Publicação do Irelgov analisa o panorama de relações governamentais e antirracismo
Com apoio da Fundação Tide Setubal, o paper ‘Relações Governamentais e Antirracismo: há estratégia ou apenas discurso?’ debate o papel da agenda da equidade racial na esfera pública
Qual é a dinâmica entre relações governamentais e antirracismo? Como o poder público incorpora a agenda da equidade racial na sua organização e na estrutura, abrangendo estratégias concretas, estruturas institucionais e práticas de advocacy nesse contexto?
Essas perguntas norteiam a realização da pesquisa Relações Governamentais e Antirracismo: há estratégia ou apenas discurso?. Com realização do Instituto de Relações Governamentais (Irelgov) e apoio de Fundação Tide Setubal, Nexa Políticas Públicas e do coletivo Pretas e Pretos em Relgov, a publicação oferece análise sobre o estágio desse debate na área das relações governamentais.
Vale destacar que o levantamento tem autoria de Dayana Morais da Cruz, especialista em Políticas Públicas e Diversidade. Dayana é também líder Sub-regional do Fórum Permanente de Afrodescendentes da Organização das Nações Unidas (ONU) e Senior Research Fellow no Irelgov.
Objetivos do paper
O levantamento Relações Governamentais e Antirracismo: há estratégia ou apenas discurso? propõe-se a examinar o grau de aplicação efetiva da agenda antirracista nas práticas da área de Relações Governamentais (RelGov). E, desse modo, questiona também se as iniciativas vigentes representam, de fato, compromissos estratégicos para além do discurso nesse mesmo contexto.
Ao recorrer a etapas como análise documental e entrevistas com profissionais e lideranças de Relações Governamentais para mapear percepções, iniciativas e barreiras sobre a pauta racial, os resultados identificados por meio do paper revelam que:
O predomínio ainda é do discurso sobre a prática: as ações antirracistas em RelGov concentram-se em campanhas institucionais e comunicações externas, raramente em estratégias políticas ou de engajamento junto ao poder público.
A saber, em âmbito metodológico, o estudo combinou um questionário aplicado a 50 empresas de diferentes setores e entrevistas com 10 lideranças da área. Nesse sentido, a pesquisa buscou mapear práticas, desafios e boas referências.
Qual é o cenário de relações governamentais e antirracismo?
A pesquisa Relações Governamentais e Antirracismo: há estratégia ou apenas discurso? traçou, para efeito de análise, o cenário vigente no segmento em questão. Para se ter uma ideia, 25,86% de profissionais que trabalham na área são negras e negros. Além disso, elas e eles estão, majoritariamente, em cargos de entrada – em trainee e estágio, por exemplo.
Ainda, ao considerar-se a esfera estrutural, a pauta da equidade racial, quando se fala em Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I), não é majoritária. Assim sendo, 36% das organizações que participaram do levantamento relataram não ter estrutura formal de DE&I. Ainda, 12% informaram ter iniciativas pontuais, sem formalização ou governança nítidas, ao passo que 24% relataram que a equidade racial está contemplada como uma das pautas que fazem parte de estruturas de DE&I mais amplas.
Contudo, há um ponto de destaque: segundo o mesmo levantamento, 28% das organizações desse mesmo segmento têm áreas ou comitês com foco específico em equidade racial. Dentro desse grupo, 32,1% das organizações informaram que a pauta não entra especificamente no campo de RelGov, ao passo que:
- 14,3% informaram que a equidade racial é pouco considerada;
- 7,1% avaliaram a integração como moderada;
- Outros 14,3% não souberam informar.
Todavia, mesmo que 10,7% considerem a pauta da equidade racial como muito presente e outras 21,4% das organizações a considerem totalmente integrada, o paper apresenta o seguinte diagnóstico:
Na prática, poucas empresas realmente priorizam a temática racial na sua agenda de RelGov, informando que esse é um tema que pode ser facilmente secundarizado ou retirado da agenda.
Ao considerar que houve avanços em programas de recrutamento, comunicação e participação em pactos intersetoriais, os resultados mostram, enfim, que o panorama ainda está distante da discussão racial. Logo, o levantamento considera que “institucionalizar a agenda racial em RelGov é um passo essencial para transformar compromissos públicos em práticas consistentes e sistêmicas”.
Para ler e inspirar-se
Por fim, baixe o paper Relações Governamentais e Antirracismo: há estratégia ou apenas discurso? no site do Irelgov.
Texto: Amauri Eugênio Jr.
