Rede Jovem Comunica propõe reflexão sobre educação e a cidade
Com a produção de fotonovelas, programas de rádio, poesia e até um simulado de eleição para prefeito, o núcleo estimulou a expressão e o protagonismo de jovens dos ensinos fundamental e médio
Pensar a cidade, estimular a comunicação e fazer os jovens refletirem sobre uma educação mais justa, num município sustentável: esses foram os princípios norteadores, em 2012, do projeto Rede Jovem Comunica, da Fundação Tide Setubal. Segundo o coordenador José Luiz Adeve, o objetivo era despertar a reflexão sobre a metrópole em estudantes dos ensinos fundamental e médio por meio do trabalho com comunicação. Para tanto, estimularam-se nos educandos a produção de fotonovelas, programas de rádio e até uma simulação de eleição municipal. Os professores receberam formação para utilizar a educomunicação em suas disciplinas, bem como para orientar os alunos a usar os equipamentos de rádio no intervalo das aulas.
Ao longo do ano, seis escolas se envolveram, com a participação de 110 alunos e 106 educadores: Sesi A.E. Carvalho, Centro Social Marista Irmão Justino, EE Reverendo Urbano de Oliveira Pinto, e as Emefs Antonio Carlos de Andradae Silva, Armando Cridey Righetti e José Honório Rodrigues. “Os totais de alunos e de educadores são próximos, porque, em algumas escolas, tivemos formações apenas para professores, uma tendência que deve se repetir em 2013, aumentando, consequentemente, o número de alunos beneficiados”, explica Adeve.
Os estudantes realizaram atividades em quatro fases: o corpo na geografia da cidade, o organismo da cidade, as curas para a cidade e a proposta para construir uma cidade. Na primeira etapa, o trabalho abrangia o ser humano no contexto da metrópole. A partir daí, foram desenvolvidas fotonovelas, retratando histórias dos locais de morada. Na segunda, seguiu-se o princípio de que a cidade depende de seus órgãos para sobreviver. Foi quando os alunos criaram poemas concretos para o jornal comunitário A Voz do Lapenna e produziram programas de rádio. Na terceira frente, identificaram-se remédios de que a cidade necessita diante de suas anomalias.
Na última etapa, as escolas montaram partidos políticos e, juntas, organizaram uma campanha eleitoral para prefeito e vice, encerrada com uma votação, no Galpão de Cultura e Cidadania do Jd. Lapenna. A eleição replicou um pleito de verdade, incluindo os debates, nos quais a regra era argumentar e não desconstruir a ideia do adversário. Entre as propostas, surgiram: melhoria da mobilidade urbana, ampliação da coleta de resíduos sólidos e adaptações no ambiente escolar — alunos poderem opinar sobre a merenda, necessidade de haver psicólogos nos estabelecimentos de ensino e segurança apta a lidar com jovens.
Outro resultado importante ocorrido em 2012, de acordo com o coordenador, foi a participação dos jovens das escolas na rádio de rua montada na feira do Jd. Lapenna, que levou para a comunidade discussões sobre o âmbito escolar. “Os estudantes passaram a participar ativamente, convidando formadores de opinião e pessoas do poder público para discutir educação, acesso à universidade e à saúde. Conseguimos conectar a escola a seu território. Foi um ano de entrelaçamento de sonhos, necessidades e vontade”, afirma o coordenador.
Planos para 2013
Em 2013, a temática da cidade permanecerá, mas de maneira mais específica. Cada escola trabalhará seu entorno, com a participação dos pais. Além disso, deve-se focar mais nos docentes, para que possam fazer uso dos equipamentos de rádio concedidos por meio do programa Nas Ondas do Rádio, da Secretaria Municipal de Educação. Também será dada assessoria ao Sesi e a outras organizações, de maneira que implantem a tecnologia social do Rede Jovem Comunica. “É que após o lançamento do livro Educomunicação em Movimento (leia mais aqui), outro destaque de 2012, aumentou muito o número de escolas que procuram a Fundação para adotar as práticas relatadas”, comemora o coordenador.
Leia, a seguir, depoimentos de participantes do Rede Jovem Comunica.
“Essa experiência propicia aos alunos ver a escola de forma diferente e a pensar mais em onde vivem. Num bairro com poucos recursos como o nosso, muitas vezes só o que se tem além da vida familiar é a escola. Então, usar câmeras digitais, computadores, fazer vídeos, rádio de rua gera grande envolvimento. Os alunos ficam mais críticos até quanto à própria escola.”
Fabiana Azevedo, 36 anos, professora de língua portuguesa do 9º ano da EE Reverendo Urbano de Oliveira Pinto
“Aprendi a mexer com mídias, a gente gravou programas de rádio, fez novela. Deu muito trabalho, mas conseguimos. Aprendemos muito sobre organização e como trabalhar junto. O que mais gostei foi de fazer rádio, porque colocávamos as músicas que queríamos, tínhamos liberdade para falar. Vou sentir saudades, porque vou mudar de escola.”
Ariane Carvalho de Lima, 14 anos, aluna do 9º ano da Emef José Honório Rodrigues