Analista de comunicação e produtor de conteúdo do site da Fundação Tide Setubal
Literatura e distribuição de conhecimento são foco da conversa Literatura, escola e educação
Sonia Madi e Ricardo Azevedo debatem a formação dos leitores brasileiros
Andando pela Feira do Livro, na área onde estavam as publicações a serem vendidas, encontrei Julia Stanley. Em meio a todo movimento, a menina lia um gibi da Mônica, muito concentrada, sentada no tapete colorido do cantinho da leitura. Seu nome chamou minha atenção. Depois de soletrar letra por letra, Julia me explicou: “é o nome da mãe do John Lennon, meu pai é fã dos Beatles. Tenho um irmão que chama John Lennon”, falou Julia, de 8 anos, toda orgulhosa.
Ao lado dela, estava Murilo Grilo, o irmão de 6 anos, que lia em voz alta a historinha do gibi. Estiquei os olhos pra conferir e ele não estava inventando. Julia logo se manifestou. “Eu e meu irmão aprendemos a ler com quatro anos. Minha avó comprava livros, lia e ensinava a gente a ler também”.
Julia e Murilo reafirmam as colocações de Sonia Madi, na Conversa com o Autor sobre Literatura, escola e educação. “Um objeto de cultura, seja ele, um livro ou não, precisa sempre de um mediador. Só alguém apaixonado oferece a cultura com encantamento”, destacou. O exercício pode ser a leitura de um livro, à visita a uma exposição, um passeio ao cinema. “O importante é contribuirmos para que as pessoas consigam ver o mundo em diferentes momentos e não apenas para fazer uma prova.”
Para Ricardo Azevedo, escritor e ilustrador, as pessoas se tornam leitoras, quando descobrem que a literatura trata da vida. “A maioria das pessoas gosta de livros que dão certezas, leituras técnicas, e a literatura fala das nossas dúvidas, do amor, da morte. Se a literatura não tratar da vida, ela não serve pra nada.”
O letramento aparece como peça fundamental para formar leitores. Na avaliação de Sonia, quando a mãe ou o irmão param pra ler uma história com uma criança, cria-se um momento de diálogo, de conhecimento que circula, como uma moeda corrente. O circular dessa moeda só é possível se tivermos cada vez mais pessoas que possam ler.
Nos livros ou fora deles? João Paulo Rodrigues, um dos ganhadores do Concurso Produção Literária e Idéias Inovadoras, questionou se diante das diversas ferramentas de comunicação, o livro não seria algo que corre o risco de ficar ultrapassado. “È essencial valorizar a cultura, independentemente da ferramenta ou do objeto que a transporte, o importante é que o conhecimento circule. Fala-se muito em distribuição de renda e é preciso pensar em uma distribuição justa do conhecimento”, defende Azevedo.
[+] Veja entrevista dos jovens do projeto São Miguel no Ar com Sonia Madi.
[+] Veja entrevista dos jovens do projeto São Miguel no Ar com Ricardo Azevedo