Analista de comunicação e produtor de conteúdo do site da Fundação Tide Setubal
Neto de Gandhi usa histórias de vida para explicar sua proposta educativa
Para Arun, a escola deve mostrar aos estudantes como converter raiva em ações transformadoras, dentro de uma cultura de paz. Defendeu ainda que precisamos criar conexões que respeitem a nós, ao outro e às coisas da criação.
Arun Gandhi nasceu na África do Sul e viveu sua infância ao lado de Mahatma, sob o opressivo regime de discriminação racial daquele país. Numa ocasião, o adolescente expressou ao avô sua raiva pela hostilidade que recebia de brancos, por ter a pela escura, e, ao mesmo tempo, de negros, por ter a pela clara. Gandhi explicou-lhe que a raiva era uma energia, que se propagava tal qual a eletricidade. Recomendou, então, ao neto, que criasse uma espécie de árvore com situações de agressão física e de agressão passiva que presenciasse.
Aos poucos a parte do painel destinado às ofensas veladas ficou repleta de exemplos. “Entendi ali como a violência passiva pode acender e alimentar a violência física em quem recebe esse tipo de provocação. A raiva é uma bomba que carregamos amarrada em nossos corpos”, disse Arun, durante encontro com estudantes e professores em São Miguel Paulista, em 30 de junho. “Por uma ação pequena, tola, podemos explodir. A escola tem de ensinar os alunos a lidar com essa energia e a convertê-la em pensamentos e em ações que transformam, dentro de uma cultura de paz.”
Penalidade X castigo
Em outra situação emblemática, Arun lembrou o dia em que, indignado com o tamanho de seu lápis, resolveu atirá-lo no mato. “Minha expectativa era ganhar um novo, quando contasse que não tinha mais lápis. Só que meu avô perguntou o que tinha acontecido e acabei revelando que o jogara fora porque estava muito pequeno. Ele me fez procurá-lo na mesma noite. Reclamei que estava escuro e ele me deu uma lanterna. Fiquei mais de duas horas para achá-lo.”
A partir daí, o ativista indicou à plateia que as pessoas não podem ser punidas por seu mau comportamento de maneira violenta. “As crianças devem receber penalidades de acordo com a gravidade de suas faltas, mas de uma maneira edificante. Da mesma forma, as prisões devem ser lugares que façam os cidadãos melhores, capazes de eliminar a marca de seus crimes de suas vidas.”
Escritor, jornalista e palestrante, ele também criticou o consumismo desenfreado da sociedade. “É difícil sairmos desse ciclo, mas precisamos parar de atender ao apelo de querer coisas novas que fazem com que tenhamos sempre mais necessidades.” Dentro desse mesmo princípio, ressaltou que as relações não podem se basear em interesses pessoais. “Temos de criar conexões que respeitem a nós mesmos, ao outro e às coisas da criação.”
Arun sempre pautou seu ativismo político pela filosofia de não violência defendida por Mahatma. Um de seus trabalhos mais notáveis é a fundação Gandhi Worldwide Education Institute, que resgata crianças das áreas mais miseráveis da Índia para oferecer a elas uma formação básica ampla e de qualidade. Mais informações em: www.gandhiforchildren.org/pt/.