Analista de comunicação e produtor de conteúdo do site da Fundação Tide Setubal
NCC promove discussões sobre a cidade e difunde educomunicação
Núcleo de Comunicação Comunitária mantém formações, oficinas e projetos para crianças, jovens, docentes e comunidade, beneficiando moradores, 5 escolas e gestores dos CEUs. Letramento político e habitação são questões em pauta
O Núcleo de Comunicação Comunitária (NCC) São Miguel no Ar, da Fundação Tide Setubal, atingiu 845 pessoas de forma direta em 2013, em formações, oficinas e projetos para crianças, jovens, docentes de escolas públicas e comunidade de São Miguel. Gestores de CEUs da capital paulista também participaram de conversas para aperfeiçoar o uso pedagógico desse equipamento público.
O NCC promoveu formações voltadas a professores, como a Habitar, Comunicar e Educar, na região, e a Habitar é Comunicar, no projeto Nossa Escola Pesquisa Sua Opinião (Nepso), da Ação Educativa e do Instituto Paulo Montenegro. O processo culminou com o alcance de novos atores da educação e com o aumento da projeção da metodologia do NCC, que usa território e letramento como elementos transversais no processo de educar.
“Essa animação da rede foi surpreendente. Irradiou visões e experiências dos educadores, tanto nos encontros como nas publicações e blogs, e teve a participação de educandos, professores e coordenadores pedagógicos no Festival do Livro, entre outros. Articulamos muito na educação, e em 2014 essa demanda continua”, relata José Luiz Adeve, o Cometa, coordenador do NCC. “Em 2013, também remanejamos energia para trabalhar com as crianças do Jd. Lapenna, na TV Lapenninha e no Pontinhos de Cidade, e com os adolescentes no Intermídia Cidadã, formando agentes de educomunicação comunitária, o que chamamos de ‘letramento político sem perder a poesia’”, explica.
A formação Habitar, Comunicar e Educar foi realizada pelo NCC na E.E. Rev. Urbano, EMEF José Honório, EMEF Pedro Luis Cordeiro e SESI A.E. Carvalho. No total, 30 educadores e 6 coordenadores pedagógicos discutiram esses temas no horário reservado oficialmente ao aperfeiçoamento do corpo docente do município. O apoio à educação integral pela educomunicação se deu na E.E. Rev. Tércio, onde foram ministradas aulas eletivas de política para 120 estudantes, enquanto a EMEF Pedro Luis Cordeiro contou com oficina de rádio envolvendo dois professores e 35 alunos.
E.E. Rev. Urbano, EMEF José Honório e SESI A. E. Carvalho tiveram 160 educandos e 12 educadores beneficiados com produção midiática pelo Rede Jovem Comunica. Além disso, as práticas educativas de 16 docentes foram publicadas no suplemento jornalístico da iniciativa. O NCC realizou, em parceria com o Núcleo Mundo Jovem, formação para professores de informática, os POIEs. “Dali nasceu grupo de estudos para desenvolver práticas educativas que colaborem para melhorar o ambiente escolar com processos interdisciplinares, os quais estimulem a ressignificação do território e da escola para os alunos, e a valorização desses professores, que são mediadores da educação intercultural, uma demanda da contemporaneidade”, avalia. Já a oficina Do E-mail à Rede, sobre comunicação e novas tecnologias, atingiu 45 pessoas beneficiadas pelo programa Ação Família.
Fórum de moradores e jornal de Plano de Metas
Os avanços mais significativos do ano no Fórum de Moradores do Jd. Lapenna e Adjacências foram o envolvimento de crianças e adolescentes e a criação de comissões de moradores para tratar de necessidades da comunidade. “Apesar de reveses, como a interrupção, por conta de ocupações, de um processo para planejar e executar um projeto de urbanização, os pontos altos foram o protagonismo dos jovens na produção de peças educativas, o canal de diálogo com o poder público e a nossa abordagem acertada sobre como funciona a cidade, numa oficina para 57 moradores”, destaca.
“Nos moradores, vemos a percepção da necessidade de organização comunitária e de resiliência. Para a Fundação, o ganho é o aprendizado constante, o desenvolvimento de novas habilidades na relação com a comunidade e a possibilidade de colaborar para a influência e a formulação de políticas públicas, aproximando poder público e comunidade e preservando o caráter educativo”.
