Analista de comunicação e produtor de conteúdo do site da Fundação Tide Setubal
Resgate da prática de luteria abre perspectiva de geração de renda
O Núcleo de Formação em Música e Luteria, que integra o Programa ArteCulturAção, uma iniciativa da Fundação Tide Setubal, oferece formação em construção de instrumentos desde o início deste ano no Galpão de Cultura e Cidadania. No primeiro semestre de 2010, foram ministrados dois módulos: construção de peças percussão (caixa do divino, alfaia, xequerê, chinelofone, […]
O Núcleo de Formação em Música e Luteria, que integra o Programa ArteCulturAção, uma iniciativa da Fundação Tide Setubal, oferece formação em construção de instrumentos desde o início deste ano no Galpão de Cultura e Cidadania. No primeiro semestre de 2010, foram ministrados dois módulos: construção de peças percussão (caixa do divino, alfaia, xequerê, chinelofone, cajon, surdo) e construção de rabeca. Participam da oficina jovens e integrantes de coletivos artísticos da zona leste, especialmente de São Miguel. A partir de agosto, o enfoque do curso de luteria será o violão.
Segundo Inácio Pereira dos Santos Neto, coordenador do ArteCulturAção, a iniciativa busca promover a manutenção e multiplicação dessa cultura de confecção artesanal de instrumentos, transmitindo a tradição de mestres da cultura popular e de luthiers para jovens de São Miguel. “Há também uma perspectiva de geração de renda a partir da venda e restauro de instrumentos”, explica.
Nas aulas, para reforçar o sentido de identidade e pertencimento, os educadores procuram resgatar a tradição dos mestres da cultura popular e também estimular o diálogo desta cultura com o dia-a-dia dos jovens. “Não é construir o instrumento pelo instrumento. Incentivo que perguntem aos pais e aos avôs (muitos são nordestinos e sertanistas) sobre as festas populares em que esses instrumentos aparecem”, conta Alex Macedo, luthier e educador de construção de percussão.
Respeito à diversidade
“O que aprendi aqui foi não só tocar e construir instrumentos, mas como respeitar outras culturas”, destaca Fabiano Magalhães, 19 anos, que participa há quatro anos do Núcleo de Música e Luteria. “Eu acabei com muitos preconceitos meus. Antes julgava tudo como macumba”, relata Wesley Soares, 18 anos, desde 2007 no Núcleo. Os dois jovens começaram a freqüentar as aulas de percussão, passaram para a construção e agora são educadores-aprendizes desse projeto, ao lado de Renato Oliveira, 21 anos, e de Esdras Santos, 21 anos.
Além de ministrarem aulas de ritmos para as crianças, eles colaboram com o funcionamento do ateliê de luteria, que funciona por 40 horas semanais. Para aprimorarem o que aprenderam e conhecerem novas técnicas de construção, os educadores-aprendizes participam também dos módulos. “Há toda uma magia em transformar o material bruto (madeira, pele) em um instrumento. Está tudo desmontado, e você dá vida às peças”, ressalta Fabiano. Já Renato comenta da evolução da qualidade dos instrumentos. “Comparamos as peças novas com as antigas e notamos a melhora, por exemplo, no acabamento das novas”.
Geração de renda
Os quatro jovens luthiers já recebem encomendas de instrumentos. Estão confeccionando seis peças (3 caixas, 2 alfaias e 1 cajon) para uma loja da região de Pinheiros, na zona oeste da capital paulista. “É uma possibilidade real de começar a ter renda. Podemos vender cada instrumento numa faixa de R$ 400. É uma perspectiva bacana, basta a gente querer e ir firme”, destaca Renato.
O luthier Fábio Vanini, educador de construção de rabeca e violão no Núcleo, lembra que é preciso ter espírito empreendedor neste mercado e saber criar oportunidades de venda. “Quem faz o mercado é o construtor”, ressalta. Para isso, recomenda que os futuros luthiers tenham uma formação bem completa, não se contentando em saber confeccionar um único instrumento. Ao ampliar o leque de peças, segundo ele, o luthier também eleva suas chances de inserção neste mercado.
Para que possam desenvolver o espírito empreendedor e transformar o aprendizado em um negócio rentável, os quatro educadores-aprendizes foram incentivados pelo Núcleo a participarem de oficinas do Sebrae. Com as aulas de empreendedorismo, Esdras conta que já mudou sua concepção sobre negócio: anteriormente, acreditava que, para começar o empreendimento, bastava ter um recurso para o investimento inicial, e agora sabe que também é preciso fazer uma pesquisa de mercado para conhecer os concorrentes. Descobriu ainda a importância de planejar bem todas as etapas da produção, calculando o custo do produto e o lucro.
Disseminação da prática
Além da oferta de formação em luteria e apoio a grupos produtivos locais neste segmento, a Fundação Tide Setubal também desenvolve parcerias para multiplicar os conhecimentos em luteria e música na região de São Miguel Paulista. Um exemplo é a concessão do espaço do ateliê de luteria para uso pelo projeto Nação São Miguel, aprovado pelo VAI (Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais), da Prefeitura de São Paulo. Destinado à faixa etária dos 12 aos 25, ele promoverá oficinas culturais e apresentações de cortejos de maracatu nas feiras livres do bairro.
“Aos sábados, no ateliê do Galpão, vamos ensinar a garotada a construir instrumentos utilizados no maracatu”, comenta Wagner Ufracker, conhecido como Zé da Lua, idealizador do projeto. Para conduzir melhor o Nação São Miguel, Zé resolveu participar da oficina de rabeca no primeiro semestre de 2010. “Aprendi muito e construí minha própria rabeca. Quero colocar o instrumento nos shows do Vigna Vulgaris, minha banda de maracatu”, relata.
Saiba sobre os novos módulos de formação do Núcleo de Música e Luteria, clicando aqui.