Analista de comunicação e produtor de conteúdo do site da Fundação Tide Setubal
Sociedade da comunicação
Qual papel a comunicação tem para mobilizar as juventudes e no combate ao radicalismo e à desinformação em âmbito político?
Esta é a quinta de uma série de reportagens especiais sobre juventudes e democracia. Confira as demais reportagens na seção de notícias do nosso site.
Os desafios para fortalecer o tecido democrático são grandes, mas estão ao lado da esperança para reconstruir uma sociedade pautada pelo diálogo e consensos entre diferentes. Claro, com a democracia como denominador comum.
As juventudes têm papel estratégico e central neste processo. Isso começa pelo fato de que elas são o presente quando se fala em reconstrução política e democrática. Para tanto, um passo fundamental no engajamento de jovens no processo político passa pela comunicação.
Paloma Pereira, 21, pedagoga, acredita que o processo de comunicação com as juventudes está relacionado ao processo educacional. Esse ponto veio à tona porque, para a jovem, abrange diálogo e informações, assim como intercâmbios de ideias e soluções para problemas territoriais.
“A internet pode dar espaço de fala a pessoas que não os tinham e servir como espaço de denúncias e desabafos. Mas as redes são ao mesmo tempo a solução e o problema, pois podem dessensibilizar o cuidado necessário com as pessoas envolvidas. A participação cada vez maior de jovens nessas lutas torna-os engajados e envolvidos com causas sociais – elas/es têm o entusiasmo e força natural da juventude, que são importantes nessas lutas”, considera.
Por sua vez, Caio Santos, 29, fundador da Griô Podcasts, considera que um plano de comunicação de longo prazo é mandatório para haver avanços no debate público. A saber, em especial para combater a dominância nas redes sociais e em meios de comunicação por parte de atores da extrema-direita.
“A estética deles é de mensagem clara, rápida e que catalisa facilmente as emoções das pessoas. É necessário entender esse fenômeno e buscar por saídas para ele. Fortalecer um ecossistema de comunicação progressista ajudaria bastante, pois há grandes criadoras/es de conteúdo que poderiam, com as devidas ferramentas, auxiliar muitas pessoas”, destaca Caio.
As perspectivas de ambos dialogam com a de Wesley Xavier, 27, integrante do coletivo Cinequebrada Produções. Para ele, a democratização comunicacional possibilita o surgimento de novas narrativas positivas para as periferias, possibilitando novas conexões.”Não vemos mais apenas favelados em jornais sensacionalistas. A ponte é construída quando percebemos ser possível caminhar e encontrar novos horizontes. É importante perceber que há outros caminhos, pois são eles que dão energia e vontade de construir pontes para caminhar.”
+ Confira a série de reportagens sobre juventudes e democracia
Sobre narrativas e consensos
Amanda Costa, 26, diretora-executiva do Instituto Perifa Sustentável, considera fundamental a valorização de narrativas protagonizadas pelas juventudes das periferias – e com perspectiva antirracista – para a busca por soluções feitas por e para cidadãs/ãos desses territórios. “Pautar temas como política do bem-viver, do bom, belo e justo, a partir da perspectiva decolonial, antirracista, periférica e diversa consiste em oferecermos uma solução e possibilidade de caminho que antes nem era pautada.”
Além disso, falar sobre a relação entre juventudes e territórios passa pela perspectiva religiosa, em especial nas esferas pentecostal e neopentecostal. Luciana Petersen, 25, coordenadora de comunicação do projeto Novas Narrativas Evangélicas, aponta o papel da religião na formação de indivíduos, no modo como eles se unem para crescimento comunitário e superação de desafios e dores com origem em raça e território.
“Algumas pessoas desistem da luta política por acharem que não é algo a ser buscado neste plano, pois o que verdadeiramente importa estaria no céu ou em algum plano superior. Mas as boas novas produzidas pelas experiências religiosas também devem considerar o bem-viver neste plano e para toda a comunidade, assim como a busca por direitos como um ato de amor ao próximo. Ou seja, amar o próximo é um ato político”, pondera a jovem.
Texto: Amauri Eugênio Jr. / Foto: Lara Jameson / Pexels