Mobilização no território e cobrança pela sociedade marcam primeira sessão
Ladislau Dowbor, Luis Paulo Bresciani e Ricardo Abramovay debatema construção da governança territorial
O papel dos diferentes setores na promoção do desenvolvimento local sustentável, a construção de uma sociedade democrática, os aspectos indutores deste desenvolvimento e o paradigma da economia verde estiveram em pauta na mesa “A Construção da Governança Territorial”, primeira sessão do seminário “Desenvolvimento sustentável em áreas metropolitanas”. Promovido pelo Fundo Zona Leste Sustentável, em parceria com Fundação Tide Setubal e Universidade Cruzeiro do Sul, o evento aconteceu em 17 de agosto, na capital paulista.
Na abertura, Ladislau Dowbor, professor dos departamentos de Economia e Administração PUC-SP, enfatizou a importância da democracia no processo de desenvolvimento. Para ele, não basta considerar apenas o tripé da sustentabilidade, com suas dimensões econômica, ambiental e social. “O desafio é mobilizar as pessoas para que se apropriem do processo de desenvolvimento da sua comunidade. Então, é necessária uma ampla reforma política para democratizar os processos decisórios e a gestão dos recursos.”
O professor ressaltou ainda a diferença entre Brasil e Suécia neste aspecto. No país escandinavo, cada morador participa, em média, de quatro associações comunitárias, sendo que 72% da alocação dos recursos nacionais são decididas localmente. No Brasil, por outro lado, esse número se restringe a apenas 15%. “O exercício da política pode resgatar as rédeas do processo econômico. Também devemos fazer valer a lei constitucional de que as atividades econômicas tenham função social”, acrescentou.
Renovação do território
A exposição seguinte, realizada por Luis Paulo Bresciani, secretário executivo do Consórcio Intermunicipal Grande ABC, dialogou com a visão de Dowbor. “Ao tripé do desenvolvimento sustentável, soma-se o tecido social sob o qual está o território. A partir desta base, constrói-se a governança territorial que depende da integração entre os atores sociais e do modo como vão se organizar na ação e na tomada de decisões, para preservar, reproduzir e renovar o território”, disse.
Bresciani falou também sobre a experiência do Consórcio Intermunicipal Grande ABC, que agrega prefeituras de 7 cidades da região metropolitana de São Paulo, com participação de sindicatos, para pensar em políticas voltadas ao desenvolvimento regional. “Atuamos em grupos de trabalho a partir de 7 eixos estruturantes, para elaboração de planos estratégicos. Em breve, estabeleceremos um conselho consultivo do Consórcio, abrindo espaço para outros setores da sociedade civil organizada”.
Nova educação
Ricardo Abramovay, da Faculdade de Economia da USP, contribuiu com o debate, focando em características da economia verde e no papel da responsabilidade social empresarial no desenvolvimento sustentável. O professor enfatizou a necessidade de uma gestão inteligente dos recursos, no qual prevaleça o uso racional da natureza, e destacou um novo paradigma, pelo qual é insuficiente que as companhias sejam responsáveis ambientalmente e promovam ações sociais: o que vale é elas pensarem no sentido da sua produção ou serviço para sociedade.
“Qual é o impacto de sua atividade na vida das pessoas? Qual o valor do carro na vida social? Não faria sentido preparar-se para um mundo com novo conceito de mobilidade”, questionou o professor. Segundo Abramovay, a construção dessa nova responsabilidade social empresarial passa pela pressão a ser exercida pela sociedade civil sob o setor privado. “Costumamos separar esfera política e iniciativa privada. Mas o mundo corporativo também precisa ser objeto da pressão social por novas propostas e soluções, pois também tem responsabilidade sob a vida das pessoas.”
Na sequência, houve um debate aberto ao público, no qual ganhou destaque o papel da educação no processo de desenvolvimento. Para Maria Alice Setubal, presidente do Conselho da Fundação Tide Setubal, a reflexão precisa considerar qual educação queremos para uma sociedade sustentável, incorporando as novas formas para construção do conhecimento, o trabalho colaborativo e o incentivo ao protagonismo. “Devemos pensar educação de forma ampliada, não só a escolar, adotando uma visão sistêmica e transversal”, ressaltou.