Analista de comunicação e produtor de conteúdo do site da Fundação Tide Setubal
Nossa São Paulo reúne candidatos e sociedade civil para diálogo
O Movimento Nossa São Paulo tem promovido uma série de encontros com os candidatos às próximas eleições municipais. Dia 18/8 foi na Zona Leste, com os candidatos à prefeitura. Dia 25/8 foi a vez dos candidatos à Câmara.
O Movimento Nossa São Paulo tem promovido uma série de encontros com os candidatos às próximas eleições municipais. No último dia 18 de agosto aconteceu o encontro com os candidatos à prefeitura na Zona Leste e, no dia 25, os candidatos à Câmara participaram do evento “A Cidade e a Cultura Cidadã: A Palavra do Eleitor”, no Sesc Consolação.
Cerca de 500 pessoas estiveram presentes dia 18 no Salão Golden House, na Penha. Entre elas lideranças comunitárias, representantes de organizações da sociedade civil, integrantes de projetos sociais, como os jovens do São Miguel no Ar e ArteCulturAção (promovidos pela Fundação Tide Setubal), e moradores da Zona Leste.
Oito dos 11 candidatos à Prefeitura de São Paulo compareceram: Ciro Moura (PTC), Edmilson Costa (PCB), Geraldo Alckmin (PSDB), Gilberto Kassab (DEM), Ivan Valente (PSOL), Renato Reichmann (PMN), Sonia Francine (PPS). Marta Suplicy (PT), que não pôde estar presente por motivo de saúde, foi representada pelo seu vice, Aldo Rebelo.
Com o objetivo de abrir um espaço democrático para que os candidatos apresentassem suas propostas, o encontro focou os quatro temas prioritários para a região: Educação, Saúde, Trabalho e Renda, e Programa de Metas (Emenda número 30 à L.O.M.). Além da mesa para os candidatos, outras duas foram compostas por lideranças da sociedade civil e professores universitários. Entre eles estavam Oded Grajew, criador do Movimento Nossa São Paulo, e Maria Alice Setubal, presidente da Fundação Tide Setubal e integrante do Movimento Nossa São Paulo.
Grajew ressaltou a relevância da luta por uma São Paulo sustentável e da discussão sobre os verdadeiros problemas e soluções. “Uma cidade desigual, um país desigual, é uma sociedade absolutamente insustentável porque ela é um eterno terreno de conflitos e insatisfações. Por isso é importante olhar São Paulo como um todo, mas também com suas especificidades. Afinal, a gente só pode tratar daquilo que conhece”, afirmou.
Para Maria Alice, o encontro mostra a importância de recuperar o fortalecimento da sociedade civil. “A participação no Movimento Nossa São Paulo nos proporciona a possibilidade de refletir um pouco mais do que à frente apenas das nossas organizações. Começando a pensar de forma mais articulada, nós estamos pensando o nosso bairro, a nossa zona leste, dentro da cidade de São Paulo.”
O Pe. Antônio Marchioni, mais conhecido como Pe. Ticão, que atua em Ermelino Matarazzo, fez propostas e perguntas elaboradas pelas 40 organizações que formam o Movimento Nossa Zona Leste II (Itaim Paulista, Cidade Tiradentes, Guaianazes, Itaquera, São Miguel Paulista, Ermelino Matarazzo e Penha). Para ele, o encontro representa muito. “Sem dúvida, esse é um momento histórico, uma grande luz. O Movimento Nossa São Paulo traça para nós, novas esperanças na próxima administração 2009/2012”, afirmou.
Para a jovem Flaviane Pereira, integrante do projeto São Miguel no Ar, a oportunidade de conhecer de perto os candidatos possibilita um voto mais consciente. “Conhecendo as propostas a gente pode cobrar deles.”
Os candidatos receberam dos representantes da Comissão de Cultura do Movimento Nossa Zona Leste II as propostas políticas formuladas pelas organizações que o compõe. Durante o evento também circulou um abaixo-assinado para que as empresas petrolíferas e as montadoras de automóveis obedeçam à resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente que determina que o enxofre e o diesel no Brasil passem ao nível da Europa e dos Estrados Unidos.
Clique aqui para conhecer as propostas do Movimento Nossa Zona Leste II aos candidatos à Prefeitura de São Paulo.
