Quando Luana* entrou em sua nova casa, construída por meio do projeto +Lapena Habitar, não conseguiu conter as lágrimas. Após anos vivendo em um barraco de madeira suspenso sobre o esgoto, sem janelas ou privada, ela finalmente tinha chuveiro, pia e espaço digno para criar seus filhos. “Agora meus filhos podem escovar os dentes em uma pia. Eles tomam banho de chuveiro. Parece um sonho”, diz ela, emocionada.
A família de Luana, do Jardim Lapena, na zona leste de São Paulo, é uma das que receberam moradias emergenciais por meio do projeto +Lapena Habitar. A ação consiste em uma iniciativa da Fundação Tide Setubal em parceria com a Citi Foundation, TETO Brasil e Gerando Falcões. O bairro, como um microcosmo da cidade, tem também suas desigualdades. Ao mesmo tempo em que promove cultura, empregabilidade, se requalifica e tem lideranças comunitárias que fazem a diferença, tem também famílias em extrema vulnerabilidade social que precisam dessas ações.
Uma das frentes de ação do projeto +Lapena Habitar é substituir habitações em condições complexas para o uso por “moradias resilientes”. Além disso, a iniciativa visa oferecer um plano de acompanhamento social para romper ciclos de pobreza. Laís Duanne, gerente de Operações da TETO Brasil, destaca a essência do projeto: “Não construímos apenas casas, mas possibilidades de futuro. Enquanto erguemos a materialidade, co-construímos força para os sonhos e vontade de superar desafios.”
Até agora, 33 das 51 casas previstas já foram construídas – a saber, uma a mais do que o inicialmente planejado, graças a uma doação extra. No próximo 2 de agosto, um novo mutirão reunirá pessoas voluntárias e moradoras para finalizar mais 18 unidades, com cerimônias de entrega marcadas para esse dia e o seguinte (2 e 3). A concentração será no Galpão ZL, núcleo de Prática de Desenvolvimento Local da Fundação Tide Setubal.
O projeto +Lapena Habitar não se limita à construção de moradias. Desse modo, é uma jornada de dois anos que inclui:
“Não foram só casas que foram levantadas: foram muros emocionais derrubados”, afirma Vânia Silva, analista de Programas e Projetos da Fundação Tide Setubal. “Famílias que viviam em situação complicada, desesperançadas, hoje têm orgulho do lugar onde moram.”
O processo de construção tem fortalecido, então, vínculos entre moradores, voluntários e equipe técnica. Aryadne Meira Fernandes, Coordenadora de Acompanhamento Comunitário da TETO Brasil, compartilha:
“Desde a primeira construção como coordenadora, estreitamos laços profundos com lideranças e moradores. Hoje, o processo flui com leveza e envolvimento coletivo – cada desafio no terreno difícil do Lapena nos fez evoluir métodos construtivos e conexões. É emocionante ver tantas famílias contempladas numa mesma comunidade”
Pessoas participantes durante as construções das residências do projeto +Lapena Habitar (Foto: TETO Brasil)
Além das transformações individuais, o projeto já traz mudanças coletivas:
O mutirão de 2 de agosto será crucial para avançar nas entregas. Enquanto isso, as 350 famílias inscritas no programa de acompanhamento – incluindo aquelas que receberão casas – já começaram o diagnóstico socioeconômico, que definirá metas personalizadas em áreas como:
“O mais importante é que essas famílias se sintam dignas de direitos”, reforça Fabiana Tock, coordenadora do Programa Cidades e Desenvolvimento Urbano da Fundação Tide Setubal,. “Muitas nunca haviam entrado no Galpão ZL antes. Agora, estão lá, participando, opinando. Isso é transformação real.”
O projeto +Lapena Habitar faz parte de uma estratégia maior da Fundação Tide Setubal para requalificar territórios periféricos. Nesse sentido, essa premissa inspira-se em experiências como a de Medellín (Colômbia). O programa busca:
Para Laís Duanne, o projeto no Jardim Lapena mostra que “não se constroem apenas casas, mas possibilidades de futuro”. E, como resume Vânia Silva, enfim, “devolver a esperança é o maior legado.”
*Nome alterado para preservar a identidade da entrevistada.
Por Daniel Ciasca
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