O Núcleo marcou presença também na criação e na produção de um jornal dedicado ao Plano de Metas de São Paulo (SP). Os 30 jovens participantes do Intermídia Cidadã fizeram pesquisas, pensaram em layout e redigiram textos. Desde o início de 2013, eles acompanharam debates e consultas sobre o Plano de Metas pela cidade. Movimentos da sociedade civil que atuaram para que o plano se tornasse lei municipal convidaram, então, o NCC para a produção colaborativa do informativo, ao lado de especialistas e de outras ONGs, com o apoio de um conselho editorial da Fundação. O lançamento ocorreu em dezembro.
Disseminação do método
Participação no Congresso Brasileiro de Educomunicação, em encontro de DREs da Zona Leste e em palestra nos CEUs, além de rodas de conversa em 12 escolas e de formações em ONGs em São Paulo e em cidades do Vale do Paraíba disseminaram a metodologia do núcleo. “Ficamos muito felizes quando em Brasília, numa reunião do Mais Educação com coordenadores do Brasil, o professor Ismar de Oliveira Soares, da USP, nos apontou como referência de educomunicação no país. E, depois, também descobrimos que a publicação Educomunicação em Movimento é utilizada no curso de graduação do tema na USP”, relata Cometa. “Nos CEUs, falamos das nossas experiências de valorização do espaço geográfico, para envolver crianças e adolescentes nas intervenções interculturais, e abordamos a educação integral”.
Em 2014, o principal desafio do NCC é contribuir com mais articulações no território para beneficiar a educação. “Temos de desenvolver, junto com os demais núcleos da Fundação, ações e itinerários formativos para a DRE, sistematizar a metodologia do Fórum dos Moradores e, com a ajuda das tecnologias de comunicação, criar um projeto de aplicativo para fortalecer mais a comunidade”, relata o coordenador.
Opiniões de beneficiados
“No Nepso, foi positivo o assunto da pesquisa ter partido do interesse das próprias crianças, que fez o envolvimento ser muito maior, até mesmo para os que têm dificuldade de aprendizado. O método os inseriu no contexto no qual eles realmente vivem, e aproximou a comunidade da escola na hora da busca das informações nas diversas fontes, para a confecção da pesquisa.” – Elvira de Fátima Bandeira Neta, 33 anos, profa. do ensino fundamental I, da E.E. Prof. Joaquim Torres Santiago, participante da oficina Habitar é Comunicar, do projeto Nepso
“As atividades da eletiva de política foram desenvolvidas da maneira mais democrática possível, no formato de mesa redonda, com os temas escolhidos pelos educandos da 1ª e 2ª séries do ensino médio integral. Primeiro, havia vídeo para sensibilização e depois o debate. Percebi o respeito mútuo quanto às opiniões pró e contra, e eles ficaram muito satisfeitos em falarem sobre seus anseios. A parceria é fundamental e inovadora e contamos com o NCC para o próximo ano.” – Luciene Almeida Lima, 42 anos, professora de história e sociologia na E.E. Rev. Tércio
“A parceria foi essencial. Após aulas introdutórias, abordando direitos humanos, os jovens debateram aborto, baile funk, pena de morte, redução da maioridade penal, liberação do uso de drogas e cotas para negros. Tinham de respeitar e ouvir os argumentos contrários aos seus, e o lema era: ‘não concordo com nada do que você diz, mas morro, se for preciso, para você ter o direito de continuar dizendo’.” – Edjoel Carvalho Veiga, 40 anos, professor de biologia na E.E. Rev. Tércio, que também ministrou a eletiva de política
“Gostei muito da oficina porque tive aprendizados com o computador, as redes sociais e o e-mail. Hoje, tudo é movido pela internet, o que faz esses cursos serem importantes para a vida toda. Eles nos ajudam a melhorar na comunidade e na rua. A comunicação efetiva é importante, e o conjunto dessas reuniões todas nos auxilia nisso.” – Tamires Justino da Silva, 20 anos, balconista, moradora do Jd. Lapenna, participante da oficina Do E-mail à Rede, do NCC junto com o Ação Família
“O Pontinhos da Cidade fortaleceu o pertencimento e a identidade em relação ao Jd. Lapenna. É notável como as crianças se apropriaram do espaço e se sentiram parte dele e como identificaram problemas que podem ser solucionados apenas a partir da organização e mobilização local, fortalecendo, assim, os vínculos sociais e a ideia de cuidar do nosso espaço comum. Na TV Lapenninha, elas executaram no teleteatro aquilo que imaginaram, ou seja, concretizaram suas ideias, num forte vínculo entre o pensar, o planejar e o agir.” – Ana Gagliardo, 33 anos, facilitadora no Pontinhos de Cidade e pré-produtora na TV Lapenninha