Lançamento da temporada 5 da websérie ‘Ancestrais do Futuro’ evidencia o papel da fé no cotidiano de jovens
Realizado no Itaú Cultural, o lançamento da temporada 5 da websérie ‘Ancestrais do Futuro’ teve participações de representantes das coletivas que produziram os cinco episódios da série
Pelo direito de contar histórias e ocupar espaços de poder e de decisão. Pelo direito de mostrar como a fé, independentemente da vertente religiosa, se relaciona com a cosmovisão das juventudes nas diversas realidades que compõem o Brasil. Essas premissas deram o tom do lançamento da temporada 5 da websérie Ancestrais do Futuro.
Realizado no Itaú Cultural, o evento contou, então, com as exibições dos cinco curtas-metragens que compõem esta fase e teve as presenças das cinco coletivas que os produziram. Assim sendo, vale destacar que os cinco grupos participaram do Lab Enfrente, etapa que consistiu em sete masterclasses sobre temas técnicos no contexto audiovisual, como produção de roteiro, edição, finalização e distribuição.
Após essa etapa, essas mesmas coletivas desenvolveram projetos para a produção de curtas-metragens, que passavam por tópicos como argumento, distribuição e orçamento. Desse modo, por meio de processo de curadoria e seleção, esses mesmos grupos foram selecionados para receber R$ 20 mil cada. Assim sendo, trata-se de:
- Fé que Move Rios (Apoena-PA);
- A Saudade que Habita em Meu Armário (Trivial Filmes-MT);
- Sem Tempo, Irmão (Várias Fita Filmes-SP);
- Boca de Tudo (Ofà Dodún-PR);
- Orí Semente (Ficcionalizinho-PE).
Além das exibições dos curtas-metragens, o evento de lançamento da temporada 5 da websérie Ancestrais do Futuro contou com o lançamento de uma publicação que descreve o lançamento e o desenvolvimento da iniciativa. Trata-se de Ancestrais do Futuro – Uma experiência de apoio e fortalecimento de produções audiovisuais das periferias, que apresenta a metodologia por trás do projeto.
“Buscamos apresentar, nesta publicação, o processo de construção, que se iniciou com as masterclasses, passou pela seleção e pelo acompanhamento detalhado da produção. Essa metodologia é de anúncio e não somente de denúncia, que vem dos diferentes territórios do Brasil”, comenta Fernanda Nobre, gerente de Comunicação da Fundação Tide Setubal.

Tony Marlon, Thiago Oliveira, Viviane Borari e Daniel Carvalho interagem com o público (foto: Daisy Serena)
Fé como movimento e diálogo
A primeira mesa do evento de lançamento da temporada 5 da websérie Ancestrais do Futuro teve como tema Fé como movimento. A atividade, que teve mediação do educador e comunicador popular Tony Marlon, que também está na produção da série, teve as participações de representantes das coletivas:
- Viviane Borari (Apoena);
- Daniel Carvalho (Trivial Filmes);
- Thiago Oliveira (Várias Fita Filmes).
Durante a sua participação no evento, que teve também as exibições dos respectivos curtas-metragens, Viviane Borari falou sobre o impacto da fé no cotidiano – na crença em si próprio, na família e em pessoas próximas – e o papel do audiovisual nesse contexto. “Considero o audiovisual como uma ferramenta muito potente para isso”, comenta.
“Queremos mudar o mundo, mas precisamos mudar a nós mesmos”, pondera ao destacar como o cinema pode influenciar mudanças positivas na percepção sobre o mundo. “E trago o audiovisual como forma de luta, denúncia, incentivo e de fortalecer a cultura, pois a fé está nisso. Hoje, a minha fé, ao trazer esse documentário para as pessoas, é justamente mostrar que elas também podem fazer a diferença nas suas casas e nos seus espaços.”
Para além disso, Thiago Oliveira traz à tona a dimensão econômica para esse debate. Nesse sentido, o integrante do Várias Fita Filmes e diretor de Sem Tempo, Irmão destaca como o apoio que a coletiva recebeu teve reflexo no território do qual faz parte.
“O dinheiro que conseguimos para fazer o projeto não ficou apenas para as pessoas que efetivamente fizeram o filme. Foi também para quem contratamos para quem fez o catering, por exemplo – e isso fomentou toda a questão do território. Isso não traz apenas visibilidade para nós, que estamos exibindo o filme e o exibiremos em outros lugares. Isso acontece também, então, para quem está nos territórios”, relata.
Já Daniel Carvalho destaca, então, como o apoio proveniente do Ancestrais do Futuro possibilitou o grupo a, pela primeira vez, pagar pelas pessoas profissionais que participaram da produção de A Saudade que Habita em Meu Armário. Nesse contexto, o representante da coletiva ressalta o papel da coletividade no trabalho audiovisual em rede.
“Nós nos inspiramos, a partir do trabalho deles [coletivas do mesmo território que a Trivial Filmes], a fazer os nossos trabalhos. Isso nos deu confiança para fazer filmes até hoje e nos ajudamos nos trabalhos uns dos outros”, destaca, ao falar do trabalho em rede. “A coletividade foi, então, o maior apoio que tivemos. Isso porque, sem ela, o filme realmente não existiria.”

Well Amorim, Lekún Barboni e Rayanna do Nascimento dialogam sobre os filmes (foto: Daisy Serena)
Fé para passar pelas encruzilhadas do cotidiano
Com o tema Fé nas encruzilhadas do cotidiano, a mesa do evento de lançamento da temporada 5 da websérie Ancestrais do Futuro. Com mediação do cineasta Well Amorim, que foi também produtor da temporada atual, a atividade contou com as participações de Rayanna do Nascimento (Ficcionalizinho) e de Lekún Barboni (Ofà Dodún).
Nesse sentido, ao falar sobre a produção do curta-metragem Boca de Tudo, Lekún comentou, ao falar sobre a relação intrínseca da coletiva com a religiosidade, a mensagem que permeia a obra. “Para mim, este episódio fala muito sobre a fé no encontro – a fé neste encontro entre nós. Idem sobre a fé do nosso encontro com Exu, com o nosso orixá. Mas, também subjetivamente, sobre a fé de cada pessoa no encontro com a sua própria verdade. O que é a verdade, então? Todas as pessoas estão procurando uma explicação para a vida e a nossa existência. E isso acontece com cada qual no seu processo de autoconhecimento e de aprimoramento moral.”
Na sequência, Rayanna traz, a partir do papel da fé no desenvolvimento da relação de cada pessoa com o mundo, a importância da representatividade por meio do audiovisual. “Considero que o Ficcionalizinho leva essa amplitude de olhar e a possibilidade para que crianças vejam uma menina ali [no filme] que parece com elas – e está fazendo cinema.”
Por fim, ao falar sobre o processo criativo para o desenvolvimento de Orí Semente – e de outros filmes da coletiva -, Rayanna destaca o protagonismo das crianças nesse processo. “Gosto da inocência, da instigação, do sonho, da possibilidade e do criar na imaginação da criança também. Por isso, os filmes do Ficcionalizinho são meio espetáculo e meio experimentais também, pois partem das cabeças das crianças. E elas funcionam de forma completamente diferente de nós”, finaliza.
Assista aos episódios da websérie Ancestrais do Futuro
Texto: Amauri Eugênio Jr.
