em prática para incluir mais pessoas negras no mercado de trabalho?

 

+ Entrevista com Patrícia Santos, CEO da EmpregueAfro

 

+ A insegurança alimentar por raça e gênero no Brasil (Nexo Jornal)

 

+ Entrevista de Amanda Abreu, cofundadora da consultoria Indique uma Preta

 

 

 

Texto: Amauri Eugênio Jr. / Daniel Cerqueira / Foto: Julia M. Cameron / Pexels


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