Projeto Re-Praça promove arte e reflexão em São Miguel
No último mês de setembro, a Fundação Tide Setubal e o Grupo Buraco d’Oráculo realizaram o projeto Re-Praça, que levou teatro de rua e reflexão para São Miguel.
No último mês de setembro, a Fundação Tide Setubal e o Grupo Buraco d’Oráculo promoveram, em São Miguel Paulista, o projeto Re-Praça. Todos os domingos, as ruas do CDC Tide Setubal e do Galpão de Cultura e Cidadania foram palco para espetáculos que abordam questões cotidianas da vida em comunidade.
“A parceria com o Buraco d’Oráculo surgiu a partir da busca por grupos da região que atuassem na área de artes e cultura e pretendessem desenvolver um diálogo com a comunidade local por meio das linguagens artísticas. A idéia era possibilitar uma compreensão da cultura como parte das atividades cotidianas, incorporando estes fazeres aos saberes do território e a ocupação da rua como espaço da vida social”, conta o coordenador de cultura da Fundação Tide Setubal, Tião Soares.
O Grupo Buraco d’Oráculo tem dez anos e foi criado com a idéia de discutir, por meio do teatro, o homem urbano contemporâneo e seus problemas. O trabalho é calcado em três pontos fundamentais: a rua, como espaço de promover o encontro direto com o público; a cultura popular, como fonte geradora de inspiração e motivação; e o cômico, destacando-se a farsa e as relações com o denominado “realismo grotesco”.
“Encontramos nas manifestações populares os elementos de expressão de nossa arte e, ao optar pelo uso do popular e da rua, fomos alvo de crítica. Nosso trabalho levou-nos ao encontro de um público diferente daquele que freqüenta as salas de espetáculos. Assim, começamos a desenvolvê-lo de forma descentralizada, buscando democratizar o acesso do fazer artístico. Desde 2002, atuamos em São Miguel Paulista, bairro da Zona Leste e São Paulo”, explica Edson Paulo de Souza, integrante e um dos fundadores do grupo.
Atuando sempre em parceria com pessoas e organizações locais, o grupo conheceu a Fundação Tide Setubal no início de 2007. “De imediato buscamos interagir com as atividades proposta pela Fundação, participando de algumas reuniões e encontros temáticos”, lembra Souza. No mesmo ano, aconteceu o primeiro trabalho em conjunto, para a realização da IV Mostra de Teatro de São Miguel, em dezembro. “O apoio da Fundação foi essencial para a Mostra, garantindo que os objetivos fossem atingidos. Diante desse bom resultado, procuramos Tião para juntos realizarmos parte do Re-Praça.”
Mesmo o projeto sendo realizado com recurso do Programa de Fomento para o Teatro da Secretaria de Cultura da Cidade de São Paulo, as parcerias com associações locais demonstram o verdadeiro diálogo com o local. “A contribuição da Fundação não foi somente com o grupo ou projeto, mas sim com a região, possibilitando o acesso ao fazer artístico”, afirma Souza.
Para Tião Soares, os resultados se dão tanto pela crescente participação da comunidade nas atividades como pela formação de um público mais crítico e consciente na utilização dos espaços públicos, desmistificando a idéia da ausência desses espaços na cidade. “Isso demonstra também que para desenvolver atividades culturais não necessariamente carecemos de templos como condição indispensável.”
Outro resultado surgiu a partir do Café Teatral, atividade realizada no Galpão de Cultura e Cidadania. Durante um café da tarde, os moradores do Jardim Lapenna puderam contar suas histórias de vida e do local, que servirão de material para outros espetáculos do grupo Buraco d’Oráculo. “É o alargamento da compreensão da cultura na vida das pessoas, ou seja, ao promover debates sobre histórias de vida e incluir essas histórias nos espetáculos, a atividade promove um sentido de pertença muito maior. Daí a possibilidade de apropriação e empoderamento dos chamados espaços públicos”, enaltece Tião Soares.
Para Souza, o café trouxe uma grande lição. “Não queremos refazer a história local e sim fazer um diálogo com aquilo que existe de mais importante em um povo: a sua identidade.”