Pesquisa identifica perfil do trabalho informal em São Miguel Paulista
Fundação Tide Setubal divulga pesquisa sobre emprego informal em São Miguel. Dos 547 trabalhadores atendidos pelo projeto Ação Família, 32% são ocupados sem carteira.
Dos 547 trabalhadores em idade ativa beneficiados pelo projeto Ação Família São Miguel Paulista, 32% são ocupados sem carteira – índice inferior ao da região metropolitana de São Paulo (7%). Com o objetivo de mapear o perfil desse trabalhador nos três distritos atendidos pelo projeto – Jardim Lapenna, Jardim Pantanal e Jardim São Vicente –, a Fundação Tide Setubal realizou e acaba de divulgar uma pesquisa sobre emprego informal na região.
O foco da levantamento foi o grupo de trabalhadores que compunham a População Economicamente Ativa (PEA), desempregados ou em situação de trabalho precário, sem acesso a direitos e predominantemente sem cobertura previdenciária. Ao todo foram 295 entrevistados.
“O Ação Família tem entre as suas dimensões de atuação o Trabalho. Após o primeiro diagnóstico que fizemos sobre as 300 famílias atendidas, consideramos importante realizar essa pesquisa para mapear mais detalhadamente o perfil do trabalhador da região. Conhecer quais ofícios esses trabalhadores já exercem é fundamental para propormos projetos de trabalho e economia voltados para a realidade local, aproveitando o potencial já existente”, explica a coordenadora do Ação Família São Miguel, Vera Sconamiglio.
Operários da construção civil e serviços domésticos (domésticas, diaristas, babá) representam 58% dos trabalhadores ocupados, predominantemente adultos na faixa entre 30 e 45 anos de idade. Essas também são as áreas que mais empregam jovens entre 16 e 29 anos: 50% deles trabalham aí ou com vendas.
Os postos de trabalho da construção civil, no entanto, não estão relacionados com grandes obras viárias e construção de grandes edifícios, mas sim com construções da própria comunidade, em geral remunerados por jornada diária ou trabalho executado. O mesmo acontece com as prestadoras de serviços domésticos, que têm baixa qualificação e pouca remuneração.
Remuneração
A remuneração média declarada pelos entrevistados, por mês, é de R$ 358,78. Entre construção civil e trabalhos domésticos, porém, há diferenças substanciais. Os trabalhos ligados à construção civil (média por mês R$ 665) possuem remunerações muito superiores aos trabalhos domésticos (média por mês: R$ 200), tanto nas diárias quanto nas mensais. Dado que os trabalhadores da construção civil são todos homens e os domésticos são todos mulheres, fica explícita a pior condição de trabalho do gênero feminino.
Também há uma diferença considerável entre as remunerações das trabalhadoras domésticas. As que exercem os seus trabalhos em casas de classe média (domésticas e diaristas) têm melhor remuneração (média por dia: R$ 40). Já as que oferecem seus trabalhos na vizinhança (lavadeiras e cuidadoras de crianças) conseguem poucos proventos (média por dia: R$ 10).
Entre os trabalhadores da construção civil as diferenças são menores. Recebem melhor, em geral, os que realizam ofícios diferenciados em relação aos demais (gesseiro), os que possuem meios próprios de trabalho (eletricistas) e os pedreiros com maior variedade de habilidades.
Fonte
A grande maioria (28,6%) revelou ter obtido o trabalho atual por meio de amigo, colega ou conhecido. Familiares representam 14,3% e vizinhos 12,75% dos contatos que resultaram em trabalho. É comum nos territórios pesquisados a existência de parentes que moram próximos, assim como, pelas dificuldades de mobilidade na cidade, que o círculo de amizades e de conhecidos esteja vinculado ao território. Pode-se afirmar, portanto, que as possibilidades de trabalho são muito dependentes de boas relações com a vizinhança.
A baixa qualificação profissional e a baixa escolaridade são fatores que também contribuem para isso, uma vez que impedem os trabalhadores de acessar os trabalhos qualificados oferecidos em outros locais da cidade.
Desemprego e empregabilidade
A busca pelos meios públicos de procura por emprego, como centrais de empregabilidade (Poupatempo, Centro de Solidariedade, CAT), alcança 30,8% dos trabalhadores.
A maioria afirmou acreditar que cursos de qualificação podem contribuir na busca por trabalho. Os que mais provocam interesse são os da área de computação (26,44%), ainda que nenhum dos trabalhadores pesquisados utilize conhecimentos de informática nos ofícios que exercem. Cursos nas áreas de construção civil, estética e artesanato (todos com 14,42%), os três com maiores menções depois de computação, indicam por sua vez uma expectativa de se qualificar para os trabalhos que já exercem.
O desejo de obter qualificação para o trabalho que exerce pode ter ligação com a consciência de que a baixa qualificação é um fator determinante para as más condições de trabalho. Apenas 4% fizeram curso para se qualificar para o trabalho que exercem, enquanto que 70,8% deles aprenderam o ofício trabalhando.
Os três grupos de dificuldades mais mencionados estão relacionados à baixa escolaridade (23,5%), à falta de experiência (11,3%) e à falta de qualificação (10,3%).
Previdência
A cobertura previdenciária entre os pesquisados é muito pequena. Apenas 18% pagaram INSS, em algum momento, nos últimos dois anos. A ausência de cobertura previdenciária por parte da maioria aumenta as incertezas proporcionadas pela precariedade das condições de trabalho atuais.
Próximos passos
A pesquisa conclui que os trabalhadores entrevistados estão em sua maioria inseridos no mercado de trabalho, fazendo parte da economia da cidade em seus diversos setores (cadeia produtiva, comércio e serviços). A melhoria das condições locais não depende, portanto, de uma política de geração de empregos e sim de uma melhoria dos tipos de trabalho oferecidos na periferia.
Neste sentido, a Fundação Tide Setubal já inicia algumas ações. “Sabemos, por exemplo, que a construção civil é um mercado em expansão e que requer cada vez mais operários bem qualificados. Por isso, fizemos uma parceria com o curso de engenharia civil da Unicsul e vamos oferecer um curso de capacitação para operários da construção civil. Inicialmente, 12 pedreiros identificados entre os beneficiários do Ação Família irão participar e já terão mais chances no mercado de trabalho”, conta Vera Sconamiglio.
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Dados técnicos da pesquisa:
Supervisão: Luciano Onça
Coordenação: Eder Camargo
Equipe de campo: Gerson Pelegrino e Ana Paula Santana
Suporte técnico: Thiago Cantarim