Analista de comunicação e produtor de conteúdo do site da Fundação Tide Setubal
Fundação Tide Setubal lança websérie para reduzir a polarização política
Por Amauri Eugênio Jr. Um dos sintomas mais fortes dos problemas causados pela polarização política é a incapacidade que pessoas com visões de mundo e políticas diferentes têm de conversar. Na tentativa de convencer o outro de que a única opinião aceitável é a própria, ambas as partes se mostram relutantes em ouvir […]
Por Amauri Eugênio Jr.
Um dos sintomas mais fortes dos problemas causados pela polarização política é a incapacidade que pessoas com visões de mundo e políticas diferentes têm de conversar. Na tentativa de convencer o outro de que a única opinião aceitável é a própria, ambas as partes se mostram relutantes em ouvir as argumentações do outro lado. E esse é um prato cheio para transformar o outro em uma representação de estereótipos de tudo o que deve ser combatido e, em última análise, eliminado.
Os impactos causados pela polarização no cotidiano e na realidade política são os temas retratados na websérie Despolarize, novo projeto da Fundação Tide Setubal idealizada em parceria em parceria com o Despolarize, projeto voltado à ampliação de repertório para lidar com conflitos e estimular melhores experiências de diálogo entre pessoas com posicionamentos políticos diferentes.
O projeto, que conta com produção da Mova Filmes, tem quatro episódios, nos quais temas considerados polarizantes serão os fios condutores entre os diálogos estabelecidos pelos personagens Rosa (interpretada por Rosax Rosax) e Matheus (Santos Drummond). Nas peças, assuntos como equidade de gênero, cotas raciais e enfrentamento ao racismo estrutural, ativismo político e combate à LGBTfobia são pontos de partida para haver interações pautadas pela polarização e nas quais as contradições comportamentais de ambos são expressas por aspectos como o interesse quase nulo em ouvir o próximo e dissonâncias entre discurso e ações práticas.
Fernanda Nobre, gerente de comunicação da Fundação Tide Setubal, lembra lições assimiladas por meio da pesquisa O Conservadorismo e as Questões Sociais, lançada em 2019 pela Fundação em parceria com o Plano CDE, e a publicação Comunicação de Causas – Reflexões e Provocações para Novas Narrativas, que é derivada desse mesmo estudo.
“A forma como nos colocamos em defesa de causas como equidade racial e de gênero, violência ou direitos humanos não gera conexão e, muito menos, engajamento, um dos pontos centrais para a mobilização e o diálogo em torno desses temas. Diante dessa realidade e do contexto cada vez mais polarizado, resolvemos dar mais um passo nessa jornada, buscando refletir quais mudanças são possíveis em nossa forma de produzir comunicação. A série Despolarize, ao lado da publicação Comunicação de Causas: Reflexões e Provocações para Novas Narrativas, buscam apresentar elementos para novos movimentos para estabelecer pontes, é uma provocação para novos passos na jornada da comunicação”, pondera Nobre.
Em vez de erguer muros, construir pontes
Algumas nuances presentes nas cenas dos episódios mostram fatos recorrentes em diálogos polarizados, como a baixa capacidade de ouvir o que o outro tem a dizer e a busca por elementos isolados na fala dessa mesma pessoa para rebatê-la, assim como a construção de estereótipos sobre quem pensa diferente.
Após o término de parte ficcional de cada episódio, um especialista em despolarização fala sobre as armadilhas comunicacionais presentes no diálogo em questão. “Personagens evidenciam, por exemplo, como estereótipos e generalizações influenciam no acirramento da polarização e na degradação nas relações sociais na medida em que fazem opositores serem percebidos como ameaçadores e mal-intencionados. Como consequência, cria-se uma dinâmica de ataque e defesa infértil para construir soluções democraticamente negociadas”, destaca Rafael Poço, idealizador do Despolarize.
Para Poço, a websérie foi pensada para jogar luz sobre pequenas mudanças de comportamento que podem ter impacto significativo para o ambiente democrático e para a valorização da pluralidade. “O primeiro episódio traz provocações sobre o convívio entre opostos como importante antídoto para intolerância enquanto a segregação das “bolhas” resulta em isolamento e em barreiras para o encontro de ideias.”
Análise de dentro para fora
Wellington Amorim, diretor da série Despolarize, considera que o desenvolvimento das narrativas dos episódios tem refletido também no modo como ele se relaciona com pessoas de quem pensa diferente dele próprio: “Ao olhar para as situações polarizantes do roteiro, elas partem muito dos lugares das minhas conversas polarizantes.”
Amorim descreve também os dois processos usados para desenvolver os roteiros da série: transmitir a polarização que vê no outro e a desconstrução dessa lógica em si próprio. “Tem sido um processo muito legal, principalmente das pessoas reconhecerem-se no lugar de autocrítica, e quão importante ela é para chegarmos em outro lugar. Tem sido um processo muito legal e de muita descoberta para mim também, enquanto diretor, [para] falar de um assunto muito necessário em um momento como este, de eleições, e o quanto é importante construir esses diálogos não só nos roteiros da série, mas no meu dia a dia.”
Dê o play!
Assista a seguir à íntegra do primeiro episódio da websérie Despolarize. Acompanhe o Enfrente, canal da Fundação Tide Setubal no YouTube, para conferir os demais capítulos do projeto.