Cultura
Parte do ciclo de conversas com os candidatos, no dia 25 de agosto o GT Cultura do Movimento Nossa São Paulo, o Instituto Pólis e o Instituto Ágora em Defesa do Eleitor e da Democracia reuniram, no Sesc Consolação, cerca de 60 candidatos à Câmara Municipal e representantes de movimentos culturais da cidade. Desta vez, os candidatos só puderam ouvir. A palavra ficou com a sociedade civil.
Durante o “A Cidade e a Cultura Cidadã: A Palavra do Eleitor”, a atriz Beatriz Segall leu as 10 propostas do Movimento Nossa São Paulo para uma sociedade justa e sustentável. Gilberto de Palma, do Instituto Ágora, apresentou a carta-compromisso proposta para uma atuação pautada pela ética e voltada para a melhoria da qualidade de vida da população. E Hamilton Faria, do Instituto Pólis, propôs algumas idéias para inspirar o debate que se seguiu, com Danilo Santos de Miranda (Sesc-SP), Luiz Roberto Alves (Universidade Metodista e Universidade São Paulo), Tião Soares (Fundação Tide Setubal) e Cida Bento (CEERT – Centro de Estudos das Relações de Trabalho e da Desigualdade), mediados pela jornalista Mona Dorf.
“O sentimento de comunidade é muito importante para o desenvolvimento da cidade, o sentimento de pertencimento a ela. O cuidado do bem comum deve estar em todos nós, pois só assim podemos cobrar. Reconhecer nas políticas públicas a questão da diversidade é fundamental. Reconhecer que cada grupo é atingido de maneira diferente, reconhecer a desigualdade, mas fortalecer a idéia de que a cidade é nossa, para fomentar uma cultura de paz na cidade”, alertou Cida.
Para Danilo Miranda, o compromisso dos políticos e dos cidadãos é fundamental para promover os valores da cultura cidadã, que incluem ética e transparência. “O envolvimento é imprescindível para que as ações se multipliquem. Eventos de esclarecimento, formação de mediadores, difusão na mídia e encontros como este são medidas fundamentais”, afirmou. Ele também lembrou que a cultura tem papel central para uma mudança de comportamento, para que a cidade seja mais respeitosa e solidária e para que todos possam ter uma vida melhor. “A ação cultural que é promovida na cidade, onde há valorização do imaginário, da arte, do encantamento, traz de alguma forma a possibilidade de termos uma consciência maior desse pertencimento, de modo a poder transformar a nossa cidade numa cidade melhor para todos. Sem adesão, não há participação. É preciso fazer o cidadão partícipe efetivo das transformações na cidade.”
O professor Luiz Roberto Alves acredita que a cultura é a primeira referência política para um programa de governo, suporte metodológico para a realização das chamadas políticas de ação e valor que dá forma e sentido aos objetivos comunitários. “O nosso voto não somente repercute as disputas simbólicas da cidade e pela cidade, mas antes se realiza como símbolo da história pessoal e comunitária. É necessário atacar diretamente a linguagem da mercadoria eleitoral e dizer que o eleitor é um ser simbólico, em cujos gestos a cultura é eleita como a mãe da cidade. Portanto, quem deseja levar a sério a cidade, de fato partilhar do seu destino, precisa vê-la não apenas como um mosaico de culturas, o que de fato é, mas principalmente como redes de valores”, discursou.
Em pronunciamento que levantou a platéia, o coordenador de cultura da Fundação Tide Setubal, Tião Soares, lembrou que a cultura tem sido deixada de lado nas políticas públicas. E como desenvolver uma cultura sustentável sem entender que ela é transversal? “Eu não acredito na palavra sustentabilidade sem pensar em desenvolvimento humano. As nossas políticas têm considerado a cultura do medo, a cultura da violência, a cultura do automóvel. Compreender a cultura local tem sido a exibição de algumas artes, e não o diálogo de cada bairro com a cidade”, alertou.
Tião também afirmou ser preciso considerar o povo como produtor de cultura, e não apenas receptor. Para ele, é preciso descentralizar o poder e fazer saber os fazeres existentes nos bairros. “E como pensar nisso se a cidade não tem orçamento para a cultura? E que capilaridade e sentimento de pertencimento existem se só falamos em eventos? Se a cultura só é vista como arte?”, questionou, indicando que o legislador precisa participar de mais fóruns sobre o assunto para alargar seu conhecimento. “Considerar a cultura um fragmento é começar de forma equivocada”, concluiu.
Clique aqui para ler a íntegra da carta-compromisso apresentada aos candidatos à Câmara Municipal.
* Colaborou: Mayara Evangelista