Resultado final do Matchfunding Enfrente mostra números que impressionam
Por Daniel Cerqueira O ano é 2020. O mês? Março. O Brasil, assim como o resto do planeta, foi atingido pela pandemia de Covid-19 e viu as suas estruturas econômicas e sociais terem de alterar as suas rotas para se adequarem à nova realidade e para atuar na contenção do vírus, seguindo as orientações […]
O ano é 2020. O mês? Março. O Brasil, assim como o resto do planeta, foi atingido pela pandemia de Covid-19 e viu as suas estruturas econômicas e sociais terem de alterar as suas rotas para se adequarem à nova realidade e para atuar na contenção do vírus, seguindo as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS). As atividades e projetos da Fundação Tide Setubal foram também replanejadas sob esta ótica.
Lançado em 2019 em parceria com a plataforma Benfeitoria, o Matchfunding Enfrente tinha como principal objetivo contemplar variadas formas de projetos que buscassem combater as desigualdades nas periferias urbanas de todo o país por meio de uma vaquinha turbinada onde um Fundo triplicaria cada real doado por pessoas físicas. A partir de março, o edital sofreu uma alteração e os projetos selecionados deveriam estar relacionados à crise de saúde que o Brasil começava a viver.
Não foram poucas as propostas apresentadas ao longo dos últimos meses. Dados do último dia 15 de junho apontavam para a inscrição de 740 delas. Após nove curadorias semanais, 290 projetos foram selecionados, sendo que 265 foram publicados na plataforma para captar doações. Wagner Silva (Guiné), coordenador de Fomento da Fundação Tide Setubal, conta que: “As periferias têm demonstrado, por meio dessas iniciativas, toda a sua potência, criatividade, organização e solidariedade, através da capacidade de articulação e logística até então desconhecida por quem não vive nesses territórios.”
Guiné ressalta a capacidade de populações em periferias urbanas para superar adversidades. “Mesmo diante das adversidades e da negligência histórica dos governos e do enorme desafio que as desigualdades impõem, os territórios periféricos, assim como em outros momentos, seguem articulados, inovando e abertos à construção coletiva com diferentes setores, apresentando caminhos e soluções por meio da sua potência, inventividade e inteligência periférica com propósito”.
Captação acima da média
O recurso arrecadado pelas organizações periféricas do Brasil veio de duas fontes que trabalharam juntas. De um lado, a mobilização nas redes gerou captação direta na plataforma Benfeitoria de, até 19 de junho, R$ 2.127.485. Já o Fundo Enfrente, composto pela Fundação Tide Setubal, Itaú Social, Instituto Galo da Manhã, Fundação José Luiz Egydio Setúbal, Fundação FEAC, Fundação Arymax, Instituto Humanize, Instituto GPA, Instituto Arapyaú e Benfeitoria, distribuiu R$ 3.965.902,00, que, somados à captação direta, distribuiu R$ 6.348.387 para o combate às desigualdades periféricas.
Yasmin Youssef, coordenadora dos programas de matchfunding da Benfeitoria, relata que o balanço final impressiona não só pelos números. “Foi interessante ver que o Enfrente serviu para apresentar a ideia da vaquinha virtual para as periferias como uma ferramenta potente para captar e tirar projetos do papel. Estas regiões têm, em geral, pouco acesso a opções de financiamento”.
“No mais, os números nessa reta final também trazem dados positivos e inesperados. “A quantidade de inscritos é muito acima das nossas experiências com matchfunding. A média de campanhas que atingem 100% de captação via financiamento coletivo no Brasil é de 20%. No Enfrente temos até agora 80% dos projetos conseguindo a arrecadação máxima”, complementa Yasmin.”
Vale também destacar que foram aprovados projetos em todos os estados da federação, exceto Amapá. sendo que 139 contemplaram a distribuição de donativos como cesta básica, materiais de proteção e outros, 83 buscaram a sustentabilidade de micro e pequenos empreendimentos periféricos, 32 realizaram campanhas de conscientização e 36 preocuparam-se com os cuidados com a saúde física e emocional das populações envolvidas.
Efeitos da pandemia num país desigual
Pesquisa lançada também em 15 de junho pelo Medida SP mostra que 66% das mortes de Covid-19 na grande São Paulo são de pessoas que viviam em bairros com salários médios abaixo de R$ 3 mil e 21% em locais com renda de até R$ 6.500.
Por isso, a mobilização da sociedade civil para o enfrentamento deste problema nos territórios periféricos está longe de acabar. Alguns projetos ainda estão disponíveis em benfeitoria.com/enfrente para receber doações.