Lideranças periféricas
O trabalho de lideranças periféricas é estratégico para as variadas dimensões do enfrentamento das desigualdades, inclusive territoriais.
Ao considerar-se, conforme conceito apresentado na Plataforma Ancestralidades, que o território contempla a relação qualitativa tramada sobre e com um espaço singular – ou seja, a criação de uma cultura e identidade local -, as lideranças periféricas atuam para, simultaneamente, desenvolver estratégias para melhorar a qualidade de vida da população desse mesmo espaço. Idem preservar e valorizar a identidade e as particularidades locais.
Nesse sentido, o trabalho dessas lideranças pode ter vertentes diversas. Assim sendo, elas podem dialogar e pressionar o poder público para, por meio da organização das demandas da população desse mesmo território, promover ações e obras em benefício da comunidade. Nesse contexto, outro eixo consiste na escuta e mobilização da comunidade para intensificar a sua participação política.
Um instrumento estratégico nesse sentido, que pode auxiliar o trabalho de lideranças periféricas, é o Plano de Bairro. Trata-se de mecanismo criado pelo Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo (PDE – Lei 13.050/14) para planejar a cidade na escala local. Desse modo,
Seu objetivo é reunir as demandas do bairro e, a partir delas, desenvolver uma estratégica de transformação a partir da iniciativa da sociedade civil, mas com participação do poder público (especialmente o municipal) e do setor privado.
Sobre a formação de lideranças periféricas
Instrumentos e estratégias têm papel fundamental no desenvolvimento de lideranças periféricas, assim como na formação de novas pessoas para ocupar esses postos na comunidade. Nesse sentido, para além do Plano de Bairro, pode-se destacar a Teoria da Mudança (TdM). A Teoria da Mudança consiste em ferramenta para o planejamento e gestão de políticas públicas, programas e projetos.
Um exemplo emblemático nesse contexto compreende a Lupa na Cidade. Trata-se da Teoria da Mudança desenvolvida com base nas especificidades do Jardim Lapena, bairro da zona leste de São Paulo onde funciona o Galpão ZL, núcleo de Prática de Desenvolvimento Local da Fundação Tide Setubal.
Assim sendo, considerando-se o papel central que as lideranças periféricas têm no processo de transformação territorial, pôde-se criar, por meio do Plano de Bairro e da Teoria da Mudança, os grupos de trabalho (GTs) do Jardim Lapena.
Os GTs são atuantes em segmentos diversos e fundamentais para a vida da comunidade, que passam por meio ambiente, infraestrutura, economia e infância. Logo, como a população entende profundamente as necessidades do território, ela passa, por meio das lideranças periféricas, a atuar de modo ativo nas decisões relativas às suas vidas. E, desse modo, a descentralização do poder decisório vem à tona. É o que destaca Andrelissa Ruiz, coordenadora de Prática de Desenvolvimento Local da Fundação Tide Setubal.
“O Plano de Bairro e os GTs trazem olhar aprofundado e propositivo de quem vive no território e muito propositivo. Não é um movimento de reclamação, mas sim de proposição sobre o que se deseja, entendendo o que é possível e fazendo com que elas sejam ouvidas. O Plano de Bairro tem espaço para encaminhá-las para chegar ao poder público.”
