Projeto Qualidade de Vida valoriza trabalho em equipe, saúde e meio ambiente
Projeto faz um ano atingindo seu objetivo de impulsionar o aprendizado pela interdisciplinaridade escolar. Docentes e ONGs criam espaços em suas rotinas para a vivência do bem-estar e crianças e adolescentes se engajam em ações práticas
O Projeto Qualidade de Vida, iniciado em janeiro de 2013 pela Fundação Tide Setubal, completou seu primeiro ano com o principal objetivo alcançado: impulsionar o aprendizado de crianças e adolescentes pela interdisciplinaridade escolar. Segundo Izabel Brunsizian, coordenadora do projeto, a execução demonstrou duas vertentes de interesse. “Diretores, professores e coordenadores pedagógicos buscaram criar espaços em suas rotinas para a vivência da qualidade de vida, algo pouco discutido; entre as crianças, foi visível o interesse pela ação prática, como a horta e a expedição.”
Participam do projeto a E.E. Prof. Pedro Moreira Matos, a Emef Almirante Pedro de Frontin e o CEU Três Pontes, em São Miguel Paulista. No ano, 53 alunos estiveram nas ações diretas. De forma indireta, foram beneficiados outros 500 alunos do Ensino Fundamental II, alunos dos professores diretamente envolvidos. A iniciativa contou ainda com a adesão de três diretoras e sete coordenadores pedagógicos, que foram às reuniões, oficinas e ações. Os encontros semanais desenvolveram as intervenções mais adequadas aos objetivos de cada escola, e foram formados três grupos, com estudantes do Ensino Fundamental II de 6º ao 8º ano.
“Cada grupo teve uma peculiaridade: o primeiro criou um projeto de cinema com alimentação saudável; o segundo implantou uma horta no ambiente escolar; o terceiro trabalhou com disciplina e participou de uma expedição urbana”, relata Izabel. Com essa dinâmica, ela conta que foi possível observar resultados positivos, como a vivência de desafios coletivos e o aprimoramento de lideranças. “Geralmente, há uma construção simbólica que faz com que acreditemos que a qualidade de vida está sempre em outro espaço e tempo: ‘quando me aposentar, quando estiver no campo’. Ao falarmos da qualidade de vida hoje e aqui, discutimos a possibilidade de recriarmos alguns hábitos e ritmos que nos trazem o bem-estar.”
Quinze ONGs de São Miguel e quatro da zona sul da capital também foram beneficiadas pelo projeto, por meio de parceria com o FICAS. Elas participaram do encontro Qualidade de Vida em Debate , realizado em outubro, em conjunto com os Institutos Alana e Estre. Além disso, receberam convite para usufruir das oficinas de esporte, alimentação ou consumo consciente. Dois meses depois, as ONGs já haviam desenvolvido atividades em suas instalações ou inserido as reflexões do encontro em seu planejamento para 2014.
Recriação de hábitos
Dentro do Qualidade de Vida, os professores realizaram a Semana Saudável, no CEU Três Pontes, também em outubro. A ideia havia surgido antes, no Encontro Qualidade de Vida em Debate. Os docentes estudaram a alimentação saudável e propuseram a execução de ações voltadas à saúde. Assim, em cada dia da semana, houve uma atividade — caminhada, piquenique saudável, parada da leitura e exibição de filmes.
Durante o ano, os beneficiados protagonizaram outros momentos práticos. Alunos do CEU Três Pontes, por exemplo, compartilharam a experiência gustativa de fazer um bolo, após visita ao Mercado de São Miguel, onde conheceram cheiros e sabores novos. Estudantes da E.E. Pedro Moreira Matos participaram de uma oficina de brinquedos, na qual criaram pássaros de papelão e um painel coletivo de exibição Houve, ainda, relatos de alunos que passaram a compartilhar frutas e de crianças que optaram por tomar refrigerantes apenas nos fins de semana, após terem aprendido sobre o baixo valor nutricional do produto.
A questão ambiental também teve espaço garantido. Na E.E. Pedro Moreira Matos, ela foi considerada como um apoio para o desenvolvimento do pensamento lógico dos alunos e para o estímulo ao exercício da convivência. Paralelamente, o CAA Vila Progresso, CEECCRA Ademir Almirante Lemos e Centro de Educação Popular N. Sra. Aparecida inseriram mudanças em suas práticas de separação de resíduos sólidos e de alimentação saudável, implantaram minhocário e horta em palha e descobriram novos esportes, como o trackball, o que favoreceu a convivência entre docentes e alunos.
Desafios 2014
Gabriela Arakaki, coordenadora de projetos da ONG 5 Elementos ‒ que executou duas oficinas na E.E. Pedro Moreira Matos ‒, afirma que o fator de mais destaque em 2013 foi o esforço de realizar ações a partir da realidade local e de acordo com as atividades escolares. “Tudo foi feito com os professores, usando a criatividade para envolver o grupo”, relata. “Chamou-me a atenção o fato de a turma escolhida para receber a oficina (um 8º ano) ser considerada ‘a mais difícil’. Isso já demonstra uma postura inclusiva, que busca quebrar com os paradigmas da escola tradicional em que se premiam os melhores alunos dentro de um modelo alheio à realidade local”.
De acordo com Izabel, o ano de 2013 permitiu a criação de um método de trabalho que apresenta para as instituições questões conjuntas de saúde, alimentação e ambiente dentro da escola. “Em 2014, buscaremos encontrar uma maneira de aprofundar a temática ambiental, trazendo-a mais para o cotidiano, ao mesmo em que incentivaremos o exercício corporal como proposta de saúde e de bem-estar”, conclui.