Fernando Bonassi e Jeferson De falam em conversa sobre cinema
Roteirista e diretor falam da experiência de transformar boas histórias em filmes.
Cena 1: Um menino resolve contar para a amada que está apaixonado. Como a timidez o impede de falar, ele resolve escrever um bilhete.
Cena 2: Apesar de não saber escrever, o avô de um menino que nasceu em Taubaté, senta-se em frente da sua casa diariamente. Nas suas mãos, o jornal do dia e a atitude de ler as notícias. Na memória do rapaz, a figura do avô revela a importância da leitura, mesmo ele sendo analfabeto.
O menino da cena 1 é o roteirista, dramaturgo e cineasta Fernando Bonassi. Na cena 2 está Jéferson De, diretor de premiados curtas e do longa Bróder, filmado no Capão Redondo. Com essas histórias, os dois convidados contaram a Ivana Arruda Leite e também aos convidados como se envolveram com a literatura na conversa Literatura e Cinema: afinidades, dissonâncias e emoções contadas,suas histórias e suas descobertas com o cinema e com a literatura.
Bonassi nasceu em Santo André e a família sempre trabalhou nas metalúrgicas da região. Foi lá que ele conheceu Maria Inês, a menina do bilhete que impulsionou a escrita do autor, e as metáforas. “Quando meus tios chegavam em casa e diziam para a minha avó a palavra ‘facão” sabíamos que era um período de pouco dinheiro” relembra o roteirista,explicando que a metáfora fazia referência ao corte de empregados. Desde então, Bonassi descobriu a importância das palavras, e encontrou na escrita uma forma de ter atitude diante da vida. Essa experiência ele passou também para o cinema, em filmes como Carandiru e Cazuza. Atualmente, está na fase final do roteiro do filme que contará biografia do presidente Lula. “O que faz um bom filme são as boas histórias. O escritor deve ser um bom ouvinte. Boas histórias circulam sempre na gema de uma boa idéia. O segredo é de que forma, você vai traduzi-las”, explica.
Traduzir o Capão Redondo em uma história de ficção é o desafio de Jéferson De que dirige o filme Bróder. Na infância, o diretor trocou a bola de futebol pelos livros. “Queria ser jogador de futebol, mas como estava indo mal na escola e tinha asma, meus pais não me deixaram mais praticar o esporte.Eles perceberam que estudar era o único caminho para eu ir em uma outra direção”, conta.
A direção seguida foi a do cinema. A história que ele queria contar não estava nos livros. O desejo era de contar uma história única. “Tive que vender o projeto para os investidores. Além de querer contar a história do Capão, sou negro e, pra vocês terem idéia, o dia que fui apresentar o projeto a secretaria me apontou a sala de entregas” .
Após convencer os investidores, Jéferson teve que reescrever todos os diálogos. “Foi um processo literário construído com várias pessoas da comunidade, que pensaram comigo, as falas dos personagens de acordo com o que o Capão vive”, explica. Para conferir, é só esperar agosto de 2009, quando Bróder entra em cartaz.